Histórico

A Paróquia Santo André, foi desmembrada da Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição, fundada em 20 de junho de 1971, tem como padroeiro o Apóstolo André, santo que a Igreja celebra sua memória no dia 30 de novembro, data de seu martírio. No dia 30 de novembro de 2014, Dom Redovino Rizzardo elevou à qualidade de paróquia, nomeando o primeiro pároco, o Padre Otair Nicoletti. A equipe de Coordenação do Conselho Comunitário de Pastoral - CCP está formada pelas seguintes pessoas: Coordenação: Laudelino Vieira, Paulo Crippa; Assuntos Econômicos: José Zanetti, Valter Claudino; Secretaria: Marcus Henrique e Naiara Andrade.

sábado, 28 de julho de 2012

NOTÍCIAS: FOTOS DAS ÚLTIMAS REFORMAS DA IGREJA SANTO ANDRÉ

Depois de algumas semanas utilizando o salão de eventos como local para as celebrações, em razão da igreja passar por mais uma etapa nas reformas físicas da igreja Santo André, desde a quarta-feira, a igreja foi liberada para a utilização dos fiéis. Vejam como ficou até o momento...

















quinta-feira, 26 de julho de 2012

BÍBLIA: O QUE LER EM ALGUMAS SITUAÇÕES

TEXTOS DAS SAGRADAS ESCRITURAS

Confiança em Deus: Sl 27; Sl 46; Sl 91 Sl 121; Sl 139, 1-13; Pr3, 11-26; Is26, 1-9; Is 40,1-11; Is 40, 25-fim; Lm 3, 22-33; Os 6,1-3; Mt 6, 24-fim; Mt 11,25-30; Rm 8, 31-fim

Cura em resposta à oração:
2 Rs 20,1-5; Sl 30; Sl 34; Sl 138

Súplica pelo auxilio de Deus:
Sl 13; Sl 43; Sl 86; Sl 143; Tg 5, 10-fim

Arrependimento:
Sl 51; Sl 130

Louvor e acção de graças:
Sl 103; Sl 146; Is 12

Uma jovem humilde e um homem importante:
2Rs 5,1-14

O valor da aflição:
Jb 33, 14-30; Heb 12,1-11

Cristo, exemplo de sofrimento:
Is 53; Mt 26, 33-46; Lc 23, 26-49

O Salvador proclama boas novas aos aflitos:
Is 61, 1-3.

A cura é sinal da vinda do reino de Deus:
Mt 10, 1.7-8; Lc 7, 20-23

A cura está relacionada com a pregação:
Mc 6,7-13

Jesus cura de modos diversos:
Mc 10, 46-52; Mt 8, 1- 4; Mc 7, 32-37; Jo 9, 1-7 Mc 8, 22-25; Jo 4, 46-53; Lc 4, 38-41 Mc 5, 25-34; Jo 5, 2-9; Mc 2,1-12 Mt 15, 29-31

Cura relacionada com oração e arrependimento:
Mc 9, 14 -29; Tg 5, 14-16

Resposta à cura:
Mc 10, 46-52; Jo 5, 1-15; Lc 17, 1-19.

Os discípulos de Cristo também são chamados a curar:
Jo 14, 12-14; Act 3, 1-10; Act 4, 8-12; Act 9, 32-35; Act 14, 8-10; Act 16, 16-18; Act 28, 7-9

Se a cura física não acontece:
Sl 73, 21-26; Lc 22, 42; 2Cor 12,7-10

Deus convida ao arrependimento e à fé:
Is 55.

As Bem-aventuranças:
Mt 5,1-12

Vigilância:
Lc 12, 32-40

Cristo, o Bom Pastor:
Sl 23; Jo 10, 1-18

A Ressurreição:
Jo 20,1-18; Jo 20, 19-fim; 2 Cor 4, 13 - 5, 9.

A Redenção:
Rm 5, 1-11; Rm 8, 14-fim; 1Jo 1, 1-9

O amor cristão:
1Cor 13.

O crescimento na graça:
Ef 3, 13-fim; Ef 6, 10-20; Fl 3, 7-14.

Paciência no sofrimento: .
2Cor 4, 16-18; Tg 5, 10-fim.

O amor de Deus por nós:
1Jo 3, 1-7; 1Jo 4, 9-fim.

A vida no mundo que há-de vir:
Ap 7, 9-fim; Ap 21, 1-7; Ap 21, 22-fim Ap 22,1-5

O sermão de Jesus antes da sua paixão:
Jo 14, 15, 16, 17

JUVENTUDE: VOCAÇÃO E COMPROMISSO À LUZ DA PALAVRA DE DEUS (FINAL)



APÊNDICE
OLHANDO O ALBUM DA FAMÍLIA DE DEUS

 A variedade das vocações dentro do mesmo Projeto de Deus
A Bíblia é como um álbum de fotografias em que a gente encontra uma variedade imensa de vocações que trazem luz para iluminar a vocação que sentimos dentro de nós. A maneira de Deus chamar as pessoas é muito variada. Nenhuma vocação se repete. Chama Abraão e Sara de um jeito e a Maria Madalena de outro jeito. Também a maneira de perceber a vocação é diferente, e diferentes são as respostas que são dadas. Uns oferecem resistências, outros aceitam logo. Uns, como Jeremias, têm problema e dúvidas, lutam com a vocação até o fim da sua vida. Outros, como Amós, não têm problemas nem dúvidas e aceitam o chamado que se torna o eixo de suas vidas. Uns são chamados desde a juventude, e outros só depois de velhos. Uns são chamados para uma tarefa bem limitada e outros para uma missão que envolve a vida inteira.
A Palavra que chama, às vezes, se impõe com força irresistível como fogo dentro dos ossos (Jr 20,9) ou como martelo que rebenta as rochas (Jr 23,29). Outras vezes, como convite que deixa total liberdade (Is 6,8). Outras vezes, deixa a pessoa na revolta e no sofrimento (Jr 20,7-18), outras vezes na alegria (Jr 15,16). Para uns, o chamado de Deus vem com muita clareza, para outros não há clareza nenhuma, nem percebem nada de Deus. Sentem apenas uma necessidade humana que não pode ficar sem resposta. E quando no julgamento final Deus os elogia (Mt 25,34-35), eles dizem: “Quando foi que vi o senhor com fome e sede, sem roupa e na prisão, doente? Não estou lembrado!” (Mt 25,37-39) E Deus responderá: “Foi quando você ajudou aquela pessoa pobre. Era eu!” (Mt 25,40).  
Umas pessoas são chamadas para libertar o povo (Is 61,1; Ex 3,10); outras, para organizá-lo, para presidir suas assembléias, organizar o culto, cantar, profetizar, denunciar, animar, anunciar, aconselhar, guiar, reprimir, governar (Rm 12,4-8; 1Cor 12,4-11). Vocação para missões grandes e missões pequenas, importantes e menos importantes, ligadas ao povo todo e ligadas a um pequeno grupo. Missões que valem para muitas gerações, outras que valem para pouco tempo ou só para a pessoa que a recebe.
Para chamar as pessoas Deus usa os mais variados meios de comunicação: sorteio, aclamação, indicação da comunidade, percepção das necessidades do povo, ação de bravura, perigo de guerra, chamado interior, aparição de anjo, sonhos, chamado de um companheiro, etc. etc. ...  Nenhuma vocação se repete!
O chamado de Deus não tira a liberdade das pessoas, pois elas reagem: "Quem sou eu?" Cada um reage do seu jeito diante da missão que recebe. Cada um trava duas lutas dentro de si: a grande luta da transformação do mundo e a pequena luta da conversão pessoal. Ambas são igualmente importantes.
 A variedade das vocações dentro do mesmo Projeto de Deus
Tudo isto, você pode verificá-lo em quase cada página da Bíblia. Para ajudá-lo a fazer esta pesquisa, vamos dar uma olhada rápida no grande álbum da Família de Deus. Vamos percorrer as páginas da Bíblia, olhando de perto o chamado de algumas das pessoas mais conhecidas e dando para cada uma delas uma breve chave de leitura. Assim você poderá perceber a variedade, tanto no chamado como na resposta. Você poderá completar o quadro olhando a vocação das muitas outras pessoas que não foram lembradas neste elenco. Poderá ainda aprofundar tanto cada uma das vocações como o conjunto delas, orientando-se pelas perguntas que colocamos no fim deste elenco.
Este elenco foi feito seguindo o critério da ordem cronológica, desde o início do tempo dos patriarcas do século XVIII antes de Cristo até o fim da época das primeiras comunidades cristã do fim do primeiro século depois de Cristo. Outros critérios de divisão e seleção são possíveis. Por exemplo: origem da vocação; função ou missão da vocação no conjunto do Povo de Deus; problemas enfrentados pela pessoa chamada na execução da sua vocação; mulheres ou homens, jovens ou velhos; recursos para realizar a vocação; etc.
Tratando-se de um apêndice independente, repetimos nesta lista o chamado dos apóstolos e algumas outras pessoas, homens e mulheres, já assinaladas no capítulo “Jesus chama pessoas para estar com ele e ir em missão”

1.Um elenco das pessoas chamadas desde Abraão até o Novo Testamento
1.1. Época dos Patriarcas e Matriarcas: de 1800 a 1250 antes de Cristo
Abraão
Chamado para ser pai de um povo, não consegue acreditar na promessa de Deus. Inicialmente, só consegue crer nos projetos que ele mesmo propõe como alternativa. Mas após três tentativas frustradas consegue crer e se entrega (Gn 12,1-3;15,1-6;17,15-22;22,1-18)
Sara
Quando chamada, deu risada (Gn 18,12) como seu marido Abraão (Gn 17,17). Risada de incredulidade. Não conseguiu crer no chamado. Pois não conseguiu crer em si mesma e em Abraão. Era difícil crer, pois já era de idade avançada e estéril. Como crer que poderia ser mãe! (Gn 18,9-15).
Agar
Chamada através de uma ordem de Sara, sua patroa, é por ela desprezada e excluída; mas Deus continua fiel e a sustenta. A fidelidade de Agar recebe uma recompensa: ela chega a ter uma experiência profunda do próprio Deus (Gn 16,1-16; 21,8-21).
Jacó
Chamado para ser Israel, lutou com o anjo (o próprio Deus) a noite toda, até que fosse abençoado (Gn 32,23-33). Passagem misteriosa que recebeu muitas interpretações ao longo dos séculos. É um espelho para significar as lutas que as pessoas travam com Deus e com sua vocação ao longo de suas vidas. Oferece esperança de vitória.

