JESUS CHAMA OUTRAS PESSOAS
PARA ESTAR COM ELE E IR EM MISSÃO
1. As pessoas chamadas por Jesus
Os doze apóstolos e as outras pessoas, homens e mulheres,
rapazes e moças, que seguiam a Jesus, eram pessoas comuns. Tinham suas virtudes
e seus defeitos. Os evangelhos informam muito pouco sobre o jeito e o caráter
de cada um e cada uma. Mas o pouco que informam é motivo de consolo para nós.
Eis o que se pode afirmar a respeito de algumas destas pessoas chamadas por
Jesus:
* Pedro: Pessoa generosa e entusiasta (Mc
14,29.31; Mt 14,28-29), mas na hora do perigo e da decisão, o seu coração
encolhia e voltava atrás (Mt 14,30; Mc 14,66-72). Jesus rezou por ele (Lc 22,31).
* Tiago e João: Dois irmãos. Estavam dispostos a
sofrer com Jesus (Mc 10,39), mas eram violentos (Lc 9,54). Jesus os chamou filhos do trovão (Mc 3,17). João pensava ter o
monopólio de Jesus. Jesus o corrigiu (Mc 9,38-40
* Filipe: Tinha jeito para colocar os
outros em contato com Jesus (Jo 1,45-46), mas não era muito prático em resolver
os problemas (Jo 6,5-7; 12,20-22). Parecia um pouco ingênuo. Jesus chegou a
perder a paciência com ele: “Filipe, tanto tempo que estou com vocês, e você
ainda não me conhece?” (Jo 14,8-9)
* André: Pessoa prática. Foi ele que
encontrou o menino com cinco pães e dois peixes (Jo 6,8-9). É a ele que Filipe
se dirige para resolver o caso dos gregos que queriam ver a Jesus (Jo
12,20-22), e é André que chama Pedro para encontrar-se com Jesus (Jo 1,40-43).
* Tomé: Com teimosia sustentou sua
opinião, uma semana inteira, contra o testemunho de todos os outros (Jo
20,24-25). É que o Jesus ressuscitado em que Tomé acreditava, tinha de ser o mesmo Jesus
que fora crucificado e que carregava os sinais da tortura no corpo (Jo
20,26-28).
* Natanael: Era bairrista e não podia
admitir que algo de bom pudesse vir de Nazaré (Jo 1,46). Mas quando Jesus o
esclarece, ele se entrega (Jo 1,49). Este Natanael aparece só no evangelho de
João. Alguns o identificam com o Bartolomeu que aparece na lista do evangelho
de Marcos (Mc 3,18).
* Mateus: Era um publicano, pessoa
excluída pela religião dos judeus (Mt 9,9). Sabemos muito pouco da vida dele.
No evangelho de Marcos e de Lucas ele é chamado Levi (Mc 2,14; Lc 5,27). O nome Mateus significa Dom de Deus. Os excluídos são
"mateus" (dom de Deus), para a comunidade.
* Simão: Era um zelote (Mc 3,18). Dele só
sabemos o nome e o apelido. Nada mais. Ele era zelote, isto é, fazia parte do
movimento popular que na época se opunha à dominação romana.
* Judas: Guardava o dinheiro do grupo (Jo
12,6; 13,29). Tornou-se o traidor de Jesus (Jo 13,26-27). Setenta anos depois
da traição, no fim do primeiro século, o autor do quarto evangelho ainda tem
raiva dele e o chama de "ladrão" (Jo 12,4-6).
* Nicodemos: Era membro do Sinédrio, o
Supremo Tribunal da época. Homem importante. Ele aceita a mensagem de Jesus,
mas não tem coragem de manifestá-lo publicamente (Jo 3,1). Junto com José de
Arimatéia cuidou da sepultura de Jesus (Jo 19,39)
* Joana e Susana: Joana era a esposa de Cusa,
procurador de Herodes, que governava a Galiléia. As duas faziam parte do grupo
de mulheres que seguiam a Jesus, o serviam com seus bens e subiam com ele até
Jerusalém (Mc 15,40-41; Lc 8,2-3).
* Maria Madalena: era nascida da cidade de
Magdala. Daí o nome Maria Ma(g)dalena.
Jesus a curou de uma doença (Lc 8,2). Ela o seguiu até ao pé da Cruz (Mc
15,40). Depois da páscoa, foi ela que recebeu de Jesus a ordenação de anunciar
aos outros a Boa Nova da Ressurreição (Jo 20,17; Mt 28,10).
A maior parte dos que seguem Jesus para formar comunidade com ele
eram pessoas simples, sem muita instrução (At 4,13; Jo 7,15). Entre eles havia
homens e mulheres, pais e mães de família (Lc 8,2-3; Mc 15,40s). Alguns eram
pescadores (Mc 1,16.19). Outros, artesãos e agricultores. Mateus era publicano
(Mt 9,9). Simão, do movimento popular zelote (Mc 3,18). É possível que alguns
tenham sido do grupo dos revoltosos,
pois carregavam armas e tinham atitudes violentas (Mt 26,51; Lc 9,54;
22,49-51). Outros ainda tinham sido curados por Jesus de doenças (Lc 8,2).
