Depois de algumas semanas utilizando o salão de eventos como local para as celebrações, em razão da igreja passar por mais uma etapa nas reformas físicas da igreja Santo André, desde a quarta-feira, a igreja foi liberada para a utilização dos fiéis. Vejam como ficou até o momento...
Histórico
A Paróquia Santo André, foi desmembrada da Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição, fundada em 20 de junho de 1971, tem como padroeiro o Apóstolo André, santo que a Igreja celebra sua memória no dia 30 de novembro, data de seu martírio. No dia 30 de novembro de 2014, Dom Redovino Rizzardo elevou à qualidade de paróquia, nomeando o primeiro pároco, o Padre Otair Nicoletti. A equipe de Coordenação do Conselho Comunitário de Pastoral - CCP está formada pelas seguintes pessoas: Coordenação: Laudelino Vieira, Paulo Crippa; Assuntos Econômicos: José Zanetti, Valter Claudino; Secretaria: Marcus Henrique e Naiara Andrade.
sábado, 28 de julho de 2012
quinta-feira, 26 de julho de 2012
BÍBLIA: O QUE LER EM ALGUMAS SITUAÇÕES
TEXTOS DAS SAGRADAS ESCRITURAS
Confiança em Deus: Sl 27; Sl 46; Sl 91 Sl 121; Sl 139, 1-13; Pr3, 11-26; Is26, 1-9; Is 40,1-11; Is 40, 25-fim; Lm 3, 22-33; Os 6,1-3; Mt 6, 24-fim; Mt 11,25-30; Rm 8, 31-fim
Cura em resposta à oração:
2 Rs 20,1-5; Sl 30; Sl 34; Sl 138
Súplica pelo auxilio de Deus:
Sl 13; Sl 43; Sl 86; Sl 143; Tg 5, 10-fim
Arrependimento:
Sl 51; Sl 130
Louvor e acção de graças:
Sl 103; Sl 146; Is 12
Uma jovem humilde e um homem importante:
2Rs 5,1-14
O valor da aflição:
Jb 33, 14-30; Heb 12,1-11
Cristo, exemplo de sofrimento:
Is 53; Mt 26, 33-46; Lc 23, 26-49
O Salvador proclama boas novas aos aflitos:
Is 61, 1-3.
A cura é sinal da vinda do reino de Deus:
Mt 10, 1.7-8; Lc 7, 20-23
A cura está relacionada com a pregação:
Mc 6,7-13
Jesus cura de modos diversos:
Mc 10, 46-52; Mt 8, 1- 4; Mc 7, 32-37; Jo 9, 1-7 Mc 8, 22-25; Jo 4, 46-53; Lc 4, 38-41 Mc 5, 25-34; Jo 5, 2-9; Mc 2,1-12 Mt 15, 29-31
Cura relacionada com oração e arrependimento:
Mc 9, 14 -29; Tg 5, 14-16
Resposta à cura:
Mc 10, 46-52; Jo 5, 1-15; Lc 17, 1-19.
Os discípulos de Cristo também são chamados a curar:
Jo 14, 12-14; Act 3, 1-10; Act 4, 8-12; Act 9, 32-35; Act 14, 8-10; Act 16, 16-18; Act 28, 7-9
Se a cura física não acontece:
Sl 73, 21-26; Lc 22, 42; 2Cor 12,7-10
Deus convida ao arrependimento e à fé:
Is 55.
As Bem-aventuranças:
Mt 5,1-12
Vigilância:
Lc 12, 32-40
Cristo, o Bom Pastor:
Sl 23; Jo 10, 1-18
A Ressurreição:
Jo 20,1-18; Jo 20, 19-fim; 2 Cor 4, 13 - 5, 9.
A Redenção:
Rm 5, 1-11; Rm 8, 14-fim; 1Jo 1, 1-9
O amor cristão:
1Cor 13.
O crescimento na graça:
Ef 3, 13-fim; Ef 6, 10-20; Fl 3, 7-14.
Paciência no sofrimento: .
2Cor 4, 16-18; Tg 5, 10-fim.
O amor de Deus por nós:
1Jo 3, 1-7; 1Jo 4, 9-fim.
A vida no mundo que há-de vir:
Ap 7, 9-fim; Ap 21, 1-7; Ap 21, 22-fim Ap 22,1-5
O sermão de Jesus antes da sua paixão:
Jo 14, 15, 16, 17
Confiança em Deus: Sl 27; Sl 46; Sl 91 Sl 121; Sl 139, 1-13; Pr3, 11-26; Is26, 1-9; Is 40,1-11; Is 40, 25-fim; Lm 3, 22-33; Os 6,1-3; Mt 6, 24-fim; Mt 11,25-30; Rm 8, 31-fim
Cura em resposta à oração:
2 Rs 20,1-5; Sl 30; Sl 34; Sl 138
Súplica pelo auxilio de Deus:
Sl 13; Sl 43; Sl 86; Sl 143; Tg 5, 10-fim
Arrependimento:
Sl 51; Sl 130
Louvor e acção de graças:
Sl 103; Sl 146; Is 12
Uma jovem humilde e um homem importante:
2Rs 5,1-14
O valor da aflição:
Jb 33, 14-30; Heb 12,1-11
Cristo, exemplo de sofrimento:
Is 53; Mt 26, 33-46; Lc 23, 26-49
O Salvador proclama boas novas aos aflitos:
Is 61, 1-3.
A cura é sinal da vinda do reino de Deus:
Mt 10, 1.7-8; Lc 7, 20-23
A cura está relacionada com a pregação:
Mc 6,7-13
Jesus cura de modos diversos:
Mc 10, 46-52; Mt 8, 1- 4; Mc 7, 32-37; Jo 9, 1-7 Mc 8, 22-25; Jo 4, 46-53; Lc 4, 38-41 Mc 5, 25-34; Jo 5, 2-9; Mc 2,1-12 Mt 15, 29-31
Cura relacionada com oração e arrependimento:
Mc 9, 14 -29; Tg 5, 14-16
Resposta à cura:
Mc 10, 46-52; Jo 5, 1-15; Lc 17, 1-19.
Os discípulos de Cristo também são chamados a curar:
Jo 14, 12-14; Act 3, 1-10; Act 4, 8-12; Act 9, 32-35; Act 14, 8-10; Act 16, 16-18; Act 28, 7-9
Se a cura física não acontece:
Sl 73, 21-26; Lc 22, 42; 2Cor 12,7-10
Deus convida ao arrependimento e à fé:
Is 55.
As Bem-aventuranças:
Mt 5,1-12
Vigilância:
Lc 12, 32-40
Cristo, o Bom Pastor:
Sl 23; Jo 10, 1-18
A Ressurreição:
Jo 20,1-18; Jo 20, 19-fim; 2 Cor 4, 13 - 5, 9.
A Redenção:
Rm 5, 1-11; Rm 8, 14-fim; 1Jo 1, 1-9
O amor cristão:
1Cor 13.
O crescimento na graça:
Ef 3, 13-fim; Ef 6, 10-20; Fl 3, 7-14.
Paciência no sofrimento: .
2Cor 4, 16-18; Tg 5, 10-fim.
O amor de Deus por nós:
1Jo 3, 1-7; 1Jo 4, 9-fim.
A vida no mundo que há-de vir:
Ap 7, 9-fim; Ap 21, 1-7; Ap 21, 22-fim Ap 22,1-5
O sermão de Jesus antes da sua paixão:
Jo 14, 15, 16, 17
JUVENTUDE: VOCAÇÃO E COMPROMISSO À LUZ DA PALAVRA DE DEUS (FINAL)
OLHANDO O ALBUM DA FAMÍLIA DE DEUS
A variedade das vocações dentro do mesmo Projeto de Deus
A Bíblia é como um álbum de fotografias em que a gente
encontra uma variedade imensa de vocações que trazem luz para iluminar a
vocação que sentimos dentro de nós. A maneira de Deus chamar as pessoas é muito
variada. Nenhuma vocação se repete. Chama Abraão e Sara de um jeito e a Maria
Madalena de outro jeito. Também a maneira de perceber a vocação é diferente, e
diferentes são as respostas que são dadas. Uns oferecem resistências, outros
aceitam logo. Uns, como Jeremias, têm problema e dúvidas, lutam com a vocação
até o fim da sua vida. Outros, como Amós, não têm problemas nem dúvidas e
aceitam o chamado que se torna o eixo de suas vidas. Uns são chamados desde a
juventude, e outros só depois de velhos. Uns são chamados para uma tarefa bem
limitada e outros para uma missão que envolve a vida inteira.
A Palavra que chama, às vezes, se impõe com força
irresistível como fogo dentro dos ossos (Jr 20,9) ou como martelo que rebenta
as rochas (Jr 23,29). Outras vezes, como convite que deixa total liberdade (Is
6,8). Outras vezes, deixa a pessoa na revolta e no sofrimento (Jr 20,7-18),
outras vezes na alegria (Jr 15,16). Para uns, o chamado de Deus vem com muita
clareza, para outros não há clareza nenhuma, nem percebem nada de Deus. Sentem
apenas uma necessidade humana que não pode ficar sem resposta. E quando no
julgamento final Deus os elogia (Mt 25,34-35), eles dizem: “Quando foi que vi o
senhor com fome e sede, sem roupa e na prisão, doente? Não estou lembrado!” (Mt
25,37-39) E Deus responderá: “Foi quando você ajudou aquela pessoa pobre. Era
eu!” (Mt 25,40).
Umas pessoas são chamadas para libertar o povo (Is 61,1; Ex
3,10); outras, para organizá-lo, para presidir suas assembléias, organizar o
culto, cantar, profetizar, denunciar, animar, anunciar, aconselhar, guiar,
reprimir, governar (Rm 12,4-8; 1Cor 12,4-11). Vocação para missões grandes e
missões pequenas, importantes e menos importantes, ligadas ao povo todo e
ligadas a um pequeno grupo. Missões que valem para muitas gerações, outras que
valem para pouco tempo ou só para a pessoa que a recebe.
Para chamar as pessoas Deus usa os mais variados meios de
comunicação: sorteio, aclamação, indicação da comunidade, percepção das
necessidades do povo, ação de bravura, perigo de guerra, chamado interior,
aparição de anjo, sonhos, chamado de um companheiro, etc. etc. ... Nenhuma vocação se repete!
O chamado de Deus não tira a liberdade das pessoas, pois elas
reagem: "Quem sou eu?" Cada um reage do seu jeito diante da missão
que recebe. Cada um trava duas lutas dentro de si: a grande luta da
transformação do mundo e a pequena luta da conversão pessoal. Ambas são
igualmente importantes.