1.2. Época do Êxodo: 1250 a 1200 antes de Cristo
Moisés
Primeiro sentiu o chamado diante da opressão do seu povo e chegou a matar um egípcio. Teve medo e fugiu (Ex 2,12-15). Mais amadurecido, é chamado novamente para libertar o povo. Novamente tem medo e arruma várias desculpas, mas no fim a vocação é mais forte que a resistência medrosa, e ele acaba aceitando (Ex 3,11.13; 4,1.10.13).
Miriam
Chamada pelo seu próprio talento e pela necessidade do momento, convoca as mulheres para celebrar a vitória depois da travessia do mar vermelho (Ex 15,20). O Cântico de Miriam é um dos textos mais antigos da Bíblia, ao redor do qual foi se juntando o resto como cera ao redor do pavio (Ex 15,21).
Aarão
Chamado por intermédio de Moisés, seu irmão, para ser porta-voz (Ex 4,14-15; 7,1-2). É da tribo de Levi, tribo sacerdotal. O clã de Aarão consegue impor-se aos outros clãs da tribo de Levi e obtém a função central no Templo. Os outros clãs se tornam seus ajudantes (Núm 18,2-3).
Os Setenta
O chamado deles nasce das necessidades concretas da coordenação do povo. Diante da impossibilidade de assumir sozinho a coordenação da vida do povo, aconselhado pelo bom senso do seu sogro Jetro, Moisés descentraliza o poder e chama setenta pessoas para participar na coordenação. O chamado se faz de acordo com certos critérios para poder servir ao povo (Ex 18,21-22; Núm 11,16).
Josué
Foi o que mais ajudava Moisés. Foi fiel nos momentos difíceis e nas crises. É desta sua condição de companheiro fiel que nasce o chamado para suceder a Moisés. Moisés mesmo o apresenta ao povo como seu sucessor e dá a ele, várias vezes, a ordem: "Sê forte e corajoso!" (Jos 1,6-9).
  
1.3. Época dos Juizes: 1200 a 1000 antes de Cristo
Debora
A pessoa chamada foi um tal de Baraq, que não teve coragem nem condições para realizar a vocação e chamou Débora para libertar o povo num momento difícil da sua história. Débora, juíza e mulher forte, chama outras pessoas para ajudá-la na tarefa e obtém a vitória (Jz 4,1-10).
Gedeão
Um lavrador bem simples, oprimido pela dominação, sente o chamado, mas não consegue acreditar nele e pede uma dupla confirmação. Se não fosse a simplicidade da fé de Gedeão, seria até uma provocação da bondade de Deus. (Jz 6,11-40).
Ana
Uma senhora casada que não pode ter nenê, pois é estéril. No momento de tristeza, em que derramava sua alma na presença do Senhor, recebe através de Eli o chamado para ser mãe. Ela responde ao chamado criando o menino e dedicando-o à missão da vida dele (1 S 1,9-18).
Samuel
Chamado por Deus, não percebe a vocação e precisa da ajuda de uma pessoa mais velha para orientá-lo. O velho Eli orienta o menino e o ajuda a percebê-la: "Fala, Senhor, teu servo escuta!" Esta ajuda mútua fez nascer uma vocação muito importante (1 Sm 3,1-18).

 1.4. Época dos Reis e Profetas: 1000 a 587 antes de Cristo
Saul
Mesmo chamado por aclamação (1S 11,12-15), por unção (1S 10, 1-8) e por sorteio (1S 10,17-24), não soube manter-se na fidelidade. Devorado pela inveja e pela vingança persegue Davi e quer matá-lo (1Sm 18,6-9; 19,8-17)
Davi
Chamado por unção (1S 16,1-13) e a convite do povo para ser rei de Judá (2S 2,1-4) e de Israel (2S 5,1-5). É exaltado na Bíblia como rei fiel. Na realidade, dentro dos nossos conceitos, não parece ter sido tão fiel. O poder do rei era absoluto e naquele tempo muitos não percebiam os limites deste poder (cf. 1Sm 8,10-18).
Salomão
Indicado para ser rei por ser filho de Davi e por conspiração palaciana (1R 1,28-53). Foi pessoa sábia (1Rs 5,9-14), mas o poder e o luxo da riqueza o corromperam (1Rs 11,1-13).
Elias
Obedece a um chamado da Palavra de Deus e do povo (1R 21, 17ss) e é conhecido como o homem sempre disponível para a ação do Espírito (1R 18,12; Ecl 18,1-11).
Eliseu
Recebe o chamado de Elias, pede licença para se despedir dos pais e vai atrás de Elias, largando tudo (1Rs 19,19-21). As muitas histórias de Eliseu estão no segundo livro dos Reis.
Jeú
Chamado por Elias (1Rs 19,16) e Eliseu (2Rs 9,1-10) para enfrentar os abusos do rei Acab, foi mais abusado que o próprio rei e matou sem critério todos os possíveis concorrentes (2Rs 9,22-37; 10,1-27). Foi condenado pelo profeta Oséias.
Amós
Percebe o chamado como algo irresistível, que sobe da situação de opressão e exploração do povo (Am 3,3-8; 7,15).
Ezequias
A conjuntura política internacional favorável levou Ezequias a promover uma reforma profunda para evitar o desastre sofrida pelo Estado de Israel (2Rs 18,1-8)
Josias
É chamado a servir o povo como rei através de circunstâncias políticas particulares que levaram ao assassinato do rei Amon (2R 21,23-24; 22,1). O rei Josias promoveu a reforma que foi chamada a reforma deuteronomista (2Rs 23,1-27).
Oséias e Gomer
Um drama familiar e uma experiência forte de amor levaram os dois à descoberta da sua missão no meio do povo (Os 1,1-3,5).
Isaías
Tem uma profunda experiência de Deus, descobre a sua incapacidade, mas se oferece: "Eis-me aqui!" (Is 6,1-13).
Jeremias
Na hora de perceber o chamado, fica meio gago e se desculpa: "Sou apenas uma criança!", mas assumiu a vocação (Jer 1,4-10). Sofreu a vida inteira por causa da vocação assumida (Jr 20,7-18).
Ezequiel
Quando recebe o chamado de ser a sentinela do povo, fica mudo por vários dias (Ez 3,25-27).

1.5. Época do exílio e pós exílio: 587 a 01 antes de Cristo
Neemias
O chamado vem através das exigências da situação do povo e de um convite do rei da Pérsia. Exerce a sua vocação como funcionário do rei da Pérsia (Ne 2,1-8).
Esdras
Vê um chamado de Deus na missão que ele recebe do rei da Pérsia para organizar o povo (Esd 7,11-26).
Rute
Percebe e assume o chamado através da sua solidariedade com Noemi que ficou viúva sem futuro (Rute 1,15-18).
Jonas
É o profeta que não tem coragem de assumir o chamado, e foge. A imagem estreita que Jonas tinha de Deus o impediu de perceber sua vocação (Jon 1,3).
Descobre o chamado na contradição provocada pelo ideologia da época que dizia: Todo sofrimento é castigo pelo pecado. A consciência dele dizia: “Não pequei para merecer tanto sofrimento!” Lutou e foi fiel à vocação criticando uma idéia falsa de Deus até morrer.
Ester
Era uma criança órfã, adotada pelo tio Mardoqueu. Por um destino não previsto acabou sendo rainha por causa da sua beleza (Est 2,15-17). Chamada a ser a libertadora do seu povo assume o chamado com risco da própria vida. (Est 4,12-17).
Judite
Chamada para libertar o povo num momento de extrema angústia (Jt 8,1-36), confia no Deus que é o "Deus dos humildes, socorro dos oprimidos, protetor dos fracos, abrigo dos abandonados, salvador dos desesperados" (Jt 9,11).
Sunamitis, a jovem dos Cantares
Envolvida numa intriga e constantemente vigiada pelos irmãos maiores, ela grita por independência e segue o seu próprio caminho para poder realizar o ideal do amor (Ct 8,1-14)
Matatias
Percebe e assume o chamado no momento de ser confrontado com a opressão e a perseguição do povo (1M2,1-28).
Judas Macabeu
É chamado para liderar as batalhas por ser o filho mais corajoso de Matatias (1Mac 2,66).