Havia também alguns mais ricos: Joana (Lc 8,3), Nicodemos
(Jo 3,1-2), José de Arimatéia (Jo 19,38), Zaqueu (Lc 19,5-10) e outros. Estes
sentiram na carne o que quer dizer romper com o sistema e aderir a Jesus.
Nicodemos, ao defender Jesus no tribunal, foi vaiado (Jo 7,50-52). José de
Arimatéia, ao pedir o corpo de Jesus, correu o risco de ser acusado como
inimigo dos romanos e dos judeus (Mc 15,42-45; Lc 23,50-52). Zaqueu devolveu
quatro vezes o que roubou e deu a metade de seus bens aos pobres (Lc 19,8).
Todos eles, tanto os pobres como os poucos ricos, podiam dizer com Pedro:
"Nós deixamos tudo e te seguimos!" (Mt 19,27). Todos eles tiveram que
fazer a "mudança de vida", a "conversão" que Jesus pedia
(Mc 1,15).
Jesus passou uma noite inteira em oração antes de fazer a
escolha definitiva dos doze apóstolos (Lc 6,12-16). Rezou para saber a quem
escolher. E escolheu as pessoas cujos retratos, conservados nos evangelhos,
acabamos de olhar. É com este grupo que Jesus começou a maior revolução da
história do Ocidente! Não escolheu a elite, não escolheu gente formada e
estudada, de altas qualidades. Escolheu pessoas comuns que se sentiam atraídas
pela mensagem de vida que ele trazia. Um consolo para nós! Muito obrigado!
2. O chamado (vocação) e o seu duplo objetivo
2.1.O chamado: “Vem e segue-me!”
A vocação não é coisa de um só momento, mas é feita de
repetidos chamados e convites, de avanços e recuos. Começa à beira do lago (Mc
1,16), e só termina depois da ressurreição (Mt 28,18-20; Jo 20, 21). Começa na
Galiléia (Mc 1,14-17) e, no fim, após um longo processo, recomeça na mesma
Galiléia (Mc 14,28; 16,7), também à beira do lago (Jo 21,4-17). Recomeça
sempre! Na prática, o chamado coincide com a convivência dos três anos com
Jesus, desde o batismo de João até o momento em que Jesus foi levado ao céu (At 1,21-22).
A maneira de Jesus chamar as pessoas é simples e bem
variada. Às vezes, é o próprio Jesus que toma a iniciativa. Ele passa, olha e
chama (Mc 1,16-20). Outras vezes, são os discípulos que convidam parentes e
amigos (Jo 1,40-42.45-46) ou é João Batista que o aponta como o “Cordeiro de
Deus” (Jo 1,35-39). Outras vezes ainda, é a própria pessoa que se apresenta e
pede para segui-lo (Lc 9,57-58.61-62). A maior parte dos que são chamados já
conhece a Jesus. Eles já tiveram alguma convivência com ele. Tiveram a
oportunidade de vê-lo ajudar as pessoas ou de escutá-lo na sinagoga da
comunidade (Jo 1,39; Lc 5,1-11). Sabem como Jesus vive e o que ele pensa.
O chamado é gratuito; não custa. Mas acolher a vocação
exige decisão e compromisso. Jesus não esconde as exigências. Quem quer
segui-lo deve saber o que está fazendo: deve mudar de vida e crer na Boa Nova
(Mc 1,15); deve estar disposto a abandonar tudo e assumir com ele uma vida
pobre e itinerante. Quem não estiver disposto a fazer tudo isto, "não pode
ser meu discípulo" (Lc 14,33). O peso, porém, não está na renúncia, mas
sim no amor que dá sentido à renúncia (Jo 21,15-17). É por amor a Jesus (Lc
9,24) e ao Evangelho (Mc 8,35) que o discípulo ou a discípula renuncia a si
mesmo e carrega sua cruz, todos os dias, para seguí-lo (Mt 10,37-39; 16,24-26;
19,27-29).
O chamado é como um novo começo! É como nascer de novo (Jo
3,3-8). Quem aceita o chamado, deve “deixar que os mortos enterrem seus
mortos”(Lc 9,60). Deve seguir em frente e não olhar para trás (Lc 9,62). O
chamado é um tesouro escondido, uma pedra preciosa. Por causa dele, a pessoa
abandona tudo, segue Jesus (Mt 13,44-46) e entra na nova família, na nova
comunidade (Mc 3,31-35).
2.2.O duplo objetivo da vocação: comunidade e missão
Desde o começo, o objetivo é duplo. Seguir Jesus significa:
(1) estar com ele, formar comunidade com ele (Mc 1,17; 10,21); (2) ir em
missão, ser pescador de homens" (Mc 1,17; Lc 5,10).
Depois de um tempo de convivência, Jesus renova o chamado.