A variedade das vocações dentro do mesmo Projeto de Deus
Tudo isto, você pode verificá-lo em quase cada página da
Bíblia. Para ajudá-lo a fazer esta pesquisa, vamos dar uma olhada rápida no
grande álbum da Família de Deus. Vamos percorrer as páginas da Bíblia, olhando
de perto o chamado de algumas das pessoas mais conhecidas e dando para cada uma
delas uma breve chave de leitura. Assim você poderá perceber a variedade, tanto
no chamado como na resposta. Você poderá completar o quadro olhando a vocação
das muitas outras pessoas que não foram lembradas neste elenco. Poderá ainda
aprofundar tanto cada uma das vocações como o conjunto delas, orientando-se
pelas perguntas que colocamos no fim deste elenco.
Este elenco foi feito seguindo o critério da ordem
cronológica, desde o início do tempo dos patriarcas do século XVIII antes de
Cristo até o fim da época das primeiras comunidades cristã do fim do primeiro século
depois de Cristo. Outros critérios de divisão e seleção são possíveis. Por
exemplo: origem da vocação; função ou missão da vocação no conjunto do Povo de
Deus; problemas enfrentados pela pessoa chamada na execução da sua vocação;
mulheres ou homens, jovens ou velhos; recursos para realizar a vocação; etc.
Tratando-se de um apêndice independente, repetimos nesta
lista o chamado dos apóstolos e algumas outras pessoas, homens e mulheres, já
assinaladas no capítulo “Jesus chama pessoas para estar com ele e ir em missão”
1.Um elenco das pessoas chamadas desde Abraão até o Novo
Testamento
1.1. Época dos Patriarcas e Matriarcas: de 1800 a 1250 antes de Cristo
Abraão
Chamado para ser pai de um povo, não consegue acreditar na
promessa de Deus. Inicialmente, só consegue crer nos projetos que ele mesmo
propõe como alternativa. Mas após três tentativas frustradas consegue crer e se
entrega (Gn 12,1-3;15,1-6;17,15-22;22,1-18)
Sara
Quando chamada, deu risada (Gn 18,12) como seu marido
Abraão (Gn 17,17). Risada de incredulidade. Não conseguiu crer no chamado. Pois
não conseguiu crer em si mesma e em Abraão. Era difícil crer, pois já era de idade
avançada e estéril. Como crer que poderia ser mãe! (Gn 18,9-15).
Agar
Chamada através de uma ordem de Sara, sua patroa, é por ela
desprezada e excluída; mas Deus continua fiel e a sustenta. A fidelidade de
Agar recebe uma recompensa: ela chega a ter uma experiência profunda do próprio
Deus (Gn 16,1-16; 21,8-21).
Jacó
Chamado para ser Israel, lutou com o anjo (o próprio Deus)
a noite toda, até que fosse abençoado (Gn 32,23-33). Passagem misteriosa que
recebeu muitas interpretações ao longo dos séculos. É um espelho para
significar as lutas que as pessoas travam com Deus e com sua vocação ao longo
de suas vidas. Oferece esperança de vitória.
1.2. Época do Êxodo: 1250 a 1200 antes de Cristo
Moisés
Primeiro sentiu o chamado diante da opressão do seu povo e
chegou a matar um egípcio. Teve medo e fugiu (Ex 2,12-15). Mais amadurecido, é
chamado novamente para libertar o povo. Novamente tem medo e arruma várias
desculpas, mas no fim a vocação é mais forte que a resistência medrosa, e ele
acaba aceitando (Ex 3,11.13; 4,1.10.13).
Miriam
Chamada pelo seu próprio talento e pela necessidade do
momento, convoca as mulheres para celebrar a vitória depois da travessia do mar
vermelho (Ex 15,20). O Cântico de Miriam é um dos textos mais antigos da
Bíblia, ao redor do qual foi se juntando o resto como cera ao redor do pavio
(Ex 15,21).
Aarão
Chamado por intermédio de Moisés, seu irmão, para ser
porta-voz (Ex 4,14-15; 7,1-2). É da tribo de Levi, tribo sacerdotal. O clã de
Aarão consegue impor-se aos outros clãs da tribo de Levi e obtém a função
central no Templo. Os outros clãs se tornam seus ajudantes (Núm 18,2-3).
Os Setenta
O chamado deles nasce das necessidades concretas da
coordenação do povo. Diante da impossibilidade de assumir sozinho a coordenação
da vida do povo, aconselhado pelo bom senso do seu sogro Jetro, Moisés
descentraliza o poder e chama setenta pessoas para participar na coordenação. O
chamado se faz de acordo com certos critérios para poder servir ao povo (Ex
18,21-22; Núm 11,16).
Josué
Foi o que mais ajudava Moisés. Foi fiel nos momentos
difíceis e nas crises. É desta sua condição de companheiro fiel que nasce o
chamado para suceder a Moisés. Moisés mesmo o apresenta ao povo como seu
sucessor e dá a ele, várias vezes, a ordem: "Sê forte e corajoso!"
(Jos 1,6-9).
1.3. Época dos Juizes: 1200 a 1000 antes de Cristo
Debora
A pessoa chamada foi um tal de Baraq, que não teve coragem
nem condições para realizar a vocação e chamou Débora para libertar o povo num
momento difícil da sua história. Débora, juíza e mulher forte, chama outras
pessoas para ajudá-la na tarefa e obtém a vitória (Jz 4,1-10).
Gedeão
Um lavrador bem simples, oprimido pela dominação, sente o
chamado, mas não consegue acreditar nele e pede uma dupla confirmação. Se não
fosse a simplicidade da fé de Gedeão, seria até uma provocação da bondade de
Deus. (Jz 6,11-40).
Ana
Uma senhora casada que não pode ter nenê, pois é estéril.
No momento de tristeza, em que derramava sua alma na presença do Senhor, recebe
através de Eli o chamado para ser mãe. Ela responde ao chamado criando o menino
e dedicando-o à missão da vida dele (1 S 1,9-18).
Samuel
Chamado por Deus, não percebe a vocação e precisa da ajuda
de uma pessoa mais velha para orientá-lo. O velho Eli orienta o menino e o
ajuda a percebê-la: "Fala, Senhor, teu servo escuta!" Esta ajuda
mútua fez nascer uma vocação muito importante (1 Sm 3,1-18).
1.4. Época dos Reis e Profetas: 1000 a 587 antes de Cristo
Saul
Mesmo chamado por aclamação (1S 11,12-15), por unção (1S
10, 1-8) e por sorteio (1S 10,17-24), não soube manter-se na fidelidade.
Devorado pela inveja e pela vingança persegue Davi e quer matá-lo (1Sm 18,6-9;
19,8-17)
Davi
Chamado por unção (1S 16,1-13) e a convite do povo para ser
rei de Judá (2S 2,1-4) e de Israel (2S 5,1-5). É exaltado na Bíblia como rei
fiel. Na realidade, dentro dos nossos conceitos, não parece ter sido tão fiel.
O poder do rei era absoluto e naquele tempo muitos não percebiam os limites
deste poder (cf. 1Sm 8,10-18).
Salomão
Indicado para ser rei por ser filho de Davi e por
conspiração palaciana (1R 1,28-53). Foi pessoa sábia (1Rs 5,9-14), mas o poder
e o luxo da riqueza o corromperam (1Rs 11,1-13).
Elias
Obedece a um chamado da Palavra de Deus e do povo (1R 21,
17ss) e é conhecido como o homem sempre disponível para a ação do Espírito (1R
18,12; Ecl 18,1-11).
Eliseu
Recebe o chamado de Elias, pede licença para se despedir
dos pais e vai atrás de Elias, largando tudo (1Rs 19,19-21). As muitas
histórias de Eliseu estão no segundo livro dos Reis.
Jeú
Chamado por Elias (1Rs 19,16) e Eliseu (2Rs 9,1-10) para
enfrentar os abusos do rei Acab, foi mais abusado que o próprio rei e matou sem
critério todos os possíveis concorrentes (2Rs 9,22-37; 10,1-27). Foi condenado
pelo profeta Oséias.
Amós
Percebe o chamado como algo irresistível, que sobe da
situação de opressão e exploração do povo (Am 3,3-8; 7,15).
Ezequias
A conjuntura política internacional favorável levou
Ezequias a promover uma reforma profunda para evitar o desastre sofrida pelo
Estado de Israel (2Rs 18,1-8)
Josias
É chamado a servir o povo como rei através de
circunstâncias políticas particulares que levaram ao assassinato do rei Amon
(2R 21,23-24; 22,1). O rei Josias promoveu a reforma que foi chamada a reforma
deuteronomista (2Rs 23,1-27).
Oséias e Gomer
Um drama familiar e uma experiência forte de amor levaram
os dois à descoberta da sua missão no meio do povo (Os 1,1-3,5).
Isaías
Tem uma profunda experiência de Deus, descobre a sua
incapacidade, mas se oferece: "Eis-me aqui!" (Is 6,1-13).
Jeremias
Na hora de perceber o chamado, fica meio gago e se
desculpa: "Sou apenas uma criança!", mas assumiu a vocação (Jer
1,4-10). Sofreu a vida inteira por causa da vocação assumida (Jr 20,7-18).
Ezequiel
Quando recebe o chamado de ser a sentinela do povo, fica
mudo por vários dias (Ez 3,25-27).
1.5. Época do exílio e pós exílio: 587 a 01 antes de Cristo
Neemias
O chamado vem através das exigências da situação do povo e
de um convite do rei da Pérsia. Exerce a sua vocação como funcionário do rei da
Pérsia (Ne 2,1-8).
Esdras
Vê um chamado de Deus na missão que ele recebe do rei da
Pérsia para organizar o povo (Esd 7,11-26).
Rute
Percebe e assume o chamado através da sua solidariedade com
Noemi que ficou viúva sem futuro (Rute 1,15-18).
Jonas
É o profeta que não tem coragem de assumir o chamado, e
foge. A imagem estreita que Jonas tinha de Deus o impediu de perceber sua
vocação (Jon 1,3).
Jó
Descobre o chamado na contradição provocada pelo ideologia
da época que dizia: Todo sofrimento é castigo pelo pecado. A consciência dele
dizia: “Não pequei para merecer tanto sofrimento!” Lutou e foi fiel à vocação
criticando uma idéia falsa de Deus até morrer.
Ester
Era uma criança órfã, adotada pelo tio Mardoqueu. Por um
destino não previsto acabou sendo rainha por causa da sua beleza (Est 2,15-17).
Chamada a ser a libertadora do seu povo assume o chamado com risco da própria
vida. (Est 4,12-17).