1.6. Época de Jesus: 01 a 33
Zacarias
Não foi capaz de crer no chamado e ficou mudo (Lc 1,11-22).
Isabel
Era estéril, mas acreditou no chamado, concebeu e tornou-se capaz de reconhecer a presença de Deus em Maria (Lc 1,23-25.41-45).
João Batista
Chamado desde o seio materno (Lc 1,11-17), assume a missão com coragem (Mc 6,17-29). É o primeiro profeta depois de muitos séculos de silêncio (Lc 1,59-66; Mt 11,7-15).
José
Chamado a ser o esposo de Maria, rompe com as normas do machismo da época, e não manda Maria embora (Mt 1,18-25).
Maria
Acostumada a ruminar os fatos (Lc 2,19.51), percebe e acolhe a Palavra, trazida pelo anjo Gabriel, a ponto de encarná-la em seu seio, em sua própria vida (Lc 1,26-38).
Apóstolos
Foram chamados para estar com Jesus, para anunciar a palavra e para combater o poder do mal (Mc 3,13-19). O chamado de cada um dos doze e de algumas discípulas encontra-se no capítulo VI: “Jesus chama pessoas para estar com ele e ir em missão”.
Pedro
Pessoa generosa e entusiasta (Mc 14,29.31; Mt 14,28-29), mas na hora do perigo e da decisão, o seu coração encolhia e voltava atrás (Mt 14,30; Mc 14,66-72). Jesus rezou por ele (Lc 22,31).
Tiago e João
Dois irmãos. Estavam dispostos a sofrer com Jesus (Mc 10,39), mas eram violentos (Lc 9,54). Jesus os chamou filhos do trovão (Mc 3,17). João pensava ter o monopólio de Jesus. Jesus o corrigiu (Mc 9,38-40
Filipe
Tinha jeito para colocar os outros em contato com Jesus (Jo 1,45-46), mas não era muito prático em resolver os problemas (Jo 6,5-7; 12,20-22). Parecia um pouco ingênuo. Jesus chegou a perder a paciência com ele: “Filipe, tanto tempo que estou com vocês, e você ainda não me conhece?” (Jo 14,8-9)
André
Pessoa prática. Foi ele que encontrou o menino com cinco pães e dois peixes (Jo 6,8-9). É a ele que Filipe se dirige para resolver o caso dos gregos que queriam ver a Jesus (Jo 12,20-22), e é André que chama Pedro para encontrar-se com Jesus (Jo 1,40-43).
Tomé
Com teimosia sustentou sua opinião, uma semana inteira, contra o testemunho de todos os outros (Jo 20,24-25). É que o Jesus ressuscitado em que Tomé acreditava, tinha de ser o mesmo Jesus que fora crucificado e que carregava os sinais da tortura no corpo (Jo 20,26-28).
Natanael
Era bairrista e não podia admitir que algo de bom pudesse vir de Nazaré (Jo 1,46). Mas quando Jesus o explica, ele se entrega (Jo 1,49). Este Natanael aparece só no evangelho de João. Alguns o identificam com o Bartolomeu que aparece na lista do evangelho de Marcos (Mc 3,18).
Mateus
Era um publicano, pessoa excluída pela religião dos judeus (Mt 9,9). Sabemos pouco da vida dele. No evangelho de Marcos e de Lucas ele é chamado Levi (Mc 2,14; Lc 5,27). O nome Mateus significa Dom de Deus. Os excluídos são "mateus" (dom de Deus), para a comunidade.
Simão
Era um zelote (Mc 3,18). Dele só sabemos o nome e o apelido. Nada mais. Ele era zelote, isto é, fazia parte do movimento popular que na época se opunha à dominação romana.
Judas
Guardava o dinheiro do grupo (Jo 12,6; 13,29). Tornou-se o traidor de Jesus (Jo 13,26-27). Setenta anos depois da traição, no fim do primeiro século, o autor do quarto evangelho ainda tem raiva dele e o chama de "ladrão" (Jo 12,4-6).
Samaritana
Teve dificuldade em perceber o chamado (Jo 4,7-30), mas tornou-se uma grande apóstola no meio do seu povo (Jo 4,39-42)
A moça do perfume
Teve a coragem de quebrar as normas da época e entrou na casa do fariseu, onde Jesus estava. Banhou os pés dele com lágrimas, enxugou com seus cabelos e os ungiu com perfume (Lc 7,36-50)
A mulher Cananeia
Gritou atrás de Jesus pela saúde de sua filha doente e, chamada de cachorrinho por Jesus, teve a coragem de exigir os seus direitos como cachorrinho, que era receber as migalhas que caem da mesa dos filhos (Mt 15,21-28).
O jovem rico
Observava todos os mandamentos desde criança, mas chamado para abandonar tudo que tinha e dá-lo aos pobres afim de poder seguir Jesus de perto, não teve coragem e voltou atrás (Mc 10,17-31).
Nicodemos
Era membro do Sinédrio, o Supremo Tribunal da época. Homem importante. Ele aceita a mensagem de Jesus, mas não tem coragem de manifestá-lo publicamente (Jo 3,1). Junto com José de Arimatéia cuidou da sepultura de Jesus (Jo 19,39)
Joana e Susana
Joana era a esposa de Cusa, procurador de Herodes, que governava a Galiléia. As duas faziam parte do grupo de mulheres que seguiam a Jesus, o serviam com seus bens e subiam com ele até Jerusalém (Mc 15,40-41; Lc 8,2-3).
Maria Madalena
Era nascida da cidade de Magdala. Daí o nome Maria Ma(g)dalena. Jesus a curou de uma doença (Lc 8,2). Ela o seguiu até ao pé da Cruz (Mc 15,40). Depois da páscoa, foi ela que recebeu de Jesus a ordenação de anunciar aos outros a Boa Nova da Ressurreição (Jo 20,17; Mt 28,10).

1.7. Época das comunidades dos Primeiros Cristãos: 33 a 100
Matias
Chamado a ser apóstolo por sorteio, após uma reunião dos outros onze apóstolos (At 1,15-26).
Barnabé
O primeiro a partilhar os seus bens (At 4,36s), É chamado a enfrentar missões difíceis (At 9,26-27; 11,22.25; 13,2).
Paulo
Foi chamado num momento em que tudo indicava o contrário, pois era perseguidor (At 9,1-19). O chamado o derruba na estrada (At 9,4); ele fica cego (At 9,3).
Lídia
Sente o chamado ao ouvir a pregação de Paulo; torna-se a primeira coordenadora das Comunidades na Europa (At16,14s).
Andrônico e Júnia
São chamados por Paulo de “parentes e companheiros de prisão, apóstolos importantes que se converteram a Cristo antes de mim” (Rm 16,7)
Febe
Chamada a ser diaconisa, torna-se "irmã" de Paulo e presta seu serviço a muita gente (Rom 16,1-2)
Timóteo
Preparado pela formação recebida em casa (2Tim 1,5; 3,14), é chamado a ser companheiro de Paulo (At 16,1-3).
Prisca e Aquila,
Casal amigo de Paulo. Os dois respondem ao chamado combinando as exigências das comunidades com as possibilidades da sua profissão (At 18,2-3; Rm 16,3-5)

Uma sugestão para aprofundar a vocação na Bíblia
Você pode completar a longa lista das pessoas chamadas que ocorrem na Bíblia, pois no álbum da Família de Deus existem muito mais fotografias. Em seguida, vale a pena aprofundar o assunto através das seguintes perguntas:
1. Qual a origem da vocação e qual o objetivo, que ela quer atingir na vida da pessoa chamada?
2. Qual a missão que a pessoa chamada recebe dentro do conjunto do povo de Deus?
3. Quais os critérios de escolha que Deus usou para chamar a pessoa?
4. Quais os recursos para realizar a missão?
5. Quais as resistências que a pessoa chamada oferece e por que?
6. Quais os problemas que a pessoa chamada encontra na execução da sua vocação e como os enfrenta?
7. Vocação pessoal e situação do povo: como estas duas realidades estão relacionadas entre si na vida da pessoa chamada?
8. Quais as vocações que as mulheres recebem dentro do conjunto do povo de Deus?
9. Quais os traços do rosto de Deus que transparecem em cada chamado?
10. Com qual de todas estas vocação você mais se identifica e com quais menos se identifica? Por que?