Marcos diz: "Jesus subiu
a montanha e chamou a si os que ele queria, e eles foram até ele. E constituiu
os Doze para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar e terem autoridade
para expulsar os demônios" (Mc
3,13-15). Este novo chamado continua tendo o mesmo duplo objetivo: (1)
"ficar com ele", isto é, formar uma comunidade estável ao redor dele;
(2) “ir pregar e expulsar os demônios", isto é, andar em missão de um
lugar para outro. Os dois objetivos fazem parte da mesma vocação, do mesmo
chamado. Um não exclui o outro. Eles se completam. Um sem o outro, não se
realiza.
"Seguir" era o termo que se usava naquele tempo para indicar o
relacionamento entre o discípulo e seu mestre. O discípulo "segue" o
mestre e se forma na convivência com ele. Como os rabinos (mestres) da época,
Jesus reúne discípulos para formar comunidade com eles. O relacionamento Mestre
x Discípulo é diferente do relacionamento Professor x Aluno. O aluno assiste às
aulas do professor sobre uma determinada matéria, mas não convive com ele. O
discípulo convive com o mestre, vinte e quatro horas por dia. Ser mestre, como
Jesus, já aos 30 anos de idade é sinal de muita maturidade e equilíbrio. Ter
sempre doze pessoas perto! Sempre! De vez em quando, Jesus não agüenta mais e
perde a paciência (Mc 9,19) ou sai para ficar a sós (Mc 6,46).
Seguir Jesus significava:
* Imitar o exemplo do Mestre: Jesus era o modelo a ser recriado
na vida do discípulo ou da discípula (Jo 13,13-15). A convivência diária
permitia um confronto constante. Nesta "Escola de Jesus" só se
ensinava uma única matéria: o Reino! E este Reino se reconhecia na vida e na
prática de Jesus
* Participar do destino do Mestre: Quem seguia Jesus devia comprometer-se com ele e
"estar com ele nas tentações" (Lc 22,28), inclusive na perseguição
(Jo 15,20; Mt 10,24-25). Devia estar disposto a carregar a cruz e a morrer com
ele (Mc 8,34-35; Jo 11,16).
* Ter a vida de Jesus dentro de si: Depois da Páscoa, acrescentou-se
uma terceira dimensão: identificar-se com Jesus, vivo na comunidade. Os
primeiros cristãos procuravam refazer a mesma caminhada de Jesus que tinha
morrido em defesa da vida e foi ressuscitado pelo poder de Deus (Fl 3,10-11).
Trata-se da dimensão mística do seguimento de Jesus, fruto da ação do Espírito:
"Vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim"(Gl 2,20).
3. A comunidade:
lugar onde se guarda e se cultiva a vocação
3.1.A convivência comunitária: viveiro da vocação
Todos eles "seguem Jesus", formando grupos
concêntricos em torno a ele. Um núcleo menor de doze (Mc 3,14), como as doze
tribos de Israel (Mt 19,28). Uma comunidade mais ampla de homens e mulheres (Lc
8,1-3). Um grupo maior de setenta e dois (Lc 10,1). As multidões que se reúnem
ao redor de Jesus para ouvir a sua mensagem. Dentro do núcleo dos doze, de
acordo com a finalidade do momento, Jesus forma grupos menores. Por exemplo,
chama Pedro, Tiago e João para momentos de oração (Mt 26,37s; Lc 9,28).
Como todos os grupos de discípulos daquela época, assim
também o grupo que "segue Jesus" tinha o seu ritmo de vida: diário,
semanal, anual:
1. O ritmo
diário na família, na comunidade: O povo rezava três vezes ao dia: de
manhã, ao meio dia e à noite. Eram os três momentos em que se oferecia o
sacrifício no Templo. Assim, a nação inteira se unia diante de Deus. Eram
orações tiradas da Bíblia ou inspiradas pela Bíblia que marcavam o ritmo diário
da vida de Jesus e da sua comunidade ao longo dos três anos da formação.
2. O ritmo
semanal na sinagoga: Um escrito antigo da Tradição
Judaica, chamado Pirquê Abot (palavras dos pais), dizia: “O
mundo repousa sobre três colunas: a Lei,
o Culto e o Amor”.
Era o que eles faziam todos os Sábados. Mesmo durante as viagens missionárias,
Jesus e os discípulos tinham o "costume" de, aos sábados, se reunirem
com o povo na sinagoga para ouvir as leituras da Bíblia (Lei), para
rezar e louvar a Deus (Culto), e para discutir as coisas da vida da
comunidade e descobrir como ajudar as pessoas necessitadas (Amor) (Lc
4,16.44; Mc 1,39).
3. O ritmo
anual no Templo: Era baseado no ano litúrgico com
suas festas. Cada ano, o povo tinha que fazer três romarias a Jerusalém para
visitar a Deus no seu Templo (Ex 23,14-17). Jesus e os discípulos participavam
das romarias e visitavam o Templo de Jerusalém nas grandes festas (Jo 2,13;
5,1; 7,14; 10,22; 11,55).