Judite
Chamada para libertar o povo num momento de extrema
angústia (Jt 8,1-36), confia no Deus que é o "Deus dos humildes, socorro
dos oprimidos, protetor dos fracos, abrigo dos abandonados, salvador dos
desesperados" (Jt 9,11).
Sunamitis, a jovem dos Cantares
Envolvida numa intriga e constantemente vigiada pelos
irmãos maiores, ela grita por independência e segue o seu próprio caminho para
poder realizar o ideal do amor (Ct 8,1-14)
Matatias
Percebe e assume o chamado no momento de ser confrontado
com a opressão e a perseguição do povo (1M2,1-28).
Judas Macabeu
É chamado para liderar as batalhas por ser o filho mais
corajoso de Matatias (1Mac 2,66).
1.6. Época de Jesus: 01 a 33
Zacarias
Não foi capaz de crer no chamado e ficou mudo (Lc 1,11-22).
Isabel
Era estéril, mas acreditou no chamado, concebeu e tornou-se
capaz de reconhecer a presença de Deus em Maria (Lc 1,23-25.41-45).
João Batista
Chamado desde o seio materno (Lc 1,11-17), assume a missão
com coragem (Mc 6,17-29). É o primeiro profeta depois de muitos séculos de
silêncio (Lc 1,59-66; Mt 11,7-15).
José
Chamado a ser o esposo de Maria, rompe com as normas do
machismo da época, e não manda Maria embora (Mt 1,18-25).
Maria
Acostumada a ruminar os fatos (Lc 2,19.51), percebe e
acolhe a Palavra, trazida pelo anjo Gabriel, a ponto de encarná-la em seu seio,
em sua própria vida (Lc 1,26-38).
Apóstolos
Foram chamados para estar com Jesus, para anunciar a palavra
e para combater o poder do mal (Mc 3,13-19). O chamado de cada um dos doze e de
algumas discípulas encontra-se no capítulo VI: “Jesus chama pessoas para estar com
ele e ir em missão”.
Pedro
Pessoa generosa e entusiasta (Mc 14,29.31; Mt 14,28-29),
mas na hora do perigo e da decisão, o seu coração encolhia e voltava atrás (Mt
14,30; Mc 14,66-72). Jesus rezou por ele (Lc 22,31).
Tiago e João
Dois irmãos. Estavam dispostos a sofrer com Jesus (Mc
10,39), mas eram violentos (Lc 9,54). Jesus os chamou filhos do trovão (Mc 3,17). João pensava ter o
monopólio de Jesus. Jesus o corrigiu (Mc 9,38-40
Filipe
Tinha jeito para colocar os outros em contato com Jesus (Jo
1,45-46), mas não era muito prático em resolver os problemas (Jo 6,5-7;
12,20-22). Parecia um pouco ingênuo. Jesus chegou a perder a paciência com ele:
“Filipe, tanto tempo que estou com vocês, e você ainda não me conhece?” (Jo
14,8-9)
André
Pessoa prática. Foi ele que encontrou o menino com cinco
pães e dois peixes (Jo 6,8-9). É a ele que Filipe se dirige para resolver o
caso dos gregos que queriam ver a Jesus (Jo 12,20-22), e é André que chama
Pedro para encontrar-se com Jesus (Jo 1,40-43).
Tomé
Com teimosia sustentou sua opinião, uma semana inteira,
contra o testemunho de todos os outros (Jo 20,24-25). É que o Jesus
ressuscitado em que Tomé acreditava, tinha de ser o mesmo Jesus
que fora crucificado e que carregava os sinais da tortura no corpo (Jo
20,26-28).
Natanael
Era bairrista e não podia admitir que algo de bom pudesse
vir de Nazaré (Jo 1,46). Mas quando Jesus o explica, ele se entrega (Jo 1,49).
Este Natanael aparece só no evangelho de João. Alguns o identificam com o
Bartolomeu que aparece na lista do evangelho de Marcos (Mc 3,18).
Mateus
Era um publicano, pessoa excluída pela religião dos judeus
(Mt 9,9). Sabemos pouco da vida dele. No evangelho de Marcos e de Lucas ele é
chamado Levi (Mc 2,14; Lc 5,27). O nome Mateus significa Dom de Deus. Os excluídos são
"mateus" (dom de Deus), para a comunidade.
Simão
Era um zelote (Mc 3,18). Dele só sabemos o nome e o
apelido. Nada mais. Ele era zelote,
isto é, fazia parte do movimento popular que na época se opunha à dominação
romana.
Judas
Guardava o dinheiro do grupo (Jo 12,6; 13,29). Tornou-se o
traidor de Jesus (Jo 13,26-27). Setenta anos depois da traição, no fim do
primeiro século, o autor do quarto evangelho ainda tem raiva dele e o chama de
"ladrão" (Jo 12,4-6).
Samaritana
Teve dificuldade em perceber o chamado (Jo 4,7-30), mas
tornou-se uma grande apóstola no meio do seu povo (Jo 4,39-42)
A
moça do perfume
Teve a coragem de quebrar as
normas da época e entrou na casa do fariseu, onde Jesus estava. Banhou os pés
dele com lágrimas, enxugou com seus cabelos e os ungiu com perfume (Lc 7,36-50)
A
mulher Cananeia
Gritou atrás de Jesus pela saúde
de sua filha doente e, chamada de cachorrinho por Jesus, teve a coragem de
exigir os seus direitos como cachorrinho, que era receber as migalhas que caem
da mesa dos filhos (Mt 15,21-28).
O jovem rico
Observava todos os mandamentos desde criança, mas chamado
para abandonar tudo que tinha e dá-lo aos pobres afim de poder seguir Jesus de
perto, não teve coragem e voltou atrás (Mc 10,17-31).
Nicodemos
Era membro do Sinédrio, o Supremo Tribunal da época. Homem
importante. Ele aceita a mensagem de Jesus, mas não tem coragem de manifestá-lo
publicamente (Jo 3,1). Junto com José de Arimatéia cuidou da sepultura de Jesus
(Jo 19,39)
Joana e Susana
Joana era a esposa de Cusa, procurador de Herodes, que
governava a Galiléia. As duas faziam parte do grupo de mulheres que seguiam a
Jesus, o serviam com seus bens e subiam com ele até Jerusalém (Mc 15,40-41; Lc
8,2-3).
Maria Madalena
Era nascida da cidade de Magdala. Daí o nome Maria Ma(g)dalena. Jesus a curou de
uma doença (Lc 8,2). Ela o seguiu até ao pé da Cruz (Mc 15,40). Depois da
páscoa, foi ela que recebeu de Jesus a ordenação de anunciar aos outros a Boa
Nova da Ressurreição (Jo 20,17; Mt 28,10).
1.7. Época das comunidades dos Primeiros
Cristãos: 33 a 100
Matias
Chamado a ser apóstolo por sorteio, após uma reunião dos
outros onze apóstolos (At 1,15-26).
Barnabé
O primeiro a partilhar os seus bens (At 4,36s), É chamado a
enfrentar missões difíceis (At 9,26-27; 11,22.25; 13,2).
Paulo
Foi chamado num momento em que tudo indicava o contrário,
pois era perseguidor (At 9,1-19). O chamado o derruba na estrada (At 9,4); ele
fica cego (At 9,3).
Lídia
Sente o chamado ao ouvir a pregação de Paulo; torna-se a
primeira coordenadora das Comunidades na Europa (At16,14s).
Andrônico e Júnia
São chamados por Paulo de “parentes e companheiros de prisão,
apóstolos importantes que se converteram a Cristo antes de mim” (Rm 16,7)
Febe
Chamada a ser diaconisa, torna-se "irmã" de Paulo
e presta seu serviço a muita gente (Rom 16,1-2)
Timóteo
Preparado pela formação recebida em casa (2Tim 1,5; 3,14),
é chamado a ser companheiro de Paulo (At 16,1-3).
Prisca e Aquila,
Casal amigo de Paulo. Os dois respondem ao chamado
combinando as exigências das comunidades com as possibilidades da sua profissão
(At 18,2-3; Rm 16,3-5)
Uma sugestão para aprofundar a vocação na Bíblia
Você pode completar a longa lista das pessoas chamadas que
ocorrem na Bíblia, pois no álbum da Família de Deus existem muito mais
fotografias. Em seguida, vale a pena aprofundar o assunto através das seguintes
perguntas:
1. Qual a origem da vocação e qual o objetivo, que ela quer
atingir na vida da pessoa chamada?
2. Qual a missão que a pessoa chamada recebe dentro do
conjunto do povo de Deus?
3. Quais os critérios de escolha que Deus usou para chamar
a pessoa?
4. Quais os recursos para realizar a missão?
5. Quais as resistências que a pessoa chamada oferece e por
que?
6. Quais os problemas que a pessoa chamada encontra na
execução da sua vocação e como os enfrenta?
7. Vocação pessoal e situação do povo: como estas duas
realidades estão relacionadas entre si na vida da pessoa chamada?
8. Quais as vocações que as mulheres recebem dentro do
conjunto do povo de Deus?
9. Quais os traços do rosto de Deus que transparecem em
cada chamado?
10. Com qual de todas estas vocação você mais se identifica
e com quais menos se identifica? Por que?
CESEP, CURSO DO VERÃO, 14 a 16 de janeiro de 2008
JUVENTUDE: VOCAÇÃO E COMPROMISSO À LUZ DA PALAVRA DE DEUS (VII)
A DESCOBERTA DA VOCAÇÃO DA HUMANIDADE
1. O fracasso da observância da Lei de Deus destruiu a raiz
da fé
No êxodo foi concluída a aliança entre Deus e o povo. Deus
tinha libertado o povo do Egito e disse:
“Vocês viram o que eu fiz aos egípcios e como carreguei
vocês sobre asas de águia e os trouxe até mim. Portanto, se me obedecerem e
observarem a minha aliança, vocês serão minha propriedade especial entre todos
os povos, porque a terra toda pertence a mim. Vocês serão para mim um reino de
sacerdotes e uma nação santa" (Ex 19,4-6). E o povo respondeu
"Faremos tudo o que Javé mandou" (Ex 19,8).
Eles se comprometeram a observar em tudo a lei de Deus (Ex
24,3-8). Esta era a vocação que receberam e assumiram solenemente. A
observância das cláusulas da Aliança era a condição para o povo poder continuar
a ser o povo de Deus. Não observando os mandamentos, eles se condenariam a si
mesmos à escravidão. Mas a experiência foi muito dolorosa. Enganado pela
ideologia da monarquia e desviado pela própria fraqueza, o povo não deu conta
de observar os Mandamentos da Lei de Deus. Diz o salmo: “Por quarenta anos
aquela geração me desgostou. Então eu disse: É um povo de coração transviado
que não reconhece os meus caminhos” (Sl 95,10). A transgressão da Lei de Deus
trouxe consigo a quebra da aliança e a desarticulação da convivência, tanto
familiar como social.