               CESEP, CURSO DO VERÃO, 14 a 16 de janeiro de 2008

JUVENTUDE: VOCAÇÃO E COMPROMISSO À LUZ DA PALAVRA DE DEUS (VII)


VII
A DESCOBERTA DA VOCAÇÃO DA HUMANIDADE

1. O fracasso da observância da Lei de Deus destruiu a raiz da fé
No êxodo foi concluída a aliança entre Deus e o povo. Deus tinha libertado o povo do Egito e disse:
“Vocês viram o que eu fiz aos egípcios e como carreguei vocês sobre asas de águia e os trouxe até mim. Portanto, se me obedecerem e observarem a minha aliança, vocês serão minha propriedade especial entre todos os povos, porque a terra toda pertence a mim. Vocês serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa" (Ex 19,4-6). E o povo respondeu "Faremos tudo o que Javé mandou" (Ex 19,8).
Eles se comprometeram a observar em tudo a lei de Deus (Ex 24,3-8). Esta era a vocação que receberam e assumiram solenemente. A observância das cláusulas da Aliança era a condição para o povo poder continuar a ser o povo de Deus. Não observando os mandamentos, eles se condenariam a si mesmos à escravidão. Mas a experiência foi muito dolorosa. Enganado pela ideologia da monarquia e desviado pela própria fraqueza, o povo não deu conta de observar os Mandamentos da Lei de Deus. Diz o salmo: “Por quarenta anos aquela geração me desgostou. Então eu disse: É um povo de coração transviado que não reconhece os meus caminhos” (Sl 95,10). A transgressão da Lei de Deus trouxe consigo a quebra da aliança e a desarticulação da convivência, tanto familiar como social.
No século VII aC, época do rei Josias, tentaram uma reforma para levar o povo de volta à sua vocação como Povo de Deus e, assim, evitar a desintegração total. Esta reforma, chamada Deuteronomista, colocava o povo diante da escolha: bênção ou maldição, vida ou morte. É como se dissesse: “Agora vai depender só de vocês! Se observarem a Lei, terão a bênção. Se não observarem terão a maldição” (cf. Dt 28,1-3. 15-16).
A reforma não adiantou. Os Mandamentos não foram observadas. As terríveis ameaças de maldição e de exclusão, descritas nos livros do Deuteronômio (Dt 28,15-44) e do Levítico (Lv 26,14-38), se realizaram. Tudo foi destruído pelo exército do rei da Babilônia. O povo se sentia como amaldiçoado e excluído pelo próprio Deus (Is 49,14). Para a maioria, o cativeiro era a prova trágica de que tinham escolhido a morte e não a vida. Fracassou a Aliança! Copo quebrado em mil pedaços não tem conserto! Dentro do povo estava destruída a raiz da fé. Deus desapareceu da vida do povo. A maioria largou tudo e adotou a religião do império.
Uma reforma que só insiste na observância da Lei, nasce de uma raiz falsa, pois desconhece a misericórdia de Deus. Na hora do fracasso da aliança (que de fato ocorreu), ela não oferece nenhuma esperança de se poder refazer a amizade com Deus. Em vez de levar à justiça, leva ao desespero. O tiro saiu pela culatra.
2. A redescoberta da gratuidade de Deus na natureza
Ainda em Jerusalém, diante daquele desespero generalizado causado pela iminente destruição do Templo e da cidade por Nabucodonosor, Jeremias dizia: “Temos muito motivo de esperança!”  -“Qual?”  - “O sol vai nascer amanhã!” (cf. Jr 31,35-36). Jeremias redescobre a presença de Deus não na história, mas na natureza. A certeza do nascer do sol não depende da observância da lei, mas está impressa na lógica da criação. É pura gratuidade, expressão do bem-querer do Deus Criador. É certeza que não falha. Nossa fraqueza pode levar-nos a romper com Deus (como de fato aconteceu), mas Deus não rompe conosco, pois cada manhã, através da seqüência dos dias e das noites, ele nos fala ao coração e diz: “Como é certo que eu criei o dia e a noite e estabeleci as leis do céu e da terra, também é certo que não rejeitarei a descendência de Jacó e de meu servo Davi. Quando essas leis falharem diante de mim - oráculo de Javé - então o povo de Israel também deixará de ser diante de mim uma nação para sempre” (Jr 33,25-26; cf. 31,36). 
Esta nova maneira de olhar a natureza modificou os olhos e abriu um novo horizonte. “Deus nos amou primeiro!”, dirá São João mais tarde (1Jo 4,19). A certeza da presença amorosa de Deus para além do fracasso da observância provocou uma busca renovada dos sinais de Deus na natureza que nos envolve e da qual depende toda a nossa vida: as chuvas, as plantas, as fases da lua, o sol, as estações do ano, as sementes, etc. Tudo tornou-se sinal da presença gratuita de Deus.
Aos poucos, Javé, o Deus libertador que no êxodo entregou a Lei ao povo e concluiu com ele uma aliança, começa a ser experimentado como o Deus Criador do Universo; e o Deus Criador do Universo vai tomando o rosto de Javé, o Deus libertador e familiar do êxodo. História e Criação se aproximam. Nos dois transparecem os traços do rosto de Javé, o Deus do povo, Deus libertador e criador, Deus Pai, Mãe, Marido e Irmão mais velho.
3. A descoberta dos Dez Mandamentos da Criação
Assim, ao lado da atenção dada às Dez Palavras (Dez Mandamentos) que estão na origem da Aliança, o povo começa a dar maior atenção às palavras divinas que estão na origem das criaturas, e descobre que lá também existem dez palavras. São as Dez Palavras ou os Dez Mandamentos da Criação. O autor que fez a redação final da narrativa da Criação (Gn 1,1-2,4ª) teve a preocupação em descrever toda a ação criadora de Deus por meio de exatamente Dez Palavras. Na narrativa aparece dez vezes a expressão “e Deus disse”:


1. Gn 1,3       E Deus disse: haja luz
2. Gn 1,6       E Deus disse: haja firmamento
3. Gn 1,9       E Deus disse: as águas se juntem e apareça o continente
4. Gn 1,11     E Deus disse: a terra produz verde
5. Gn 1,14     E Deus disse: haja luzeiros
6. Gn 1,20     E Deus disse: as águas produzam seres vivos
7. Gn 1,24     E Deus disse: que a terra produz seres vivos
8. Gn 1,26     E Deus disse: façamos o ser humano
9. Gn 1,28     E Deus disse: sejam fecundos
10. Gn 1,29   E Deus disse: dou as ervas para vocês comer.
                     E Deus disse

                     ~yhiªl{a/ rm,aYOæw:


A Lei de Deus entregue ao povo no Monte Sinai tem no seu centro as dez palavras divinas da aliança. Da mesma maneira, a narrativa da Criação tem no seu centro dez palavras divinas. Assim como fez para o seu povo, Deus fez para as criaturas todas: fixou para elas “uma lei que jamais passará” (Sl 148,6). Dez vezes Deus falou e dez vezes as coisas começaram a existir. Falou: Luz!, e a luz começou a existir. Falou: Terra!, e a terra apareceu. Gritou os nomes das estrelas, e elas começaram o seu percurso no firmamento. “Ele diz e a coisa acontece, ele ordena e ela se afirma” (Sl 33,9). A harmonia do cosmo que vence a ameaça do caos é fruto da obediência das criaturas aos Dez Mandamentos da Criação.  
O povo não observou a Lei da Aliança. Por isso veio a desordem do cativeiro. As criaturas, ao contrário, sempre observam a Lei da Criação. Por isso existe a Ordem do cosmo. No Pai-Nosso Jesus dirá: “Seja feita a vossa vontade na terra assim como é feita no céu”. Jesus pede que nós possamos observar a Lei da Aliança com a mesma perfeição com que o sol e as estrelas do céu observam a Lei da Criação. Na ordem do universo descobrimos como realizar nossa vocação.
4. A vocação do ser humano
Temos dois decálogos: o decálogo da criação e o decálogo da aliança. O decálogo da criação descreve a ação de Deus, o decálogo da aliança descreve a resposta do ser humano. O decálogo da criação já existia muito antes do decálogo da aliança. Existia desde a criação do mundo e era visível na ordem do cosmo, mas a sua existência só foi descoberta, quando a observância do decálogo da aliança entrou em colapso e criou o impasse do cativeiro.
A descoberta do decálogo da criação foi o resultado da teimosia da fé dos pequenos, de homens e mulheres como Oséias e Gomer, Jeremias, os discípulos e discípulas de Isaías e tantos outros, pais e mães de família, que continuavam na busca do Deus criador, cuja promessa de vida ultrapassa a nossa observância.
A total gratuidade da presença universal de Deus criador enche de esperança os seres humanos no meio da sua fraqueza. A bondade imensa de Deus, expressa na criação e que faz chover sobre bons e maus (Mt 5,45), deu coragem ao povo do cativeiro para recomeçar com garra a observância da lei de Deus. Agora, eles observam a lei da aliança, não mais para poder merecer a salvação, e sim para poder agradecer e retribuir a imensa bondade com que Deus os amou primeiro e cujo amor não depende da observância da lei. Eles sabem que nada nem mesmo o fracasso pode separá-los do amor de Deus (Is 40,1-2ª; 41,9-10.13-14; 43,1-5; 44,2; 46,3-4; 49,13-16; 54,7-8; etc.)
A fé no Deus Criador abriu um horizonte, cujo alcance para a vida só se compara com o horizonte que a ressurreição de Jesus abriu para os discípulos confrontados com a barreira intransponível da morte. A descoberta do decálogo da Criação é como se fosse um fundamento novo colocado debaixo de um prédio que ameaçava cair por falta de observância da parte dos engenheiros e operários. Você não vê o fundamento novo, pois está debaixo do chão, mas você sabe que ele existe, pois o prédio pode até balançar, mas não cai. A fé na gratuidade da presença universal de Deus torna-se a infra-estrutura da observância dos mandamentos.
5. Homem e mulher: imagem e semelhança de Deus
Chegando o momento da criação do ser humano, a narrativa da criação faz uma parada e muda o modo de falar. Até agora, ele informava sobre a ação criadora de Deus. Agora, com uma certa solenidade, ele apresenta o próprio Deus falando:
"Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele domine os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra". E Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher. E Deus os abençoou e lhes disse: "Sejam fecundos, multipliquem-se, encham e submetam a terra; dominem os peixes do mar, as aves do céu e todos os seres vivos que rastejam sobre a terra". (Gn 1,26-28)
Por este modo diferente de falar, o autor está sugerindo que está chegando ao ponto alto da ação criadora. Nesta sua maneira de falar, ele acentua os seguintes aspectos:
(1) Afirma a dignidade do ser humano, pois nele existe algo de divino. Ele é feito à imagem e semelhança de Deus. Não são os animais, nem o rei Nabucodonosor, nem os poderosos que são a imagem de Deus. Mas sim o ser humano, enquanto humano, é a imagem de Deus, o representante de Deus no meio da criação.
(2) Afirma a igualdade entre homem e mulher, ambos são imagem de Deus. Ou melhor, não é só o homem, nem só a mulher, mas ambos juntos convivendo em harmonia são imagem de Deus. O livro do Eclesiástico faz o seguinte comentário: “Todas as coisas existem aos pares, uma diante da outra, e Ele não fez nada incompleto. Uma coisa completa a bondade da outra, e ninguém se cansa de contemplar a glória de Deus”. (Eclo 42,24-25).
(3) Afirma a superioridade do ser humano frente às outras criaturas, pois ele pode dominar sobre todas elas. Este domínio não significa que ele recebe carta branca para fazer o que quiser nem se trata de uma dominação que usa a terra como mercadoria ou como objeto mudo e sem vida. Mas significa que ele deve imitar a maneira como Deus exerce o seu domínio sobre a criação. Deus domina o universo coordenando tudo numa harmonia admirável, preservando a ordem que favorece a vida e mantendo afastado o caos que ameaça tudo de morte: o caos do assassinato, da vingança, da corrupção, da exploração. O domínio que o ser humano recebe deve promover o crescimento da ordem e contribuir para o louvor universal ao Criador.
Em seguida, aparece a bênção da vida. Todas as coisas são criadas, mas só a vida recebe uma bênção. Abençoar é desejar o bem para alguém. É o contrário de amaldiçoar. A vida recebeu de Deus uma bênção, uma bem-dição. Esta palavra criadora desejando o bem à vida é mais forte do que a morte que deseja o mal. É nesta bênção ou bem-dição que está a raiz da nossa fé na Vida como dom de Deus, fé que foi crescendo lentamente na alma do povo de Deus, ao longo dos séculos, até desabrochar plenamente na ressurreição de Jesus. Esta fé é a expressão da convicção de que a vida plena, que vem de Deus e que os exilados estavam buscando, não pode acabar nunca. Esta esperança já se expressava na oração do salmo bem antes da ressurreição de Jesus: “Não me abandonarás no túmulo, nem deixarás o teu fiel ver a sepultura. Tu me ensinarás o caminho da vida, cheio de alegria em tua presença, e de delícias à tua direita, para sempre” (Sl 16,10-11).