Criava-se assim um ambiente familiar e comunitário,
impregnado pela leitura orante da Palavra de Deus, em que Jesus convivia com os discípulos e as
discípulas. Foi nesta "convivência" de três anos com Jesus, que os
discípulos e as discípulas receberam a sua formação. Em que consistia esta
formação? A formação do "seguimento de Jesus" não era, em primeiro
lugar, a transmissão de verdades a serem decoradas, mas era a comunicação da nova
experiência de Deus e da vida que irradiava de Jesus para os discípulos e as discípulas. A
própria comunidade que se formava ao redor de Jesus era a expressão desta nova
experiência de Deus e da vida. A formação levava as pessoas a terem outros
olhos, outras atitudes. Fazia nascer nelas uma nova consciência a respeito da
missão e a respeito de si mesmas. Fazia com que colocassem os pés do lado dos
excluídos. Produzia aos poucos a "conversão" como conseqüência da
aceitação da Boa Nova (Mc 1,15).
3.2.A missão: manifestação da vocação, amostra grátis do Reino
A missão não é uma tarefa que a comunidade pode executar,
terminar e, depois, ficar livre dela. A missão é a natureza mesma da
comunidade. A comunidade cristã ou é missionária ou não é comunidade cristã. A raiz da Missão é a
nova experiência de Deus como Abba,
Pai. Se Deus é Pai e Mãe, então todos devemos conviver como irmãos e irmãs. Mas
a situação em que se encontrava o povo no tempo de Jesus era o contrário da
fraternidade que Deus sonhou para todos! Diante desta situação, Jesus não se
manteve neutro. Pelo contrário! Motivado pela sua experiência de Deus, tomou
posição em defesa da vida do povo e definiu sua missão e vocação da seguinte
maneira:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu
para anunciar a Boa Nova aos pobres, enviou-me para proclamar a libertação aos
presos, a recuperação da vista aos cegos, restituir a liberdade aos oprimidos
e proclamar um ano de graça da parte do Senhor” (Lc 4,18-19).
A missão que a comunidade dos discípulos e discípulas
recebe de Jesus é a mesma que ele recebeu do Pai: "Como o Pai me enviou
assim envio vocês" (Jo 20,21). Jesus é o eixo, o centro, o modelo, a
referencia da comunidade. Ele é o "caminho, a verdade e a vida" (Jo
14,6). Pelas suas atitudes, ele é uma amostra do Reino: encarna e revela o amor
de Deus (Mc 6,31; Mt 10,30; Lc 15,11-32). A plataforma de onde se parte para a
Missão é a comunidade, que vive a nova fraternidade. A Comunidade deve ser como
o rosto de Deus, transformado em Boa Nova para o povo.
O que significa isto no concreto? Toda nova experiência de
Deus, quando verdadeira, traz mudanças profundas na
convivência humana. Eis algumas das mudanças que foram aparecendo na comunidade
que se formou ao redor de Jesus e que caracterizam a formação recebida pelos
discípulos e pelas discípulas ao longo dos três anos de convivência:
1. Todos
irmãos: Ninguém deve
aceitar o título de mestre, nem de pai, nem de guia, pois "um só é o
mestre de vocês e todos vocês são irmãos" (Mt 23,8-10). A base da
comunidade cristã não é o saber, nem o poder, nem a hierarquia, mas sim a
igualdade de todos como irmãos. É a irmandade de todos ao redor do mesmo
ideal.
2. Igualdade
homem e mulher: Jesus
muda o relacionamento homem-mulher, pois tira o privilégio do homem frente à
mulher (Mt 19,7-12). Não só os homens, também as mulheres “seguem” Jesus, desde
a Galiléia (Mc 15,41; Lc 23,49; 8,1-3). Ele revela os seus segredos tanto aos
homens como às mulheres. À Samaritana revelou que é o Messias (Jo 4,26). À
Madalena apareceu por primeiro depois de ressuscitado e lhe deu a ordenação de
anunciar a Boa Nova aos apóstolos (Mc 16,9-10; Jo 20,17).
3. Partilha
dos bens: Na comunidade
que se formou ao redor de Jesus, ninguém tinha nada de próprio (Mc 10,28). Jesus
não tinha onde reclinar a cabeça (Mt 8,20). Havia uma caixa comum que era
partilhada também com os pobres (Jo 13,29). Nas viagens o missionário confia no
povo que o acolhe e depende da partilha que recebe (Lc 10,7). Jesus elogia a
viúva que sabe doar até do necessário (Mc 12, 41-44).
4. Amigos
e não empregados: A
partilha tem uma base econômica, mas deve crescer e atingir a alma e o coração
das pessoas (At 1,14; 4,32). A comunhão deve chegar ao ponto de não haver mais
segredo entre eles: “Já não os chamo de empregados, mas sim de amigos. Pois
tudo que ouvi do meu Pai contei para vocês” (Jo 15,15).
5. Poder
é serviço: "Os
reis das nações as dominam e os que as tiranizam são chamados benfeitores.
Entre vocês não seja assim" (Lc 22,25-26). “Quem quiser ser o primeiro
seja o último!” (Mc 10,44). Jesus deu o exemplo (Jo 13,15). "Não veio para
ser servido, mas para servir e doar a vida" (Mt 20,28). É o ponto em que Jesus mais insistiu com os discípulos.