No século VII aC, época do rei Josias, tentaram uma reforma
para levar o povo de volta à sua vocação como Povo de Deus e, assim, evitar a
desintegração total. Esta reforma, chamada Deuteronomista,
colocava o povo diante da escolha: bênção ou maldição, vida ou morte. É como se
dissesse: “Agora vai depender só de vocês! Se observarem a Lei, terão a bênção.
Se não observarem terão a maldição” (cf. Dt 28,1-3. 15-16).
A reforma não adiantou. Os Mandamentos não foram
observadas. As terríveis ameaças de maldição e de exclusão, descritas nos
livros do Deuteronômio (Dt 28,15-44) e do Levítico (Lv 26,14-38), se
realizaram. Tudo foi destruído pelo exército do rei da Babilônia. O povo se
sentia como amaldiçoado e excluído pelo próprio Deus (Is 49,14). Para a
maioria, o cativeiro era a prova trágica de que tinham escolhido a morte e não
a vida. Fracassou a Aliança! Copo quebrado em mil pedaços não tem conserto!
Dentro do povo estava destruída a raiz da fé. Deus desapareceu da vida do povo.
A maioria largou tudo e adotou a religião do império.
Uma reforma que só insiste na observância da Lei, nasce de
uma raiz falsa, pois desconhece a misericórdia de Deus. Na hora do fracasso da
aliança (que de fato ocorreu), ela não oferece nenhuma esperança de se poder
refazer a amizade com Deus. Em vez de levar à justiça, leva ao desespero. O
tiro saiu pela culatra.
2. A redescoberta
da gratuidade de Deus na natureza
Ainda em Jerusalém, diante daquele desespero generalizado
causado pela iminente destruição do Templo e da cidade por Nabucodonosor,
Jeremias dizia: “Temos muito motivo de esperança!” -“Qual?” - “O sol vai nascer amanhã!” (cf. Jr
31,35-36). Jeremias redescobre a presença de Deus não na história, mas na
natureza. A certeza do nascer do
sol não depende da observância da lei, mas está impressa na lógica da criação.
É pura gratuidade, expressão do bem-querer do Deus Criador. É certeza que não
falha. Nossa fraqueza pode levar-nos a romper com Deus (como de fato
aconteceu), mas Deus não rompe conosco, pois cada manhã, através da seqüência
dos dias e das noites, ele nos fala ao coração e diz: “Como é certo que eu
criei o dia e a noite e estabeleci as leis do céu e da terra, também é certo
que não rejeitarei a descendência de Jacó e de meu servo Davi. Quando essas
leis falharem diante de mim - oráculo de Javé - então o povo de Israel também
deixará de ser diante de mim uma nação para sempre” (Jr 33,25-26; cf. 31,36).
Esta nova maneira de olhar a natureza modificou os olhos e
abriu um novo horizonte. “Deus nos amou primeiro!”, dirá São João mais tarde
(1Jo 4,19). A certeza da presença amorosa de Deus para além do fracasso da
observância provocou uma busca renovada dos sinais de Deus na natureza que nos
envolve e da qual depende toda a nossa vida: as chuvas, as plantas, as fases da
lua, o sol, as estações do ano, as sementes, etc. Tudo tornou-se sinal da
presença gratuita de Deus.
Aos poucos, Javé, o Deus libertador que no êxodo entregou a
Lei ao povo e concluiu com ele uma aliança, começa a ser experimentado como o
Deus Criador do Universo; e o Deus Criador do Universo vai tomando o rosto de Javé,
o Deus libertador e familiar do êxodo. História e Criação se aproximam. Nos
dois transparecem os traços do rosto de Javé, o Deus do povo, Deus libertador e
criador, Deus Pai, Mãe, Marido
e Irmão mais velho.
3. A descoberta
dos Dez Mandamentos da Criação
Assim, ao lado da atenção dada às Dez Palavras (Dez
Mandamentos) que estão na origem da Aliança, o povo começa a dar maior atenção
às palavras divinas que estão na origem das criaturas, e descobre que lá também
existem dez palavras. São as Dez Palavras ou os Dez Mandamentos da Criação. O
autor que fez a redação final da narrativa da Criação (Gn 1,1-2,4ª) teve a
preocupação em descrever toda a ação criadora de Deus por meio de exatamente
Dez Palavras. Na narrativa aparece dez vezes a expressão “e Deus disse”:
1. Gn 1,3 E Deus disse: haja luz
2. Gn 1,6 E Deus disse: haja firmamento
3. Gn 1,9 E Deus disse: as águas se juntem e apareça o continente
4. Gn 1,11 E Deus disse: a terra produz verde
5. Gn 1,14 E Deus disse: haja luzeiros
6. Gn 1,20 E Deus disse: as águas produzam seres vivos
7. Gn 1,24 E Deus disse: que a terra produz seres vivos
8. Gn 1,26 E Deus disse: façamos o ser humano
9. Gn 1,28 E Deus disse: sejam fecundos
10. Gn 1,29 E Deus disse: dou as ervas para vocês comer.
E Deus disse
E Deus disse
~yhiªl{a/ rm,aYOæw:
A Lei de Deus entregue ao povo no Monte Sinai tem no seu
centro as dez palavras divinas da aliança. Da mesma maneira, a narrativa da
Criação tem no seu centro dez palavras divinas. Assim como fez para o seu povo,
Deus fez para as criaturas todas: fixou para elas “uma lei que jamais passará” (Sl 148,6). Dez vezes Deus falou e dez
vezes as coisas começaram a existir. Falou: Luz!, e a luz começou a existir. Falou: Terra!, e a terra apareceu. Gritou os nomes
das estrelas, e elas começaram o seu percurso no firmamento. “Ele diz e a coisa
acontece, ele ordena e ela se afirma” (Sl 33,9). A harmonia do cosmo que vence
a ameaça do caos é fruto da obediência das criaturas aos Dez Mandamentos da
Criação.
O povo não observou a Lei da Aliança. Por isso veio a
desordem do cativeiro. As criaturas, ao contrário, sempre observam a Lei da
Criação. Por isso existe a Ordem do cosmo. No Pai-Nosso Jesus dirá: “Seja feita a vossa vontade na
terra assim como é feita no céu”. Jesus pede que nós possamos observar a
Lei da Aliança com a mesma perfeição com que o sol e as estrelas do céu
observam a Lei da Criação. Na ordem do universo descobrimos como realizar nossa
vocação.
4. A vocação
do ser humano
Temos dois decálogos: o decálogo da criação e o decálogo da
aliança. O decálogo da criação descreve a ação de Deus, o decálogo da aliança
descreve a resposta do ser humano. O decálogo da criação já existia muito antes
do decálogo da aliança. Existia desde a criação do mundo e era visível na ordem
do cosmo, mas a sua existência só foi descoberta, quando a observância do
decálogo da aliança entrou em colapso e criou o impasse do cativeiro.
A descoberta do decálogo da criação foi o resultado da
teimosia da fé dos pequenos, de homens e mulheres como Oséias e Gomer,
Jeremias, os discípulos e discípulas de Isaías e tantos outros, pais e mães de
família, que continuavam na busca do Deus criador, cuja promessa de vida
ultrapassa a nossa observância.
A total gratuidade da presença universal de Deus criador
enche de esperança os seres humanos no meio da sua fraqueza. A bondade imensa
de Deus, expressa na criação e que faz chover sobre bons e maus (Mt 5,45), deu
coragem ao povo do cativeiro para recomeçar com garra a observância da lei de
Deus. Agora, eles observam a lei da aliança, não mais para poder merecer a salvação, e sim para poder agradecer e retribuir a imensa bondade com que
Deus os amou primeiro e cujo amor não depende da observância da lei. Eles sabem
que nada nem mesmo o fracasso pode separá-los do amor de Deus (Is 40,1-2ª; 41,9-10.13-14; 43,1-5; 44,2;
46,3-4; 49,13-16; 54,7-8; etc.)
A fé no Deus Criador abriu um horizonte, cujo alcance para
a vida só se compara com o horizonte que a ressurreição de Jesus abriu para os
discípulos confrontados com a barreira intransponível da morte. A descoberta do
decálogo da Criação é como se fosse um fundamento novo colocado debaixo de um
prédio que ameaçava cair por falta de observância da parte dos engenheiros e
operários. Você não vê o fundamento novo, pois está debaixo do chão, mas você
sabe que ele existe, pois o prédio pode até balançar, mas não cai. A fé na
gratuidade da presença universal de Deus torna-se a infra-estrutura da
observância dos mandamentos.
5. Homem e mulher: imagem e semelhança de Deus
Chegando o momento da criação do ser humano, a narrativa da
criação faz uma parada e muda o modo de falar. Até agora, ele informava sobre a
ação criadora de Deus. Agora, com uma certa solenidade, ele apresenta o próprio
Deus falando:
"Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele
domine os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras
e todos os répteis que rastejam sobre a terra". E Deus criou o homem à sua
imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher. E Deus os
abençoou e lhes disse: "Sejam fecundos, multipliquem-se, encham e submetam
a terra; dominem os peixes do mar, as aves do céu e todos os seres vivos que
rastejam sobre a terra". (Gn 1,26-28)
Por este modo diferente de falar, o autor está sugerindo
que está chegando ao ponto alto da ação criadora. Nesta sua maneira de falar,
ele acentua os seguintes aspectos:
(1) Afirma a dignidade do ser humano, pois nele existe algo
de divino. Ele é feito à
imagem e semelhança de Deus. Não são os animais, nem o rei Nabucodonosor,
nem os poderosos que são a imagem de Deus. Mas sim o ser humano, enquanto humano, é a imagem de Deus, o representante de
Deus no meio da criação.
(2) Afirma a igualdade entre homem e mulher, ambos são
imagem de Deus. Ou melhor, não é só o homem, nem só a mulher, mas ambos juntos
convivendo em harmonia são imagem de Deus. O livro do Eclesiástico faz o
seguinte comentário: “Todas as coisas existem aos pares, uma diante da outra, e
Ele não fez nada incompleto. Uma coisa completa a bondade da outra, e ninguém
se cansa de contemplar a glória de Deus”. (Eclo 42,24-25).