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Perguntas para ajudar na reflexão e na assimilação do assunto: 1. Qual o ponto que mais chamou a sua atenção nesta reflexão sobre a vocação de todos nós como seres humanos? Por que?
2. Depois do fracasso da observância da Aliança, o povo de Deus começou a observar a natureza com outros olhos. Hoje, diante do fracasso evidente do sistema neoliberal que só quer explorar os recursos da natureza e que ameaça a sobrevivência da vida, qual deveria ser nossa nova maneira de olhar a natureza e os recursos da natureza? Por que?

               CESEP, CURSO DO VERÃO, 14 a 16 de janeiro de 2008

JUVENTUDE: VOCAÇÃO E COMPROMISSO À LUZ DA PALAVRA DE DEUS (VI)


VI
JESUS CHAMA OUTRAS PESSOAS
PARA ESTAR COM ELE E IR EM MISSÃO

1. As pessoas chamadas por Jesus
Os doze apóstolos e as outras pessoas, homens e mulheres, rapazes e moças, que seguiam a Jesus, eram pessoas comuns. Tinham suas virtudes e seus defeitos. Os evangelhos informam muito pouco sobre o jeito e o caráter de cada um e cada uma. Mas o pouco que informam é motivo de consolo para nós. Eis o que se pode afirmar a respeito de algumas destas pessoas chamadas por Jesus:
* Pedro Pessoa generosa e entusiasta (Mc 14,29.31; Mt 14,28-29), mas na hora do perigo e da decisão, o seu coração encolhia e voltava atrás (Mt 14,30; Mc 14,66-72). Jesus rezou por ele (Lc 22,31).
* Tiago e João:  Dois irmãos. Estavam dispostos a sofrer com Jesus (Mc 10,39), mas eram violentos (Lc 9,54). Jesus os chamou filhos do trovão (Mc 3,17). João pensava ter o monopólio de Jesus. Jesus o corrigiu (Mc 9,38-40
* Filipe:  Tinha jeito para colocar os outros em contato com Jesus (Jo 1,45-46), mas não era muito prático em resolver os problemas (Jo 6,5-7; 12,20-22). Parecia um pouco ingênuo. Jesus chegou a perder a paciência com ele: “Filipe, tanto tempo que estou com vocês, e você ainda não me conhece?” (Jo 14,8-9)
* André:  Pessoa prática. Foi ele que encontrou o menino com cinco pães e dois peixes (Jo 6,8-9). É a ele que Filipe se dirige para resolver o caso dos gregos que queriam ver a Jesus (Jo 12,20-22), e é André que chama Pedro para encontrar-se com Jesus (Jo 1,40-43).
* Tomé  Com teimosia sustentou sua opinião, uma semana inteira, contra o testemunho de todos os outros (Jo 20,24-25). É que o Jesus ressuscitado em que Tomé acreditava, tinha de ser o mesmo Jesus que fora crucificado e que carregava os sinais da tortura no corpo (Jo 20,26-28).
* Natanael:  Era bairrista e não podia admitir que algo de bom pudesse vir de Nazaré (Jo 1,46). Mas quando Jesus o esclarece, ele se entrega (Jo 1,49). Este Natanael aparece só no evangelho de João. Alguns o identificam com o Bartolomeu que aparece na lista do evangelho de Marcos (Mc 3,18).
* Mateus  Era um publicano, pessoa excluída pela religião dos judeus (Mt 9,9). Sabemos muito pouco da vida dele. No evangelho de Marcos e de Lucas ele é chamado Levi (Mc 2,14; Lc 5,27). O nome Mateus significa Dom de Deus. Os excluídos são "mateus" (dom de Deus), para a comunidade.
* Simão Era um zelote (Mc 3,18). Dele só sabemos o nome e o apelido. Nada mais. Ele era zelote, isto é, fazia parte do movimento popular que na época se opunha à dominação romana.
* Judas  Guardava o dinheiro do grupo (Jo 12,6; 13,29). Tornou-se o traidor de Jesus (Jo 13,26-27). Setenta anos depois da traição, no fim do primeiro século, o autor do quarto evangelho ainda tem raiva dele e o chama de "ladrão" (Jo 12,4-6).
* Nicodemos  Era membro do Sinédrio, o Supremo Tribunal da época. Homem importante. Ele aceita a mensagem de Jesus, mas não tem coragem de manifestá-lo publicamente (Jo 3,1). Junto com José de Arimatéia cuidou da sepultura de Jesus (Jo 19,39)
* Joana e Susana  Joana era a esposa de Cusa, procurador de Herodes, que governava a Galiléia. As duas faziam parte do grupo de mulheres que seguiam a Jesus, o serviam com seus bens e subiam com ele até Jerusalém (Mc 15,40-41; Lc 8,2-3).
* Maria Madalena  era nascida da cidade de Magdala. Daí o nome Maria Ma(g)dalena. Jesus a curou de uma doença (Lc 8,2). Ela o seguiu até ao pé da Cruz (Mc 15,40). Depois da páscoa, foi ela que recebeu de Jesus a ordenação de anunciar aos outros a Boa Nova da Ressurreição (Jo 20,17; Mt 28,10).
A maior parte dos que seguem Jesus para formar comunidade com ele eram pessoas simples, sem muita instrução (At 4,13; Jo 7,15). Entre eles havia homens e mulheres, pais e mães de família (Lc 8,2-3; Mc 15,40s). Alguns eram pescadores (Mc 1,16.19). Outros, artesãos e agricultores. Mateus era publicano (Mt 9,9). Simão, do movimento popular zelote (Mc 3,18). É possível que alguns tenham sido do grupo dos revoltosos, pois carregavam armas e tinham atitudes violentas (Mt 26,51; Lc 9,54; 22,49-51). Outros ainda tinham sido curados por Jesus de doenças (Lc 8,2).
Havia também alguns mais ricos: Joana (Lc 8,3), Nicodemos (Jo 3,1-2), José de Arimatéia (Jo 19,38), Zaqueu (Lc 19,5-10) e outros. Estes sentiram na carne o que quer dizer romper com o sistema e aderir a Jesus. Nicodemos, ao defender Jesus no tribunal, foi vaiado (Jo 7,50-52). José de Arimatéia, ao pedir o corpo de Jesus, correu o risco de ser acusado como inimigo dos romanos e dos judeus (Mc 15,42-45; Lc 23,50-52). Zaqueu devolveu quatro vezes o que roubou e deu a metade de seus bens aos pobres (Lc 19,8). Todos eles, tanto os pobres como os poucos ricos, podiam dizer com Pedro: "Nós deixamos tudo e te seguimos!" (Mt 19,27). Todos eles tiveram que fazer a "mudança de vida", a "conversão" que Jesus pedia (Mc 1,15).
Jesus passou uma noite inteira em oração antes de fazer a escolha definitiva dos doze apóstolos (Lc 6,12-16). Rezou para saber a quem escolher. E escolheu as pessoas cujos retratos, conservados nos evangelhos, acabamos de olhar. É com este grupo que Jesus começou a maior revolução da história do Ocidente! Não escolheu a elite, não escolheu gente formada e estudada, de altas qualidades. Escolheu pessoas comuns que se sentiam atraídas pela mensagem de vida que ele trazia. Um consolo para nós! Muito obrigado!
2. O chamado (vocação) e o seu duplo objetivo
    2.1.O chamado: “Vem e segue-me!”
A vocação não é coisa de um só momento, mas é feita de repetidos chamados e convites, de avanços e recuos.  Começa à beira do lago (Mc 1,16), e só termina depois da ressurreição (Mt 28,18-20; Jo 20, 21). Começa na Galiléia (Mc 1,14-17) e, no fim, após um longo processo, recomeça na mesma Galiléia (Mc 14,28; 16,7), também à beira do lago (Jo 21,4-17). Recomeça sempre! Na prática, o chamado coincide com a convivência dos três anos com Jesus, desde o batismo de João até o momento em que Jesus foi levado ao céu (At 1,21-22).
A maneira de Jesus chamar as pessoas é simples e bem variada. Às vezes, é o próprio Jesus que toma a iniciativa. Ele passa, olha e chama (Mc 1,16-20). Outras vezes, são os discípulos que convidam parentes e amigos (Jo 1,40-42.45-46) ou é João Batista que o aponta como o “Cordeiro de Deus” (Jo 1,35-39). Outras vezes ainda, é a própria pessoa que se apresenta e pede para segui-lo (Lc 9,57-58.61-62). A maior parte dos que são chamados já conhece a Jesus. Eles já tiveram alguma convivência com ele. Tiveram a oportunidade de vê-lo ajudar as pessoas ou de escutá-lo na sinagoga da comunidade (Jo 1,39; Lc 5,1-11). Sabem como Jesus vive e o que ele pensa.