6. Poder
de perdoar e reconciliar: O
poder de perdoar não é privilégio de alguns. Foi dado à comunidade (Mt 18,18),
aos apóstolos (Jo 20,23) e também a Pedro (Mt 16,19). O perdão de Deus passa
pela comunidade, que deve ser um lugar de perdão e de reconciliação, e não de
condenação mútua.
7. Oração
em comum: Eles iam
juntos em romaria ao Templo (Jo 2,13; 7,14; 10,22-23), rezavam antes das refeições
(Mc 6,41; Lc 24,30), freqüentavam as sinagogas (Lc 4,16). E em grupos menores
Jesus se retirava com eles para rezar (Lc 9,28; Mt 26,36-37).
8. Alegria: Jesus diz aos discípulos:
"Felizes são vocês!", porque seus nomes estão escritos no céu (Lc
10,20), seus olhos vêem a realização da promessa (Lc 10,23-24), o Reino é de
vocês! (Lc 6,20). É alegria que convive com dor e perseguição (Mt 5,11).
Ninguém consegue roubá-la (Jo 16,20-22).
Estas são algumas das características da comunidade que
nasce ao redor de Jesus e na qual se guarda e se cultiva a vocação. Ela é o
modelo para a comunidade dos primeiros cristãos, descrita nos Atos dos
Apóstolos (At 2,42-47; 4,32-35). A convivência numa comunidade assim é
necessariamente formadora. Ela consolida e faz crescer a vocação. Sem
convivência comunitária é muito difícil nascer, crescer e desabrochar uma
autêntica vocação segundo o rumo da Boa Nova que Jesus nos trouxe, pois a comunidade
é a amostra grátis da Boa Nova do Reino.
4.
Jesus é atento ao processo e ao cultivo da vocação nos discípulos
4.1.Jesus é o amigo que forma os discípulos para a missão
Para manter-se sempre na missão e não se acomodar na
mentalidade de “tarefa cumprida”, é necessário um processo contínuo de formação
e de atenção à realidade do povo. Jesus aparece nos evangelhos como o amigo que
forma seus discípulos com um acompanhamento e presença permanentes. Ele é uma
"pessoa significativa" para eles, que vai marcá-los para o resto da
vida.
Ao longo daqueles três anos, Jesus acompanha os discípulos
e as discípulas. Convive com eles, come com eles, anda com eles, alegra-se com
eles, sofre com eles. É através desta convivência que eles, quase todos jovens,
se formam na vocação e no compromisso. Desde o primeiro momento do chamado,
Jesus os envolve na missão (Lc 9,1-2; 10,1). Dois a dois, devem anunciar a
chegada do Reino (Mt 10,7; Lc 10,1.9). Devem curar os doentes (Lc 9,2),
expulsar os demônios (Mc 3, 15), anunciar a paz (Lc 10,5; Mt 10,13), rezar pela
continuidade da missão (Lc 10,2). A participação efetiva no anúncio do Reino
faz parte do processo formador, pois a missão é a razão de ser da vida
comunitária ao redor de Jesus.
Muitos pequenos gestos refletem o testemunho de vida com
que Jesus marcava presença na vida dos discípulos e das discípulas. Era a sua
maneira de dar forma humana à experiência que ele mesmo tinha de Deus como Pai.
Neste seu jeito de ser e de conviver, de se relacionar com as pessoas, de lidar
com o povo e de atender aos que vinham falar com ele, Jesus aparece:
* como uma pessoa de paz, que inspira paz e reconciliação:
"A Paz esteja com vocês!".(Jn 20,19; Mt 10,26-33; Mt 18,22; Jn 20,23;
Mt 16,19; Mt 18,18).
* como uma pessoa livre e liberta, que desperta liberdade e
promove a libertação: "O ser humano não foi feito para o sábado, mas o
sábado para o ser humano!" (Mc2,27; 2,18.23)
* como uma pessoa de oração, que aparece rezando em todos
os momentos importantes de sua vida e desperta nos outros vontade de rezar:
"Senhor, ensina-nos a rezar!" (Lc 11,1-4; Lc 4,1-13; 6,12-13; Jn
11,41-42; Mt 11,25; Jn 17,1-26; Lc 23,46; Mc 15,34)
* como uma pessoa carinhosa, que provoca respostas fortes
de amor: na moça do perfume (Lc 7,37-38), em Madalena (João 21,15-17), em Pedro
(Mt 18,21; 19,27) e em tantos outros (cf. Mc 14,3-9; Jo 13,1).
* como uma pessoa acolhedora, que está sempre presente na
vida dos discípulos e os acolhe quando voltam da missão fazendo revisão com
eles (Lc 10,17-20)
* como uma pessoa misericordiosa, mansa e humilde, que
convida os pobres: "Venham todos a mim" (Mt 11,28)
* como uma pessoa realista e observadora, que chama a
atenção dos discípulos para as coisas da vida através do ensino das Parábolas
(Lc 8,4-8)
* como uma pessoa atenciosa, preocupada com a alimentação
dos discípulos (Jo 21,9), que cuida até do descanso deles e quer estar a sós
com eles para que possam descansar (Mc 6,31).
* como uma pessoa preocupada com a situação do povo, que
esquece o próprio cansaço quando se encontra com o povo que o procura (Mt
9,36-38).