(3) Afirma a superioridade do ser humano frente às outras
criaturas, pois ele pode dominar sobre todas elas. Este domínio não
significa que ele recebe carta
branca para fazer o que quiser nem se trata de uma dominação que usa a terra
como mercadoria ou como objeto mudo e sem vida. Mas significa que ele deve imitar a
maneira como Deus exerce o seu domínio sobre a criação. Deus domina o universo coordenando
tudo numa harmonia admirável, preservando
a ordem que favorece a vida e mantendo afastado o caos que ameaça tudo de
morte: o caos do assassinato, da vingança, da corrupção, da exploração. O domínio que o ser humano recebe deve
promover o crescimento da ordem e contribuir para o louvor universal ao
Criador.
Em seguida, aparece a bênção da vida. Todas as coisas são criadas, mas só a
vida recebe uma bênção. Abençoar é desejar o bem para alguém. É o contrário de amaldiçoar. A vida recebeu de
Deus uma bênção, uma bem-dição.
Esta palavra criadora desejando o bem à vida é mais forte do que a morte que
deseja o mal. É nesta bênção ou bem-dição que está a raiz da nossa fé na Vida
como dom de Deus, fé que foi crescendo lentamente na alma do povo de Deus, ao
longo dos séculos, até desabrochar plenamente na ressurreição de Jesus. Esta fé
é a expressão da convicção de que a vida
plena, que vem de Deus e que
os exilados estavam buscando, não pode acabar nunca. Esta esperança já se
expressava na oração do salmo bem antes da ressurreição de Jesus: “Não me
abandonarás no túmulo, nem deixarás o teu fiel ver a sepultura. Tu me ensinarás
o caminho da vida, cheio de alegria em tua presença, e de delícias à tua
direita, para sempre” (Sl 16,10-11).
____________________________________________________________
Perguntas para ajudar na reflexão e na assimilação do assunto: 1. Qual o ponto que mais chamou a sua atenção nesta reflexão sobre a vocação de todos nós como seres humanos? Por que?
2. Depois do fracasso da observância da Aliança, o povo de Deus começou a observar a natureza com outros olhos. Hoje, diante do fracasso evidente do sistema neoliberal que só quer explorar os recursos da natureza e que ameaça a sobrevivência da vida, qual deveria ser nossa nova maneira de olhar a natureza e os recursos da natureza? Por que?
CESEP, CURSO DO VERÃO, 14 a 16 de janeiro de 2008
JUVENTUDE: VOCAÇÃO E COMPROMISSO À LUZ DA PALAVRA DE DEUS (VI)
JESUS CHAMA OUTRAS PESSOAS
PARA ESTAR COM ELE E IR EM MISSÃO
1. As pessoas chamadas por Jesus
Os doze apóstolos e as outras pessoas, homens e mulheres,
rapazes e moças, que seguiam a Jesus, eram pessoas comuns. Tinham suas virtudes
e seus defeitos. Os evangelhos informam muito pouco sobre o jeito e o caráter
de cada um e cada uma. Mas o pouco que informam é motivo de consolo para nós.
Eis o que se pode afirmar a respeito de algumas destas pessoas chamadas por
Jesus:
* Pedro: Pessoa generosa e entusiasta (Mc
14,29.31; Mt 14,28-29), mas na hora do perigo e da decisão, o seu coração
encolhia e voltava atrás (Mt 14,30; Mc 14,66-72). Jesus rezou por ele (Lc 22,31).
* Tiago e João: Dois irmãos. Estavam dispostos a
sofrer com Jesus (Mc 10,39), mas eram violentos (Lc 9,54). Jesus os chamou filhos do trovão (Mc 3,17). João pensava ter o
monopólio de Jesus. Jesus o corrigiu (Mc 9,38-40
* Filipe: Tinha jeito para colocar os
outros em contato com Jesus (Jo 1,45-46), mas não era muito prático em resolver
os problemas (Jo 6,5-7; 12,20-22). Parecia um pouco ingênuo. Jesus chegou a
perder a paciência com ele: “Filipe, tanto tempo que estou com vocês, e você
ainda não me conhece?” (Jo 14,8-9)
* André: Pessoa prática. Foi ele que
encontrou o menino com cinco pães e dois peixes (Jo 6,8-9). É a ele que Filipe
se dirige para resolver o caso dos gregos que queriam ver a Jesus (Jo
12,20-22), e é André que chama Pedro para encontrar-se com Jesus (Jo 1,40-43).
* Tomé: Com teimosia sustentou sua
opinião, uma semana inteira, contra o testemunho de todos os outros (Jo
20,24-25). É que o Jesus ressuscitado em que Tomé acreditava, tinha de ser o mesmo Jesus
que fora crucificado e que carregava os sinais da tortura no corpo (Jo
20,26-28).
* Natanael: Era bairrista e não podia
admitir que algo de bom pudesse vir de Nazaré (Jo 1,46). Mas quando Jesus o
esclarece, ele se entrega (Jo 1,49). Este Natanael aparece só no evangelho de
João. Alguns o identificam com o Bartolomeu que aparece na lista do evangelho
de Marcos (Mc 3,18).
* Mateus: Era um publicano, pessoa
excluída pela religião dos judeus (Mt 9,9). Sabemos muito pouco da vida dele.
No evangelho de Marcos e de Lucas ele é chamado Levi (Mc 2,14; Lc 5,27). O nome Mateus significa Dom de Deus. Os excluídos são
"mateus" (dom de Deus), para a comunidade.
* Simão: Era um zelote (Mc 3,18). Dele só
sabemos o nome e o apelido. Nada mais. Ele era zelote, isto é, fazia parte do
movimento popular que na época se opunha à dominação romana.
* Judas: Guardava o dinheiro do grupo (Jo
12,6; 13,29). Tornou-se o traidor de Jesus (Jo 13,26-27). Setenta anos depois
da traição, no fim do primeiro século, o autor do quarto evangelho ainda tem
raiva dele e o chama de "ladrão" (Jo 12,4-6).
* Nicodemos: Era membro do Sinédrio, o
Supremo Tribunal da época. Homem importante. Ele aceita a mensagem de Jesus,
mas não tem coragem de manifestá-lo publicamente (Jo 3,1). Junto com José de
Arimatéia cuidou da sepultura de Jesus (Jo 19,39)
* Joana e Susana: Joana era a esposa de Cusa,
procurador de Herodes, que governava a Galiléia. As duas faziam parte do grupo
de mulheres que seguiam a Jesus, o serviam com seus bens e subiam com ele até
Jerusalém (Mc 15,40-41; Lc 8,2-3).
* Maria Madalena: era nascida da cidade de
Magdala. Daí o nome Maria Ma(g)dalena.
Jesus a curou de uma doença (Lc 8,2). Ela o seguiu até ao pé da Cruz (Mc
15,40). Depois da páscoa, foi ela que recebeu de Jesus a ordenação de anunciar
aos outros a Boa Nova da Ressurreição (Jo 20,17; Mt 28,10).
A maior parte dos que seguem Jesus para formar comunidade com ele
eram pessoas simples, sem muita instrução (At 4,13; Jo 7,15). Entre eles havia
homens e mulheres, pais e mães de família (Lc 8,2-3; Mc 15,40s). Alguns eram
pescadores (Mc 1,16.19). Outros, artesãos e agricultores. Mateus era publicano
(Mt 9,9). Simão, do movimento popular zelote (Mc 3,18). É possível que alguns
tenham sido do grupo dos revoltosos,
pois carregavam armas e tinham atitudes violentas (Mt 26,51; Lc 9,54;
22,49-51). Outros ainda tinham sido curados por Jesus de doenças (Lc 8,2).
Havia também alguns mais ricos: Joana (Lc 8,3), Nicodemos
(Jo 3,1-2), José de Arimatéia (Jo 19,38), Zaqueu (Lc 19,5-10) e outros. Estes
sentiram na carne o que quer dizer romper com o sistema e aderir a Jesus.
Nicodemos, ao defender Jesus no tribunal, foi vaiado (Jo 7,50-52). José de
Arimatéia, ao pedir o corpo de Jesus, correu o risco de ser acusado como
inimigo dos romanos e dos judeus (Mc 15,42-45; Lc 23,50-52). Zaqueu devolveu
quatro vezes o que roubou e deu a metade de seus bens aos pobres (Lc 19,8).
Todos eles, tanto os pobres como os poucos ricos, podiam dizer com Pedro:
"Nós deixamos tudo e te seguimos!" (Mt 19,27). Todos eles tiveram que
fazer a "mudança de vida", a "conversão" que Jesus pedia
(Mc 1,15).
Jesus passou uma noite inteira em oração antes de fazer a
escolha definitiva dos doze apóstolos (Lc 6,12-16). Rezou para saber a quem
escolher. E escolheu as pessoas cujos retratos, conservados nos evangelhos,
acabamos de olhar. É com este grupo que Jesus começou a maior revolução da
história do Ocidente! Não escolheu a elite, não escolheu gente formada e
estudada, de altas qualidades. Escolheu pessoas comuns que se sentiam atraídas
pela mensagem de vida que ele trazia. Um consolo para nós! Muito obrigado!
2. O chamado (vocação) e o seu duplo objetivo
2.1.O chamado: “Vem e segue-me!”
A vocação não é coisa de um só momento, mas é feita de
repetidos chamados e convites, de avanços e recuos. Começa à beira do lago (Mc
1,16), e só termina depois da ressurreição (Mt 28,18-20; Jo 20, 21). Começa na
Galiléia (Mc 1,14-17) e, no fim, após um longo processo, recomeça na mesma
Galiléia (Mc 14,28; 16,7), também à beira do lago (Jo 21,4-17). Recomeça
sempre! Na prática, o chamado coincide com a convivência dos três anos com
Jesus, desde o batismo de João até o momento em que Jesus foi levado ao céu (At 1,21-22).
A maneira de Jesus chamar as pessoas é simples e bem
variada. Às vezes, é o próprio Jesus que toma a iniciativa. Ele passa, olha e
chama (Mc 1,16-20). Outras vezes, são os discípulos que convidam parentes e
amigos (Jo 1,40-42.45-46) ou é João Batista que o aponta como o “Cordeiro de
Deus” (Jo 1,35-39). Outras vezes ainda, é a própria pessoa que se apresenta e
pede para segui-lo (Lc 9,57-58.61-62). A maior parte dos que são chamados já
conhece a Jesus. Eles já tiveram alguma convivência com ele. Tiveram a
oportunidade de vê-lo ajudar as pessoas ou de escutá-lo na sinagoga da
comunidade (Jo 1,39; Lc 5,1-11). Sabem como Jesus vive e o que ele pensa.