O chamado é gratuito; não custa. Mas acolher a vocação exige decisão e compromisso. Jesus não esconde as exigências. Quem quer segui-lo deve saber o que está fazendo: deve mudar de vida e crer na Boa Nova (Mc 1,15); deve estar disposto a abandonar tudo e assumir com ele uma vida pobre e itinerante. Quem não estiver disposto a fazer tudo isto, "não pode ser meu discípulo" (Lc 14,33). O peso, porém, não está na renúncia, mas sim no amor que dá sentido à renúncia (Jo 21,15-17). É por amor a Jesus (Lc 9,24) e ao Evangelho (Mc 8,35) que o discípulo ou a discípula renuncia a si mesmo e carrega sua cruz, todos os dias, para seguí-lo (Mt 10,37-39; 16,24-26; 19,27-29).
O chamado é como um novo começo! É como nascer de novo (Jo 3,3-8). Quem aceita o chamado, deve “deixar que os mortos enterrem seus mortos”(Lc 9,60). Deve seguir em frente e não olhar para trás (Lc 9,62). O chamado é um tesouro escondido, uma pedra preciosa. Por causa dele, a pessoa abandona tudo, segue Jesus (Mt 13,44-46) e entra na nova família, na nova comunidade (Mc 3,31-35).
     2.2.O duplo objetivo da vocação: comunidade e missão
Desde o começo, o objetivo é duplo. Seguir Jesus significa: (1) estar com ele, formar comunidade com ele (Mc 1,17; 10,21); (2) ir em missão, ser pescador de homens" (Mc 1,17; Lc 5,10).
Depois de um tempo de convivência, Jesus renova o chamado. Marcos diz: "Jesus subiu a montanha e chamou a si os que ele queria, e eles foram até ele. E constituiu os Doze para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar e terem autoridade para expulsar os demô­nios" (Mc 3,13-15). Este novo chamado continua tendo o mesmo duplo objetivo: (1) "ficar com ele", isto é, formar uma comunidade estável ao redor dele; (2) “ir pregar e expulsar os demônios", isto é, andar em missão de um lugar para outro. Os dois objetivos fazem parte da mesma vocação, do mesmo chamado. Um não exclui o outro. Eles se completam. Um sem o outro, não se realiza.
"Seguir" era o termo que se usava naquele tempo para indicar o relacionamento entre o discípulo e seu mestre. O discípulo "segue" o mestre e se forma na convivência com ele. Como os rabinos (mestres) da época, Jesus reúne discípulos para formar comunidade com eles. O relacionamento Mestre x Discípulo é diferente do relacionamento Professor x Aluno. O aluno assiste às aulas do professor sobre uma determinada matéria, mas não convive com ele. O discípulo convive com o mestre, vinte e quatro horas por dia. Ser mestre, como Jesus, já aos 30 anos de idade é sinal de muita maturidade e equilíbrio. Ter sempre doze pessoas perto! Sempre! De vez em quando, Jesus não agüenta mais e perde a paciência (Mc 9,19) ou sai para ficar a sós (Mc 6,46).
Seguir Jesus  significava:
* Imitar o exemplo do Mestre: Jesus era o modelo a ser recriado na vida do discípulo ou da discípula (Jo 13,13-15). A convivência diária permitia um confronto constante. Nesta "Escola de Jesus" só se ensinava uma única matéria: o Reino! E este Reino se reconhecia na vida e na prática de Jesus 
 Participar do destino do Mestre: Quem seguia Jesus devia comprometer-se com ele e "estar com ele nas tentações" (Lc 22,28), inclusive na perseguição (Jo 15,20; Mt 10,24-25). Devia estar disposto a carregar a cruz e a morrer com ele (Mc 8,34-35; Jo 11,16).
 Ter a vida de Jesus dentro de si: Depois da Páscoa, acrescentou-se uma terceira dimensão: identificar-se com Jesus, vivo na comunidade. Os primeiros cristãos procuravam refazer a mesma caminhada de Jesus que tinha morrido em defesa da vida e foi ressuscitado pelo poder de Deus (Fl 3,10-11). Trata-se da dimensão mística do seguimento de Jesus, fruto da ação do Espírito: "Vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim"(Gl 2,20).
3. A comunidade: lugar onde se guarda e se cultiva a vocação
   3.1.A convivência comunitária: viveiro da vocação
Todos eles "seguem Jesus", formando grupos concêntricos em torno a ele. Um núcleo menor de doze (Mc 3,14), como as doze tribos de Israel (Mt 19,28). Uma comunidade mais ampla de homens e mulheres (Lc 8,1-3). Um grupo maior de setenta e dois (Lc 10,1). As multidões que se reúnem ao redor de Jesus para ouvir a sua mensagem. Dentro do núcleo dos doze, de acordo com a finalidade do momento, Jesus forma grupos menores. Por exemplo, chama Pedro, Tiago e João para momentos de oração (Mt 26,37s; Lc 9,28).
Como todos os grupos de discípulos daquela época, assim também o grupo que "segue Jesus" tinha o seu ritmo de vida: diário, semanal, anual:
1. O ritmo diário na família, na comunidade: O povo rezava três vezes ao dia: de manhã, ao meio dia e à noite. Eram os três momentos em que se oferecia o sacrifício no Templo. Assim, a nação inteira se unia diante de Deus. Eram orações tiradas da Bíblia ou inspiradas pela Bíblia que marcavam o ritmo diário da vida de Jesus e da sua comunidade ao longo dos três anos da formação.
2. O ritmo semanal na sinagoga: Um escrito antigo da Tradição Judaica, chamado Pirquê Abot (palavras dos pais), dizia: “O mundo repousa sobre três colunas: a Lei, o Culto e o Amor”. Era o que eles faziam todos os Sábados. Mesmo durante as viagens missionárias, Jesus e os discípulos tinham o "costume" de, aos sábados, se reunirem com o povo na sinagoga para ouvir as leituras da Bíblia (Lei), para rezar e louvar a Deus (Culto), e para discutir as coisas da vida da comunidade e descobrir como ajudar as pessoas necessitadas (Amor) (Lc 4,16.44; Mc 1,39).
3. O ritmo anual no Templo: Era baseado no ano litúrgico com suas festas. Cada ano, o povo tinha que fazer três romarias a Jerusalém para visitar a Deus no seu Templo (Ex 23,14-17). Jesus e os discípulos participavam das romarias e visitavam o Templo de Jerusalém nas grandes festas (Jo 2,13; 5,1; 7,14; 10,22; 11,55).
Criava-se assim um ambiente familiar e comunitário, impregnado pela leitura orante da Palavra de Deus, em que Jesus convivia com os discípulos e as discípulas. Foi nesta "convivência" de três anos com Jesus, que os discípulos e as discípulas receberam a sua formação. Em que consistia esta formação? A formação do "seguimento de Jesus" não era, em primeiro lugar, a transmissão de verdades a serem decoradas, mas era a comunicação da nova experiência de Deus e da vida que irradiava de Jesus para os discípulos e as discípulas. A própria comunidade que se formava ao redor de Jesus era a expressão desta nova experiência de Deus e da vida. A formação levava as pessoas a terem outros olhos, outras atitudes. Fazia nascer nelas uma nova consciência a respeito da missão e a respeito de si mesmas. Fazia com que colocassem os pés do lado dos excluídos. Produzia aos poucos a "conversão" como conseqüência da aceitação da Boa Nova (Mc 1,15).
   3.2.A missão: manifestação da vocação, amostra grátis do Reino
A missão não é uma tarefa que a comunidade pode executar, terminar e, depois, ficar livre dela. A missão é a natureza mesma da comunidade. A comunidade cristã ou é missionária ou não é comunidade cristã. A raiz da Missão é a nova experiência de Deus como Abba, Pai. Se Deus é Pai e Mãe, então todos devemos conviver como irmãos e irmãs. Mas a situação em que se encontrava o povo no tempo de Jesus era o contrário da fraternidade que Deus sonhou para todos! Diante desta situação, Jesus não se manteve neutro. Pelo contrário! Motivado pela sua experiência de Deus, tomou posição em defesa da vida do povo e definiu sua missão e vocação da seguinte maneira:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres, enviou-me para proclamar a libertação aos presos, a re­cuperação da vista aos cegos, restituir a liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça da parte do Senhor” (Lc 4,18-19).