* como
uma pessoa amiga, que comparte tudo, até mesmo o segredo do Pai (Jn 15,15).
* como
uma pessoa compreensiva, que aceita os discípulos do jeito que são, até mesmo a
fuga, a negação e a traição, sem romper com eles (Mc 14,27-28; Jn 6,67).
* como
uma pessoa comprometida, que defende os amigos quando são criticados pelos
adversários (Mc 2,18-19; 7,5-13),
* como
uma pessoa sábia que conhece a fragilidade do ser humano, sabe o que se passa
no seu coração e, por isso, insiste na vigilância e ensina-os a rezar (Lc
11,1-13; Mt 6,5-15).
* Numa palavra, Jesus aparece como uma pessoa humana, muito
humana, tão humana como só Deus pode ser humano!
4.2.Jesus é o formador que aponta o perigo do fermento dos
fariseus e herodianos
Não é pelo fato de uma pessoa andar com Jesus e de conviver
com ele na mesma comunidade que ela já era santa e renovada. No meio dos
discípulos, cada vez de novo, a mentalidade antiga levantava a cabeça e
ameaçava a vocação, pois o “fermento de Herodes e dos fariseus” (Mc 8,15), a
ideologia dominante, tinha raízes profundas. A conversão que Jesus pede e a
formação que ele dá querem atingir a raiz e erradicar o “fermento”.
Como no tempo de Jesus, também hoje, a mentalidade antiga
do sistema neoliberal renasce e reaparece na vida das nossas comunidades.
Também hoje, o fermento dos
fariseus tem raízes profundas
na vida e exige uma vigilância constante. Jesus ajudava os discípulos a viverem
em processo permanente de formação. Eis alguns casos desta vigilância com que
Jesus os acompanhava. É a ajuda fraterna com que ele, atento ao processo da
vocação em cada discípulo, intervém para ajudá-lo a dar um passo e criar nova
consciência:
1. Mentalidade
de grupo fechado: Certo
dia, alguém que não era da comunidade, usava o nome de Jesus para expulsar os
demônios. João viu e proibiu: “Impedimos, porque ele não anda conosco” (Mc
9,38). Em nome da comunidade João impediu uma ação boa! Ele pensava ser dono de
Jesus e queria proibir que outros usassem o nome dele para realizar o bem. João
queria uma comunidade fechada sobre si mesma. Era a mentalidade antiga de
"Povo eleito, Povo separado!". Jesus responde: "Não impeçam! Quem não é contra é a
favor!" (Lc 9,39-40). Para Jesus, o que importa não é se a pessoa faz ou
não faz parte da comunidade, mas sim se ela faz ou não o bem que a comunidade
anuncia em nome de Deus.
2. Mentalidade
de grupo que se considera superior aos outros: Certa vez, os samaritanos não
queriam dar hospedagem a Jesus. Reação dos discípulos: “Que um fogo do céu
acabe com esse povo!” (Lc 9,54). Queriam imitar o profeta Elias (2Rs 1,10.12).
Achavam que, pelo fato de estarem com Jesus, todos deviam acolhê-los. Pensavam
ter Deus do seu lado para defendê-los. Era a mentalidade antiga de “Povo
eleito, Povo privilegiado!”. Jesus os repreende: "Vocês não sabem de que
espírito estão sendo animados" (Lc 9,55)
3. Mentalidade
de competição e de prestígio: Os
discípulos brigavam entre si pelo primeiro lugar (Mc 9,33-34). Era a
mentalidade de classe e de competição, que caracterizava a sociedade do Império
Romano. Ela já se infiltrava na pequena comunidade que estava apenas começando!
Jesus reage e manda ter a mentalidade de serviço: "O primeiro seja o
último" (Mc 9, 35). É o ponto em que ele mais insistiu e em que mais deu o
próprio testemunho: “Não vim para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45; Mt
20,28; Jo 13,1-16).
4. Mentalidade
de quem marginaliza o pequeno: Os
discípulos afastavam as crianças. Era a mentalidade da cultura da época em que
criança não contava e devia ser disciplinada pelos adultos. Jesus os repreende:
”Deixem vir a mim as crianças!” (Mc 10,14). Ele coloca criança como professora
de adulto: “Quem não receber o Reino como uma criança, não pode entrar nele”
(Lc 18,17).
5. Mentalidade
de quem segue a opinião da ideologia dominante: Certo dia, vendo um cego, Pedro
pergunta: "Quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse cego?" (Jo
9,2). Como hoje, o poder da opinião pública era muito forte. Fazia todo mundo
pensar de acordo com a ideologia dominante. Enquanto se pensa assim não é
possível perceber todo o alcance da Boa Nova do Reino. Jesus os ajuda a ter uma
visão mais crítica: “Nem ele, nem os pais dele” (Jo 9,3). A resposta de Jesus
supõe uma leitura diferente da realidade.