O chamado é gratuito; não custa. Mas acolher a vocação
exige decisão e compromisso. Jesus não esconde as exigências. Quem quer
segui-lo deve saber o que está fazendo: deve mudar de vida e crer na Boa Nova
(Mc 1,15); deve estar disposto a abandonar tudo e assumir com ele uma vida
pobre e itinerante. Quem não estiver disposto a fazer tudo isto, "não pode
ser meu discípulo" (Lc 14,33). O peso, porém, não está na renúncia, mas
sim no amor que dá sentido à renúncia (Jo 21,15-17). É por amor a Jesus (Lc
9,24) e ao Evangelho (Mc 8,35) que o discípulo ou a discípula renuncia a si
mesmo e carrega sua cruz, todos os dias, para seguí-lo (Mt 10,37-39; 16,24-26;
19,27-29).
O chamado é como um novo começo! É como nascer de novo (Jo
3,3-8). Quem aceita o chamado, deve “deixar que os mortos enterrem seus
mortos”(Lc 9,60). Deve seguir em frente e não olhar para trás (Lc 9,62). O
chamado é um tesouro escondido, uma pedra preciosa. Por causa dele, a pessoa
abandona tudo, segue Jesus (Mt 13,44-46) e entra na nova família, na nova
comunidade (Mc 3,31-35).
2.2.O duplo objetivo da vocação: comunidade e missão
Desde o começo, o objetivo é duplo. Seguir Jesus significa:
(1) estar com ele, formar comunidade com ele (Mc 1,17; 10,21); (2) ir em
missão, ser pescador de homens" (Mc 1,17; Lc 5,10).
Depois de um tempo de convivência, Jesus renova o chamado.
Marcos diz: "Jesus subiu
a montanha e chamou a si os que ele queria, e eles foram até ele. E constituiu
os Doze para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar e terem autoridade
para expulsar os demônios" (Mc
3,13-15). Este novo chamado continua tendo o mesmo duplo objetivo: (1)
"ficar com ele", isto é, formar uma comunidade estável ao redor dele;
(2) “ir pregar e expulsar os demônios", isto é, andar em missão de um
lugar para outro. Os dois objetivos fazem parte da mesma vocação, do mesmo
chamado. Um não exclui o outro. Eles se completam. Um sem o outro, não se
realiza.
"Seguir" era o termo que se usava naquele tempo para indicar o
relacionamento entre o discípulo e seu mestre. O discípulo "segue" o
mestre e se forma na convivência com ele. Como os rabinos (mestres) da época,
Jesus reúne discípulos para formar comunidade com eles. O relacionamento Mestre
x Discípulo é diferente do relacionamento Professor x Aluno. O aluno assiste às
aulas do professor sobre uma determinada matéria, mas não convive com ele. O
discípulo convive com o mestre, vinte e quatro horas por dia. Ser mestre, como
Jesus, já aos 30 anos de idade é sinal de muita maturidade e equilíbrio. Ter
sempre doze pessoas perto! Sempre! De vez em quando, Jesus não agüenta mais e
perde a paciência (Mc 9,19) ou sai para ficar a sós (Mc 6,46).
Seguir Jesus significava:
* Imitar o exemplo do Mestre: Jesus era o modelo a ser recriado
na vida do discípulo ou da discípula (Jo 13,13-15). A convivência diária
permitia um confronto constante. Nesta "Escola de Jesus" só se
ensinava uma única matéria: o Reino! E este Reino se reconhecia na vida e na
prática de Jesus
* Participar do destino do Mestre: Quem seguia Jesus devia comprometer-se com ele e
"estar com ele nas tentações" (Lc 22,28), inclusive na perseguição
(Jo 15,20; Mt 10,24-25). Devia estar disposto a carregar a cruz e a morrer com
ele (Mc 8,34-35; Jo 11,16).
* Ter a vida de Jesus dentro de si: Depois da Páscoa, acrescentou-se
uma terceira dimensão: identificar-se com Jesus, vivo na comunidade. Os
primeiros cristãos procuravam refazer a mesma caminhada de Jesus que tinha
morrido em defesa da vida e foi ressuscitado pelo poder de Deus (Fl 3,10-11).
Trata-se da dimensão mística do seguimento de Jesus, fruto da ação do Espírito:
"Vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim"(Gl 2,20).
3. A comunidade:
lugar onde se guarda e se cultiva a vocação
3.1.A convivência comunitária: viveiro da vocação
Todos eles "seguem Jesus", formando grupos
concêntricos em torno a ele. Um núcleo menor de doze (Mc 3,14), como as doze
tribos de Israel (Mt 19,28). Uma comunidade mais ampla de homens e mulheres (Lc
8,1-3). Um grupo maior de setenta e dois (Lc 10,1). As multidões que se reúnem
ao redor de Jesus para ouvir a sua mensagem. Dentro do núcleo dos doze, de
acordo com a finalidade do momento, Jesus forma grupos menores. Por exemplo,
chama Pedro, Tiago e João para momentos de oração (Mt 26,37s; Lc 9,28).
Como todos os grupos de discípulos daquela época, assim
também o grupo que "segue Jesus" tinha o seu ritmo de vida: diário,
semanal, anual:
1. O ritmo
diário na família, na comunidade: O povo rezava três vezes ao dia: de
manhã, ao meio dia e à noite. Eram os três momentos em que se oferecia o
sacrifício no Templo. Assim, a nação inteira se unia diante de Deus. Eram
orações tiradas da Bíblia ou inspiradas pela Bíblia que marcavam o ritmo diário
da vida de Jesus e da sua comunidade ao longo dos três anos da formação.
2. O ritmo
semanal na sinagoga: Um escrito antigo da Tradição
Judaica, chamado Pirquê Abot (palavras dos pais), dizia: “O
mundo repousa sobre três colunas: a Lei,
o Culto e o Amor”.
Era o que eles faziam todos os Sábados. Mesmo durante as viagens missionárias,
Jesus e os discípulos tinham o "costume" de, aos sábados, se reunirem
com o povo na sinagoga para ouvir as leituras da Bíblia (Lei), para
rezar e louvar a Deus (Culto), e para discutir as coisas da vida da
comunidade e descobrir como ajudar as pessoas necessitadas (Amor) (Lc
4,16.44; Mc 1,39).
3. O ritmo
anual no Templo: Era baseado no ano litúrgico com
suas festas. Cada ano, o povo tinha que fazer três romarias a Jerusalém para
visitar a Deus no seu Templo (Ex 23,14-17). Jesus e os discípulos participavam
das romarias e visitavam o Templo de Jerusalém nas grandes festas (Jo 2,13;
5,1; 7,14; 10,22; 11,55).
Criava-se assim um ambiente familiar e comunitário,
impregnado pela leitura orante da Palavra de Deus, em que Jesus convivia com os discípulos e as
discípulas. Foi nesta "convivência" de três anos com Jesus, que os
discípulos e as discípulas receberam a sua formação. Em que consistia esta
formação? A formação do "seguimento de Jesus" não era, em primeiro
lugar, a transmissão de verdades a serem decoradas, mas era a comunicação da nova
experiência de Deus e da vida que irradiava de Jesus para os discípulos e as discípulas. A
própria comunidade que se formava ao redor de Jesus era a expressão desta nova
experiência de Deus e da vida. A formação levava as pessoas a terem outros
olhos, outras atitudes. Fazia nascer nelas uma nova consciência a respeito da
missão e a respeito de si mesmas. Fazia com que colocassem os pés do lado dos
excluídos. Produzia aos poucos a "conversão" como conseqüência da
aceitação da Boa Nova (Mc 1,15).
3.2.A missão: manifestação da vocação, amostra grátis do Reino
A missão não é uma tarefa que a comunidade pode executar,
terminar e, depois, ficar livre dela. A missão é a natureza mesma da
comunidade. A comunidade cristã ou é missionária ou não é comunidade cristã. A raiz da Missão é a
nova experiência de Deus como Abba,
Pai. Se Deus é Pai e Mãe, então todos devemos conviver como irmãos e irmãs. Mas
a situação em que se encontrava o povo no tempo de Jesus era o contrário da
fraternidade que Deus sonhou para todos! Diante desta situação, Jesus não se
manteve neutro. Pelo contrário! Motivado pela sua experiência de Deus, tomou
posição em defesa da vida do povo e definiu sua missão e vocação da seguinte
maneira:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu
para anunciar a Boa Nova aos pobres, enviou-me para proclamar a libertação aos
presos, a recuperação da vista aos cegos, restituir a liberdade aos oprimidos
e proclamar um ano de graça da parte do Senhor” (Lc 4,18-19).
A missão que a comunidade dos discípulos e discípulas
recebe de Jesus é a mesma que ele recebeu do Pai: "Como o Pai me enviou
assim envio vocês" (Jo 20,21). Jesus é o eixo, o centro, o modelo, a
referencia da comunidade. Ele é o "caminho, a verdade e a vida" (Jo
14,6). Pelas suas atitudes, ele é uma amostra do Reino: encarna e revela o amor
de Deus (Mc 6,31; Mt 10,30; Lc 15,11-32). A plataforma de onde se parte para a
Missão é a comunidade, que vive a nova fraternidade. A Comunidade deve ser como
o rosto de Deus, transformado em Boa Nova para o povo.
O que significa isto no concreto? Toda nova experiência de
Deus, quando verdadeira, traz mudanças profundas na
convivência humana. Eis algumas das mudanças que foram aparecendo na comunidade
que se formou ao redor de Jesus e que caracterizam a formação recebida pelos
discípulos e pelas discípulas ao longo dos três anos de convivência:
1. Todos
irmãos: Ninguém deve
aceitar o título de mestre, nem de pai, nem de guia, pois "um só é o
mestre de vocês e todos vocês são irmãos" (Mt 23,8-10). A base da
comunidade cristã não é o saber, nem o poder, nem a hierarquia, mas sim a
igualdade de todos como irmãos. É a irmandade de todos ao redor do mesmo
ideal.
2. Igualdade
homem e mulher: Jesus
muda o relacionamento homem-mulher, pois tira o privilégio do homem frente à
mulher (Mt 19,7-12). Não só os homens, também as mulheres “seguem” Jesus, desde
a Galiléia (Mc 15,41; Lc 23,49; 8,1-3). Ele revela os seus segredos tanto aos
homens como às mulheres. À Samaritana revelou que é o Messias (Jo 4,26). À
Madalena apareceu por primeiro depois de ressuscitado e lhe deu a ordenação de
anunciar a Boa Nova aos apóstolos (Mc 16,9-10; Jo 20,17).
3. Partilha
dos bens: Na comunidade
que se formou ao redor de Jesus, ninguém tinha nada de próprio (Mc 10,28). Jesus
não tinha onde reclinar a cabeça (Mt 8,20). Havia uma caixa comum que era
partilhada também com os pobres (Jo 13,29). Nas viagens o missionário confia no
povo que o acolhe e depende da partilha que recebe (Lc 10,7). Jesus elogia a
viúva que sabe doar até do necessário (Mc 12, 41-44).