A missão que a comunidade dos discípulos e discípulas recebe de Jesus é a mesma que ele recebeu do Pai: "Como o Pai me enviou assim envio vocês" (Jo 20,21). Jesus é o eixo, o centro, o modelo, a referencia da comunidade. Ele é o "caminho, a verdade e a vida" (Jo 14,6). Pelas suas atitudes, ele é uma amostra do Reino: encarna e revela o amor de Deus (Mc 6,31; Mt 10,30; Lc 15,11-32). A plataforma de onde se parte para a Missão é a comunidade, que vive a nova fraternidade. A Comunidade deve ser como o rosto de Deus, transformado em Boa Nova para o povo.
O que significa isto no concreto? Toda nova experiência de Deus, quando verdadeira, traz mudanças profundas na convivência humana. Eis algumas das mudanças que foram aparecendo na comunidade que se formou ao redor de Jesus e que caracterizam a formação recebida pelos discípulos e pelas discípulas ao longo dos três anos de convivência:
1. Todos irmãos: Ninguém deve aceitar o título de mestre, nem de pai, nem de guia, pois "um só é o mestre de vocês e todos vocês são irmãos" (Mt 23,8-10). A base da comunidade cristã não é o saber, nem o poder, nem a hierarquia, mas sim a igualdade de todos como irmãos. É a irmandade de todos ao redor do mesmo ideal. 
2. Igualdade homem e mulher: Jesus muda o relacionamento homem-mulher, pois tira o privilégio do homem frente à mulher (Mt 19,7-12). Não só os homens, também as mulheres “seguem” Jesus, desde a Galiléia (Mc 15,41; Lc 23,49; 8,1-3). Ele revela os seus segredos tanto aos homens como às mulheres. À Samaritana revelou que é o Messias (Jo 4,26). À Madalena apareceu por primeiro depois de ressuscitado e lhe deu a ordenação de anunciar a Boa Nova aos apóstolos (Mc 16,9-10; Jo 20,17).
3. Partilha dos bens: Na comunidade que se formou ao redor de Jesus, ninguém tinha nada de próprio (Mc 10,28). Jesus não tinha onde reclinar a cabeça (Mt 8,20). Havia uma caixa comum que era partilhada também com os pobres (Jo 13,29). Nas viagens o missionário confia no povo que o acolhe e depende da partilha que recebe (Lc 10,7). Jesus elogia a viúva que sabe doar até do necessário (Mc 12, 41-44).
4. Amigos e não empregados:  A partilha tem uma base econômica, mas deve crescer e atingir a alma e o coração das pessoas (At 1,14; 4,32). A comunhão deve chegar ao ponto de não haver mais segredo entre eles: “Já não os chamo de empregados, mas sim de amigos. Pois tudo que ouvi do meu Pai contei para vocês” (Jo 15,15).
5. Poder é serviço:   "Os reis das nações as dominam e os que as tiranizam são chamados benfeitores. Entre vocês não seja assim" (Lc 22,25-26). “Quem quiser ser o primeiro seja o último!” (Mc 10,44). Jesus deu o exemplo (Jo 13,15). "Não veio para ser servido, mas para servir e doar a vida" (Mt 20,28). É o ponto em que Jesus mais insistiu com os discípulos.
6. Poder de perdoar e reconciliar:   O poder de perdoar não é privilégio de alguns. Foi dado à comunidade (Mt 18,18), aos apóstolos (Jo 20,23) e também a Pedro (Mt 16,19). O perdão de Deus passa pela comunidade, que deve ser um lugar de perdão e de reconciliação, e não de condenação mútua.
7. Oração em comum Eles iam juntos em romaria ao Templo (Jo 2,13; 7,14; 10,22-23), rezavam antes das refei­ções (Mc 6,41; Lc 24,30), freqüentavam as sinagogas (Lc 4,16). E em grupos menores Jesus se retirava com eles para rezar (Lc 9,28; Mt 26,36-37). 
8. Alegria: Jesus diz aos discípulos: "Felizes são vocês!", porque seus nomes estão escritos no céu (Lc 10,20), seus olhos vêem a realização da promessa (Lc 10,23-24), o Reino é de vocês! (Lc 6,20). É alegria que convive com dor e perseguição (Mt 5,11). Ninguém consegue roubá-la (Jo 16,20-22).
Estas são algumas das características da comunidade que nasce ao redor de Jesus e na qual se guarda e se cul­tiva a vocação. Ela é o modelo para a comunidade dos primeiros cristãos, descrita nos Atos dos Apóstolos (At 2,42-47; 4,32-35). A convivência numa comunidade assim é necessariamente formadora. Ela consolida e faz crescer a vocação. Sem convivência comunitária é muito difícil nascer, crescer e desabrochar uma autêntica vocação segundo o rumo da Boa Nova que Jesus nos trouxe, pois a comunidade é a amostra grátis da Boa Nova do Reino.
4. Jesus é atento ao processo e ao cultivo da vocação nos discípulos
   4.1.Jesus é o amigo que forma os discípulos para a missão
Para manter-se sempre na missão e não se acomodar na mentalidade de “tarefa cumprida”, é necessário um processo contínuo de formação e de atenção à realidade do povo. Jesus aparece nos evangelhos como o amigo que forma seus discípulos com um acompanhamento e presença permanentes. Ele é uma "pessoa significativa" para eles, que vai marcá-los para o resto da vida.
Ao longo daqueles três anos, Jesus acompanha os discípulos e as discípulas. Convive com eles, come com eles, anda com eles, alegra-se com eles, sofre com eles. É através desta convivência que eles, quase todos jovens, se formam na vocação e no compromisso. Desde o primeiro momento do chamado, Jesus os envolve na missão (Lc 9,1-2; 10,1). Dois a dois, devem anunciar a chegada do Reino (Mt 10,7; Lc 10,1.9). Devem curar os doentes (Lc 9,2), expulsar os demônios (Mc 3, 15), anunciar a paz (Lc 10,5; Mt 10,13), rezar pela continuidade da missão (Lc 10,2). A participação efetiva no anúncio do Reino faz parte do processo formador, pois a missão é a razão de ser da vida comunitária ao redor de Jesus.
Muitos pequenos gestos refletem o testemunho de vida com que Jesus marcava presença na vida dos discípulos e das discípulas. Era a sua maneira de dar forma humana à experiência que ele mesmo tinha de Deus como Pai. Neste seu jeito de ser e de conviver, de se relacionar com as pessoas, de lidar com o povo e de atender aos que vinham falar com ele, Jesus aparece:
* como uma pessoa de paz, que inspira paz e reconciliação: "A Paz esteja com vocês!".(Jn 20,19; Mt 10,26-33; Mt 18,22; Jn 20,23; Mt 16,19; Mt 18,18).
* como uma pessoa livre e liberta, que desperta liberdade e promove a libertação: "O ser humano não foi feito para o sábado, mas o sábado para o ser humano!" (Mc2,27; 2,18.23)
* como uma pessoa de oração, que aparece rezando em todos os momentos importantes de sua vida e des­perta nos outros vontade de rezar: "Senhor, ensina-nos a rezar!" (Lc 11,1-4; Lc 4,1-13; 6,12-13; Jn 11,41-42; Mt 11,25; Jn 17,1-26; Lc 23,46; Mc 15,34)
* como uma pessoa carinhosa, que provoca respostas fortes de amor: na moça do perfume (Lc 7,37-38), em Madalena (João 21,15-17), em Pedro (Mt 18,21; 19,27) e em tantos outros (cf. Mc 14,3-9; Jo 13,1). 
* como uma pessoa acolhedora, que está sempre presente na vida dos discípulos e os acolhe quando voltam da missão fazendo revisão com eles (Lc 10,17-20)
* como uma pessoa misericordiosa, mansa e humilde, que convida os pobres: "Venham todos a mim" (Mt 11,28)
* como uma pessoa realista e observadora, que chama a atenção dos discípulos para as coisas da vida através do ensino das Parábolas (Lc 8,4-8)
* como uma pessoa atenciosa, preocupada com a alimentação dos discípulos (Jo 21,9), que cuida até do descanso deles e quer estar a sós com eles para que possam descansar (Mc 6,31).
* como uma pessoa preocupada com a situação do povo, que esquece o próprio cansaço quando se encontra com o povo que o procura (Mt 9,36-38).