4.3.O resultado da vocação de Jesus na vida dos discípulos
Foi um processo lento e difícil, pois não é fácil fazer
nascer nos outros uma nova visão de Deus, da vida, do próximo, da história, do
Reino, do Messias, do povo de Deus. Jesus nem sempre era compreendido e,
olhando os resultados imediatos, nem sempre teve sucesso. Muitas vezes, os
discípulos não entendiam o que ele queria dizer (Mc 4,13; 6,52; 7,18; 8,15-21;
Lc 18,34); eles procuravam
promover-se a si mesmos (Mc 10,35-37); no fim dos três anos, na hora do
sofrimento, Pedro o negou, Judas o traiu, todos fugiram (Jn 18,5.17-26; Mc
14,50); depois da ressurreição, todos eles duvidam (Mt 28,17), não aceitam o
testemunho das mulheres (Lc 24,22-24), Tomé não crê (Jn 20,24-29); na hora da
ascensão, todos perguntam: "É agora que o senhor vai instaurar o
Reino?" (At 1,6). A pergunta revela que eles não tinham entendido muita
coisa! Só as mulheres continuaram fiéis até o fim e são apresentadas como
modelo (Lc 8,1-3; 21,2-4; Mc 14,6-9; 15,40-41).
Apesar de todo este aspecto negativo, há algo novo e muito
positivo que cresceu na vida daquelas pessoas. Aos poucos, através da
convivência, Jesus foi se tornando o eixo da vida deles. Após dois ou três anos
na comunidade com Jesus, a vocação se consolidou e eles já não podem imaginar a
vida sem Jesus. Pedro declara que, fora de Jesus, não tem para onde ir:
"Onde podemos ir? O Senhor tem palavras de vida eterna!" (Jn 6,68).
Os dois irmãos João e Tiago, filhos de Zebedeu, chegam a dizer que estão
dispostos a sofrer por amor a Jesus: "Podemos!" (Mc 10,39). E Tomé,
quando percebeu que Jesus, voltando para a Judéia corria o perigo de ser morto,
diz para os companheiros: "Vamos nós também morrer com Ele (Jo 11,16).
5. A opção
pelos pobres e excluídos faz parte da vocação
Jesus veio para que todos tenham vida e a tenham em
abundância” (Jo 10,10). Numa sociedade, porém, onde muitos são excluídos, sem
condições de ter vida de gente, esta mensagem só se faz presente na contramão. Pois Deus não se
coloca do lado dos que crucificam, mas sim do lado dos crucificados. Jesus anunciava
o Reino para todos! Não excluía ninguém, mas ele o anunciava a partir dos
excluídos. Jesus oferecia um lugar aos que não tinham lugar na convivência
humana. Acolhia os que não eram acolhidos. Recebia como irmão e irmã aos que a
religião e o governo desprezavam e excluíam:
* os imorais:
prostitutas e pecadores (Mt 21,31-32; Mc 2,15; Lc 7,37-50; Jo 8,2-11),
* os hereges:
pagãos e samaritanos (Lc 7,2-10; 17,16; Mc 7,24-30; Jo 4,7-42),
* os impuros:
leprosos e possessos (Mt 8,2-4; Lc 11,14-22; 17,12-14; Mc 1,25-26),
* os marginalizados:
mulheres,crianças e doentes (Mc 1,32; Mt 8,17;19,13-15; Lc 8,2s),
* os colaboradores:
publicanos e soldados (Lc 18,9-14;19,1-10);
* os pobres:
o povo da terra e os pobres sem poder (Mt 5,3; Lc 6,20.24; Mt 11,25-26).
Jesus lutava para recuperar a bênção da vida (Gn 1,27-28;
12,3), perdida por causa do pecado (Gn 3,15-19). Onde podia, ele defendia a
vida contra os males que a ameaçavam ou matavam. E aos que queriam segui-lo, ele dava o poder de
curar as doenças e de expulsar os maus espíritos (Mc 3,15; 6,7). Ou seja, os
discípulos e as discípulas deviam assumir o mesmo combate em defesa da vida.
Assim, através da sua ação e pregação, Jesus combatia: a fome (Mc 6,35-44), a doença (Mc 1,32-34), a tristeza (Lc 7,13), a ignorância (Mc 1,22; 6,2), o abandono (Mt 9,36), a solidão (Mt 11,28; Mc 1,40-41), a letra que mata (Mc 2,23-28; 3,4), a discriminação (Mc 9,38-40; Jo 4,9-10), as leis opressoras (Mt 23,13-15; Mc 7,8-13), a injustiça (Mt 5,20; Lc 22,25-26), o medo (Mc 6,50; Mt 28,10), males da natureza (Mt 8,26), o sofrimento (Mt 8,17), o pecado (Mc 2,5), a morte (Mc 5,41-42; Lc 7,11-17), o demônio (Mc 1,25.34; Lc 4,13),...