4. Amigos
e não empregados: A
partilha tem uma base econômica, mas deve crescer e atingir a alma e o coração
das pessoas (At 1,14; 4,32). A comunhão deve chegar ao ponto de não haver mais
segredo entre eles: “Já não os chamo de empregados, mas sim de amigos. Pois
tudo que ouvi do meu Pai contei para vocês” (Jo 15,15).
5. Poder
é serviço: "Os
reis das nações as dominam e os que as tiranizam são chamados benfeitores.
Entre vocês não seja assim" (Lc 22,25-26). “Quem quiser ser o primeiro
seja o último!” (Mc 10,44). Jesus deu o exemplo (Jo 13,15). "Não veio para
ser servido, mas para servir e doar a vida" (Mt 20,28). É o ponto em que Jesus mais insistiu com os discípulos.
6. Poder
de perdoar e reconciliar: O
poder de perdoar não é privilégio de alguns. Foi dado à comunidade (Mt 18,18),
aos apóstolos (Jo 20,23) e também a Pedro (Mt 16,19). O perdão de Deus passa
pela comunidade, que deve ser um lugar de perdão e de reconciliação, e não de
condenação mútua.
7. Oração
em comum: Eles iam
juntos em romaria ao Templo (Jo 2,13; 7,14; 10,22-23), rezavam antes das refeições
(Mc 6,41; Lc 24,30), freqüentavam as sinagogas (Lc 4,16). E em grupos menores
Jesus se retirava com eles para rezar (Lc 9,28; Mt 26,36-37).
8. Alegria: Jesus diz aos discípulos:
"Felizes são vocês!", porque seus nomes estão escritos no céu (Lc
10,20), seus olhos vêem a realização da promessa (Lc 10,23-24), o Reino é de
vocês! (Lc 6,20). É alegria que convive com dor e perseguição (Mt 5,11).
Ninguém consegue roubá-la (Jo 16,20-22).
Estas são algumas das características da comunidade que
nasce ao redor de Jesus e na qual se guarda e se cultiva a vocação. Ela é o
modelo para a comunidade dos primeiros cristãos, descrita nos Atos dos
Apóstolos (At 2,42-47; 4,32-35). A convivência numa comunidade assim é
necessariamente formadora. Ela consolida e faz crescer a vocação. Sem
convivência comunitária é muito difícil nascer, crescer e desabrochar uma
autêntica vocação segundo o rumo da Boa Nova que Jesus nos trouxe, pois a comunidade
é a amostra grátis da Boa Nova do Reino.
4.
Jesus é atento ao processo e ao cultivo da vocação nos discípulos
4.1.Jesus é o amigo que forma os discípulos para a missão
Para manter-se sempre na missão e não se acomodar na
mentalidade de “tarefa cumprida”, é necessário um processo contínuo de formação
e de atenção à realidade do povo. Jesus aparece nos evangelhos como o amigo que
forma seus discípulos com um acompanhamento e presença permanentes. Ele é uma
"pessoa significativa" para eles, que vai marcá-los para o resto da
vida.
Ao longo daqueles três anos, Jesus acompanha os discípulos
e as discípulas. Convive com eles, come com eles, anda com eles, alegra-se com
eles, sofre com eles. É através desta convivência que eles, quase todos jovens,
se formam na vocação e no compromisso. Desde o primeiro momento do chamado,
Jesus os envolve na missão (Lc 9,1-2; 10,1). Dois a dois, devem anunciar a
chegada do Reino (Mt 10,7; Lc 10,1.9). Devem curar os doentes (Lc 9,2),
expulsar os demônios (Mc 3, 15), anunciar a paz (Lc 10,5; Mt 10,13), rezar pela
continuidade da missão (Lc 10,2). A participação efetiva no anúncio do Reino
faz parte do processo formador, pois a missão é a razão de ser da vida
comunitária ao redor de Jesus.
Muitos pequenos gestos refletem o testemunho de vida com
que Jesus marcava presença na vida dos discípulos e das discípulas. Era a sua
maneira de dar forma humana à experiência que ele mesmo tinha de Deus como Pai.
Neste seu jeito de ser e de conviver, de se relacionar com as pessoas, de lidar
com o povo e de atender aos que vinham falar com ele, Jesus aparece:
* como uma pessoa de paz, que inspira paz e reconciliação:
"A Paz esteja com vocês!".(Jn 20,19; Mt 10,26-33; Mt 18,22; Jn 20,23;
Mt 16,19; Mt 18,18).
* como uma pessoa livre e liberta, que desperta liberdade e
promove a libertação: "O ser humano não foi feito para o sábado, mas o
sábado para o ser humano!" (Mc2,27; 2,18.23)
* como uma pessoa de oração, que aparece rezando em todos
os momentos importantes de sua vida e desperta nos outros vontade de rezar:
"Senhor, ensina-nos a rezar!" (Lc 11,1-4; Lc 4,1-13; 6,12-13; Jn
11,41-42; Mt 11,25; Jn 17,1-26; Lc 23,46; Mc 15,34)
* como uma pessoa carinhosa, que provoca respostas fortes
de amor: na moça do perfume (Lc 7,37-38), em Madalena (João 21,15-17), em Pedro
(Mt 18,21; 19,27) e em tantos outros (cf. Mc 14,3-9; Jo 13,1).
* como uma pessoa acolhedora, que está sempre presente na
vida dos discípulos e os acolhe quando voltam da missão fazendo revisão com
eles (Lc 10,17-20)
* como uma pessoa misericordiosa, mansa e humilde, que
convida os pobres: "Venham todos a mim" (Mt 11,28)
* como uma pessoa realista e observadora, que chama a
atenção dos discípulos para as coisas da vida através do ensino das Parábolas
(Lc 8,4-8)
* como uma pessoa atenciosa, preocupada com a alimentação
dos discípulos (Jo 21,9), que cuida até do descanso deles e quer estar a sós
com eles para que possam descansar (Mc 6,31).
* como uma pessoa preocupada com a situação do povo, que
esquece o próprio cansaço quando se encontra com o povo que o procura (Mt
9,36-38).
* como
uma pessoa amiga, que comparte tudo, até mesmo o segredo do Pai (Jn 15,15).
* como
uma pessoa compreensiva, que aceita os discípulos do jeito que são, até mesmo a
fuga, a negação e a traição, sem romper com eles (Mc 14,27-28; Jn 6,67).
* como
uma pessoa comprometida, que defende os amigos quando são criticados pelos
adversários (Mc 2,18-19; 7,5-13),
* como
uma pessoa sábia que conhece a fragilidade do ser humano, sabe o que se passa
no seu coração e, por isso, insiste na vigilância e ensina-os a rezar (Lc
11,1-13; Mt 6,5-15).
* Numa palavra, Jesus aparece como uma pessoa humana, muito
humana, tão humana como só Deus pode ser humano!
4.2.Jesus é o formador que aponta o perigo do fermento dos
fariseus e herodianos
Não é pelo fato de uma pessoa andar com Jesus e de conviver
com ele na mesma comunidade que ela já era santa e renovada. No meio dos
discípulos, cada vez de novo, a mentalidade antiga levantava a cabeça e
ameaçava a vocação, pois o “fermento de Herodes e dos fariseus” (Mc 8,15), a
ideologia dominante, tinha raízes profundas. A conversão que Jesus pede e a
formação que ele dá querem atingir a raiz e erradicar o “fermento”.
Como no tempo de Jesus, também hoje, a mentalidade antiga
do sistema neoliberal renasce e reaparece na vida das nossas comunidades.
Também hoje, o fermento dos
fariseus tem raízes profundas
na vida e exige uma vigilância constante. Jesus ajudava os discípulos a viverem
em processo permanente de formação. Eis alguns casos desta vigilância com que
Jesus os acompanhava. É a ajuda fraterna com que ele, atento ao processo da
vocação em cada discípulo, intervém para ajudá-lo a dar um passo e criar nova
consciência:
1. Mentalidade
de grupo fechado: Certo
dia, alguém que não era da comunidade, usava o nome de Jesus para expulsar os
demônios. João viu e proibiu: “Impedimos, porque ele não anda conosco” (Mc
9,38). Em nome da comunidade João impediu uma ação boa! Ele pensava ser dono de
Jesus e queria proibir que outros usassem o nome dele para realizar o bem. João
queria uma comunidade fechada sobre si mesma. Era a mentalidade antiga de
"Povo eleito, Povo separado!". Jesus responde: "Não impeçam! Quem não é contra é a
favor!" (Lc 9,39-40). Para Jesus, o que importa não é se a pessoa faz ou
não faz parte da comunidade, mas sim se ela faz ou não o bem que a comunidade
anuncia em nome de Deus.
2. Mentalidade
de grupo que se considera superior aos outros: Certa vez, os samaritanos não
queriam dar hospedagem a Jesus. Reação dos discípulos: “Que um fogo do céu
acabe com esse povo!” (Lc 9,54). Queriam imitar o profeta Elias (2Rs 1,10.12).
Achavam que, pelo fato de estarem com Jesus, todos deviam acolhê-los. Pensavam
ter Deus do seu lado para defendê-los. Era a mentalidade antiga de “Povo
eleito, Povo privilegiado!”. Jesus os repreende: "Vocês não sabem de que
espírito estão sendo animados" (Lc 9,55)
3. Mentalidade
de competição e de prestígio: Os
discípulos brigavam entre si pelo primeiro lugar (Mc 9,33-34). Era a
mentalidade de classe e de competição, que caracterizava a sociedade do Império
Romano. Ela já se infiltrava na pequena comunidade que estava apenas começando!
Jesus reage e manda ter a mentalidade de serviço: "O primeiro seja o
último" (Mc 9, 35). É o ponto em que ele mais insistiu e em que mais deu o
próprio testemunho: “Não vim para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45; Mt
20,28; Jo 13,1-16).
4. Mentalidade
de quem marginaliza o pequeno: Os
discípulos afastavam as crianças. Era a mentalidade da cultura da época em que
criança não contava e devia ser disciplinada pelos adultos. Jesus os repreende:
”Deixem vir a mim as crianças!” (Mc 10,14). Ele coloca criança como professora
de adulto: “Quem não receber o Reino como uma criança, não pode entrar nele”
(Lc 18,17).
5. Mentalidade
de quem segue a opinião da ideologia dominante: Certo dia, vendo um cego, Pedro
pergunta: "Quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse cego?" (Jo
9,2). Como hoje, o poder da opinião pública era muito forte. Fazia todo mundo
pensar de acordo com a ideologia dominante. Enquanto se pensa assim não é
possível perceber todo o alcance da Boa Nova do Reino. Jesus os ajuda a ter uma
visão mais crítica: “Nem ele, nem os pais dele” (Jo 9,3). A resposta de Jesus
supõe uma leitura diferente da realidade.
4.3.O resultado da vocação de Jesus na vida dos discípulos
Foi um processo lento e difícil, pois não é fácil fazer
nascer nos outros uma nova visão de Deus, da vida, do próximo, da história, do
Reino, do Messias, do povo de Deus. Jesus nem sempre era compreendido e,
olhando os resultados imediatos, nem sempre teve sucesso. Muitas vezes, os
discípulos não entendiam o que ele queria dizer (Mc 4,13; 6,52; 7,18; 8,15-21;
Lc 18,34); eles procuravam
promover-se a si mesmos (Mc 10,35-37); no fim dos três anos, na hora do
sofrimento, Pedro o negou, Judas o traiu, todos fugiram (Jn 18,5.17-26; Mc
14,50); depois da ressurreição, todos eles duvidam (Mt 28,17), não aceitam o
testemunho das mulheres (Lc 24,22-24), Tomé não crê (Jn 20,24-29); na hora da
ascensão, todos perguntam: "É agora que o senhor vai instaurar o
Reino?" (At 1,6). A pergunta revela que eles não tinham entendido muita
coisa! Só as mulheres continuaram fiéis até o fim e são apresentadas como
modelo (Lc 8,1-3; 21,2-4; Mc 14,6-9; 15,40-41).
Apesar de todo este aspecto negativo, há algo novo e muito
positivo que cresceu na vida daquelas pessoas. Aos poucos, através da
convivência, Jesus foi se tornando o eixo da vida deles. Após dois ou três anos
na comunidade com Jesus, a vocação se consolidou e eles já não podem imaginar a
vida sem Jesus. Pedro declara que, fora de Jesus, não tem para onde ir:
"Onde podemos ir? O Senhor tem palavras de vida eterna!" (Jn 6,68).
Os dois irmãos João e Tiago, filhos de Zebedeu, chegam a dizer que estão
dispostos a sofrer por amor a Jesus: "Podemos!" (Mc 10,39). E Tomé,
quando percebeu que Jesus, voltando para a Judéia corria o perigo de ser morto,
diz para os companheiros: "Vamos nós também morrer com Ele (Jo 11,16).
5. A opção
pelos pobres e excluídos faz parte da vocação
Jesus veio para que todos tenham vida e a tenham em
abundância” (Jo 10,10). Numa sociedade, porém, onde muitos são excluídos, sem
condições de ter vida de gente, esta mensagem só se faz presente na contramão. Pois Deus não se
coloca do lado dos que crucificam, mas sim do lado dos crucificados. Jesus anunciava
o Reino para todos! Não excluía ninguém, mas ele o anunciava a partir dos
excluídos. Jesus oferecia um lugar aos que não tinham lugar na convivência
humana. Acolhia os que não eram acolhidos. Recebia como irmão e irmã aos que a
religião e o governo desprezavam e excluíam:
* os imorais:
prostitutas e pecadores (Mt 21,31-32; Mc 2,15; Lc 7,37-50; Jo 8,2-11),
* os hereges:
pagãos e samaritanos (Lc 7,2-10; 17,16; Mc 7,24-30; Jo 4,7-42),
* os impuros:
leprosos e possessos (Mt 8,2-4; Lc 11,14-22; 17,12-14; Mc 1,25-26),
* os marginalizados:
mulheres,crianças e doentes (Mc 1,32; Mt 8,17;19,13-15; Lc 8,2s),
* os colaboradores:
publicanos e soldados (Lc 18,9-14;19,1-10);
* os pobres:
o povo da terra e os pobres sem poder (Mt 5,3; Lc 6,20.24; Mt 11,25-26).
Jesus lutava para recuperar a bênção da vida (Gn 1,27-28;
12,3), perdida por causa do pecado (Gn 3,15-19). Onde podia, ele defendia a
vida contra os males que a ameaçavam ou matavam. E aos que queriam segui-lo, ele dava o poder de
curar as doenças e de expulsar os maus espíritos (Mc 3,15; 6,7). Ou seja, os
discípulos e as discípulas deviam assumir o mesmo combate em defesa da vida.
Assim, através da sua ação e pregação, Jesus combatia: a fome (Mc 6,35-44), a doença (Mc 1,32-34), a tristeza (Lc 7,13), a ignorância (Mc 1,22; 6,2), o abandono (Mt 9,36), a solidão (Mt 11,28; Mc 1,40-41), a letra que mata (Mc 2,23-28; 3,4), a discriminação (Mc 9,38-40; Jo 4,9-10), as leis opressoras (Mt 23,13-15; Mc 7,8-13), a injustiça (Mt 5,20; Lc 22,25-26), o medo (Mc 6,50; Mt 28,10), males da natureza (Mt 8,26), o sofrimento (Mt 8,17), o pecado (Mc 2,5), a morte (Mc 5,41-42; Lc 7,11-17), o demônio (Mc 1,25.34; Lc 4,13),...
Havia divisões injustas, legitimadas pela religião oficial,
que marginalizavam muita gente. Jesus, com palavras e gestos bem concretos,
ignorou estas divisões e as denunciou com força:
* próximo
e não-próximo (Lc 10,29-37);
* judeu e
estrangeiro (Mt 15,21-28);
* santo e
pecador (Lc 19,1-10; Mc
2,15-17);
* puro e
impuro (Mt 23,23-24; Mc 7,
8-23; Mc 7,19);
* obras
santas e profanas (Mt
6,1-18);
* tempo
sagrado e profano (sábado)
(Mc 2,27; Jo 7,23);
* lugar
sagrado e profano (templo)
(Jo 4,21-24; 2,19; Mc 13,2);
* rico e
pobre (Lc 16,13; Lc 9,58)
Combatendo estes males e denunciando estas divisões
injustas, Jesus convida as pessoas a se definirem frente aos novos valores do
amor e da justiça. Alguns o aceitam, outros o rejeitam. Por isso, ele cria
novas divisões (Mt 10,34-36) e se torna “sinal de contradição” (Lc 2,34). E aos
que querem segui-lo,
adverte que se preparem. Irão sofrer a mesma contradição (Mt 10,25).
6. Seguir Jesus na contramão, obediente a Deus e aos pobres
até à morte de Cruz
A Boa Nova fez surgir uma nova divisão. Não a divisão
causada por crenças e ritos, mas sim a divisão que tinha a ver com a prática da
justiça e da verdade. A opção de Jesus é clara, seu apelo também: não é
possível ser amigo de Jesus e continuar apoiando um sistema que marginaliza
tanta gente. E aos que querem seguí-lo ele manda escolher: "Ou Deus, ou
o dinheiro! Servir aos dois não dá!" (Mt 6,24) "Vai, vende tudo que
tens, dá aos pobres. Depois, vem e segue-me" (Mt 19,21). Numa sociedade
assim, Seguir Jesus significa assumir com ele a mesma luta
em defesa da vida, "estar com ele nas tentações" (Lc 22, 28),
inclusive na perseguição (Jo 15,20; Mt 10,24-25), carregar a cruz e segui-lo
até na morte (Jo 11,16).
Entre os males combatidos por Jesus estavam as falsas
lideranças. Jesus percebeu a mentalidade opressora das autoridades da época e a
denunciou. Não teve medo de denunciar a hipocrisia de muitos líderes religiosos
da época: sacerdotes, escribas e fariseus (Mt 23,1-36; Lc 11,37-52; 12,1; Mc
11,15-18). Condenou a pretensão dos ricos (Lc 6,24; 12,13-21; Mt 6,24; Mc
10,25). Não acreditava muito na sua conversão (Lc 16,29-31), embora admitisse
que fosse possível pelo poder de Deus (Mt 19,26). Diante das ameaças do poder
político, tanto dos judeus como dos romanos, Jesus não se intimidava. Mantinha
uma atitude de grande liberdade (Lc 13,32;23,9; Jo 19,11;18,23).
Por meio destes gestos de denúncia, Jesus fazia estremecer
as pilastras da religião oficial, incomodava os que estavam bem instalados, e
atraía sobre si o ódio dos líderes religiosos e civis da época. Mas Jesus não
voltou atrás. Continuou fiel à sua vocação que ele mesmo definiu como
"anunciar a Boa Notícia aos pobres; proclamar a libertação aos presos e
aos cegos a recuperação da vista; libertar os oprimidos" (Lc 4,18). Era a
maneira de encarnar o amor de Deus para o povo da sua terra. Quem anuncia o
amor numa sociedade organizada a partir dos critérios do egoísmo e dos
interesses de grupos morre crucificado. Foi o que aconteceu. Bastaram só três
anos e ele foi acusado, preso, condenado e morto na cruz. Mas Deus o
ressuscitou, confirmando assim que o caminho da vocação de Jesus é o caminho do
agrado do Pai.
Esta mensagem, os primeiros cristãos souberam expressá-la
na letra de um cântico que foi retomada por Paulo numa das suas cartas. Pena
que só temos a letra e não a melodia, pois quando a letra casa bem com a
melodia, a filha que nasce é a animação da comunidade e o crescimento das
pessoas na sua vocação. Transcrevo aqui a letra como palavra final destas
reflexões sobre: “Juventude:
Vocação e Compromisso à luz da Palavra de Deus”:
Tenham em vocês os mesmos sentimentos
que havia em Jesus Cristo !
Ele
tinha a condição divina,
mas não
se apegou à sua igualdade com Deus.
Pelo
contrário, esvaziou-se a si mesmo,
assumiu
a condição de empregado
e
tornou-se ser humano, igual a nós.
E
vivendo como simples homem,
humilhou-se
a si mesmo,
tornou-se
obediente até à morte,
e morte
de cruz
Por
isso, Deus o exaltou,
e lhe
deu o Nome
que
está acima de todo nome;
para
que, ao nome de Jesus,
se
dobre todo o joelho
no céu,
na terra e debaixo da terra;
e toda
língua confesse
que
Jesus Cristo é o Senhor,
para a
glória de Deus Pai. (Flp
2,5-11)
Perguntas para ajudar na reflexão e na assimilação do assunto:
1. O que mais chamou a sua atenção nas atitudes que Jesus tomava para chamar as pessoas? Por que?
2. Faça a você a seguinte pergunta: Quem é Jesus para mim? Quem sou eu para Jesus?
CESEP, CURSO DO VERÃO, 14 a 16 de janeiro de 2008
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