Havia divisões injustas, legitimadas pela religião oficial,
que marginalizavam muita gente. Jesus, com palavras e gestos bem concretos,
ignorou estas divisões e as denunciou com força:
* próximo
e não-próximo (Lc 10,29-37);
* judeu e
estrangeiro (Mt 15,21-28);
* santo e
pecador (Lc 19,1-10; Mc
2,15-17);
* puro e
impuro (Mt 23,23-24; Mc 7,
8-23; Mc 7,19);
* obras
santas e profanas (Mt
6,1-18);
* tempo
sagrado e profano (sábado)
(Mc 2,27; Jo 7,23);
* lugar
sagrado e profano (templo)
(Jo 4,21-24; 2,19; Mc 13,2);
* rico e
pobre (Lc 16,13; Lc 9,58)
Combatendo estes males e denunciando estas divisões
injustas, Jesus convida as pessoas a se definirem frente aos novos valores do
amor e da justiça. Alguns o aceitam, outros o rejeitam. Por isso, ele cria
novas divisões (Mt 10,34-36) e se torna “sinal de contradição” (Lc 2,34). E aos
que querem segui-lo,
adverte que se preparem. Irão sofrer a mesma contradição (Mt 10,25).
6. Seguir Jesus na contramão, obediente a Deus e aos pobres
até à morte de Cruz
A Boa Nova fez surgir uma nova divisão. Não a divisão
causada por crenças e ritos, mas sim a divisão que tinha a ver com a prática da
justiça e da verdade. A opção de Jesus é clara, seu apelo também: não é
possível ser amigo de Jesus e continuar apoiando um sistema que marginaliza
tanta gente. E aos que querem seguí-lo ele manda escolher: "Ou Deus, ou
o dinheiro! Servir aos dois não dá!" (Mt 6,24) "Vai, vende tudo que
tens, dá aos pobres. Depois, vem e segue-me" (Mt 19,21). Numa sociedade
assim, Seguir Jesus significa assumir com ele a mesma luta
em defesa da vida, "estar com ele nas tentações" (Lc 22, 28),
inclusive na perseguição (Jo 15,20; Mt 10,24-25), carregar a cruz e segui-lo
até na morte (Jo 11,16).
Entre os males combatidos por Jesus estavam as falsas
lideranças. Jesus percebeu a mentalidade opressora das autoridades da época e a
denunciou. Não teve medo de denunciar a hipocrisia de muitos líderes religiosos
da época: sacerdotes, escribas e fariseus (Mt 23,1-36; Lc 11,37-52; 12,1; Mc
11,15-18). Condenou a pretensão dos ricos (Lc 6,24; 12,13-21; Mt 6,24; Mc
10,25). Não acreditava muito na sua conversão (Lc 16,29-31), embora admitisse
que fosse possível pelo poder de Deus (Mt 19,26). Diante das ameaças do poder
político, tanto dos judeus como dos romanos, Jesus não se intimidava. Mantinha
uma atitude de grande liberdade (Lc 13,32;23,9; Jo 19,11;18,23).
Por meio destes gestos de denúncia, Jesus fazia estremecer
as pilastras da religião oficial, incomodava os que estavam bem instalados, e
atraía sobre si o ódio dos líderes religiosos e civis da época. Mas Jesus não
voltou atrás. Continuou fiel à sua vocação que ele mesmo definiu como
"anunciar a Boa Notícia aos pobres; proclamar a libertação aos presos e
aos cegos a recuperação da vista; libertar os oprimidos" (Lc 4,18). Era a
maneira de encarnar o amor de Deus para o povo da sua terra. Quem anuncia o
amor numa sociedade organizada a partir dos critérios do egoísmo e dos
interesses de grupos morre crucificado. Foi o que aconteceu. Bastaram só três
anos e ele foi acusado, preso, condenado e morto na cruz. Mas Deus o
ressuscitou, confirmando assim que o caminho da vocação de Jesus é o caminho do
agrado do Pai.
Esta mensagem, os primeiros cristãos souberam expressá-la
na letra de um cântico que foi retomada por Paulo numa das suas cartas. Pena
que só temos a letra e não a melodia, pois quando a letra casa bem com a
melodia, a filha que nasce é a animação da comunidade e o crescimento das
pessoas na sua vocação. Transcrevo aqui a letra como palavra final destas
reflexões sobre: “Juventude:
Vocação e Compromisso à luz da Palavra de Deus”:
Tenham em vocês os mesmos sentimentos
que havia em Jesus Cristo !
Ele
tinha a condição divina,
mas não
se apegou à sua igualdade com Deus.
Pelo
contrário, esvaziou-se a si mesmo,
assumiu
a condição de empregado
e
tornou-se ser humano, igual a nós.
E
vivendo como simples homem,
humilhou-se
a si mesmo,
tornou-se
obediente até à morte,
e morte
de cruz
Por
isso, Deus o exaltou,
e lhe
deu o Nome
que
está acima de todo nome;
para
que, ao nome de Jesus,
se
dobre todo o joelho
no céu,
na terra e debaixo da terra;
e toda
língua confesse
que
Jesus Cristo é o Senhor,
para a
glória de Deus Pai. (Flp
2,5-11)
Perguntas para ajudar na reflexão e na assimilação do assunto:
1. O que mais chamou a sua atenção nas atitudes que Jesus tomava para chamar as pessoas? Por que?
2. Faça a você a seguinte pergunta: Quem é Jesus para mim? Quem sou eu para Jesus?
CESEP, CURSO DO VERÃO, 14 a 16 de janeiro de 2008
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