* como uma pessoa amiga, que comparte tudo, até mesmo o segredo do Pai (Jn 15,15).
* como uma pessoa compreensiva, que aceita os discípulos do jeito que são, até mesmo a fuga, a negação e a traição, sem romper com eles (Mc 14,27-28; Jn 6,67).
* como uma pessoa comprometida, que defende os amigos quando são criticados pelos adversários (Mc 2,18-19; 7,5-13),
* como uma pessoa sábia que conhece a fragilidade do ser humano, sabe o que se passa no seu coração e, por isso, insiste na vigilância e ensina-os a rezar (Lc 11,1-13; Mt 6,5-15).
* Numa palavra, Jesus aparece como uma pessoa humana, muito humana, tão humana como só Deus pode ser humano!
   4.2.Jesus é o formador que aponta o perigo do fermento dos fariseus e herodianos
Não é pelo fato de uma pessoa andar com Jesus e de conviver com ele na mesma comunidade que ela já era santa e renovada. No meio dos discípulos, cada vez de novo, a mentalidade antiga levantava a cabeça e ameaçava a vocação, pois o “fermento de Herodes e dos fariseus” (Mc 8,15), a ideologia dominante, tinha raízes profundas. A conversão que Jesus pede e a formação que ele dá querem atingir a raiz e erradicar o “fermento”.
Como no tempo de Jesus, também hoje, a mentalidade antiga do sistema neoliberal renasce e reaparece na vida das nossas comunidades. Também hoje, o fermento dos fariseus tem raízes profundas na vida e exige uma vigilância constante. Jesus ajudava os discípulos a viverem em processo permanente de formação. Eis alguns casos desta vigilância com que Jesus os acompanhava. É a ajuda fraterna com que ele, atento ao processo da vocação em cada discípulo, intervém para ajudá-lo a dar um passo e criar nova consciência:
1. Mentalidade de grupo fechado:  Certo dia, alguém que não era da comunidade, usava o nome de Jesus para expulsar os demônios. João viu e proibiu: “Impedimos, porque ele não anda conosco” (Mc 9,38). Em nome da comunidade João impediu uma ação boa! Ele pensava ser dono de Jesus e queria proibir que outros usassem o nome dele para realizar o bem. João queria uma comunidade fechada sobre si mesma. Era a mentalidade antiga de "Povo eleito, Povo separado!". Jesus responde: "Não impeçam!  Quem não é contra é a favor!" (Lc 9,39-40). Para Jesus, o que importa não é se a pessoa faz ou não faz parte da comunidade, mas sim se ela faz ou não o bem que a comu­nidade anuncia em nome de Deus.
2. Mentalidade de grupo que se considera superior aos outros:  Certa vez, os samaritanos não queriam dar hospedagem a Jesus. Reação dos discípulos: “Que um fogo do céu acabe com esse povo!” (Lc 9,54). Queriam imitar o profeta Elias (2Rs 1,10.12). Achavam que, pelo fato de estarem com Jesus, todos deviam acolhê-los. Pensavam ter Deus do seu lado para defendê-los. Era a mentalidade antiga de “Povo eleito, Povo privilegiado!”. Jesus os repreende: "Vocês não sabem de que espírito estão sendo animados" (Lc 9,55)
3. Mentalidade de competição e de prestígio:  Os discípulos brigavam entre si pelo primeiro lugar (Mc 9,33-34). Era a mentalidade de classe e de competição, que caracterizava a sociedade do Império Romano. Ela já se infiltrava na pequena comunidade que estava apenas começando! Jesus reage e manda ter a mentalidade de serviço: "O primeiro seja o último" (Mc 9, 35). É o ponto em que ele mais insistiu e em que mais deu o próprio testemunho: “Não vim para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45; Mt 20,28; Jo 13,1-16).
4. Mentalidade de quem marginaliza o pequeno:  Os discípulos afastavam as crianças. Era a mentalidade da cultura da época em que criança não contava e devia ser disciplinada pelos adultos. Jesus os repreende: ”Deixem vir a mim as crianças!” (Mc 10,14). Ele coloca criança como professora de adulto: “Quem não receber o Reino como uma criança, não pode entrar nele” (Lc 18,17).
5. Mentalidade de quem segue a opinião da ideologia dominante: Certo dia, vendo um cego, Pedro pergunta: "Quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse cego?" (Jo 9,2). Como hoje, o poder da opinião pública era muito forte. Fazia todo mundo pensar de acordo com a ideologia dominante. Enquanto se pensa assim não é possível perceber todo o alcance da Boa Nova do Reino. Jesus os ajuda a ter uma visão mais crítica: “Nem ele, nem os pais dele” (Jo 9,3). A resposta de Jesus supõe uma leitura diferente da realidade.
   4.3.O resultado da vocação de Jesus na vida dos discípulos
Foi um processo lento e difícil, pois não é fácil fazer nascer nos outros uma nova visão de Deus, da vida, do próximo, da história, do Reino, do Messias, do povo de Deus. Jesus nem sempre era compreendido e, olhando os resultados imediatos, nem sempre teve sucesso. Muitas vezes, os discípulos não entendiam o que ele queria dizer (Mc 4,13; 6,52; 7,18; 8,15-21; Lc 18,34);  eles procuravam promover-se a si mesmos (Mc 10,35-37); no fim dos três anos, na hora do sofrimento, Pedro o negou, Judas o traiu, todos fugiram (Jn 18,5.17-26; Mc 14,50); depois da ressurreição, todos eles duvidam (Mt 28,17), não aceitam o testemunho das mulheres (Lc 24,22-24), Tomé não crê (Jn 20,24-29); na hora da ascensão, todos perguntam: "É agora que o senhor vai instaurar o Reino?" (At 1,6). A pergunta revela que eles não tinham entendido muita coisa! Só as mulheres continuaram fiéis até o fim e são apresentadas como modelo (Lc 8,1-3; 21,2-4; Mc 14,6-9; 15,40-41).
Apesar de todo este aspecto negativo, há algo novo e muito positivo que cresceu na vida daquelas pessoas. Aos poucos, através da convivência, Jesus foi se tornando o eixo da vida deles. Após dois ou três anos na comunidade com Jesus, a vocação se consolidou e eles já não podem imaginar a vida sem Jesus. Pedro declara que, fora de Jesus, não tem para onde ir: "Onde podemos ir? O Senhor tem palavras de vida eterna!" (Jn 6,68). Os dois irmãos João e Tiago, filhos de Zebedeu, chegam a dizer que estão dispostos a sofrer por amor a Jesus: "Podemos!" (Mc 10,39). E Tomé, quando percebeu que Jesus, voltando para a Judéia corria o perigo de ser morto, diz para os companheiros: "Vamos nós também morrer com Ele (Jo 11,16).
5. A opção pelos pobres e excluídos faz parte da vocação
Jesus veio para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Numa sociedade, porém, onde muitos são excluídos, sem condições de ter vida de gente, esta mensagem só se faz presente na contramão. Pois Deus não se coloca do lado dos que crucificam, mas sim do lado dos crucificados. Jesus anunciava o Reino para todos! Não excluía ninguém, mas ele o anunciava a partir dos excluídos. Jesus oferecia um lugar aos que não tinham lugar na convivência humana. Acolhia os que não eram acolhidos. Recebia como irmão e irmã aos que a religião e o governo desprezavam e excluíam:
* os imorais: prostitutas e pecadores (Mt 21,31-32; Mc 2,15; Lc 7,37-50; Jo 8,2-11),
* os hereges: pagãos e samaritanos (Lc 7,2-10; 17,16; Mc 7,24-30; Jo 4,7-42),
* os impuros: leprosos e possessos (Mt 8,2-4; Lc 11,14-22; 17,12-14; Mc 1,25-26),
* os marginalizados: mulheres,crianças e doentes (Mc 1,32; Mt 8,17;19,13-15; Lc 8,2s),
* os colaboradores: publicanos e soldados (Lc 18,9-14;19,1-10);
* os pobres: o povo da terra e os pobres sem poder (Mt 5,3; Lc 6,­20.­24; Mt 11,25-26).
Jesus lutava para recuperar a bênção da vida (Gn 1,27-28; 12,3), perdida por causa do pecado (Gn 3,15-19). Onde podia, ele defendia a vida contra os males que a ameaçavam ou matavam. E aos que queriam segui-lo, ele dava o poder de curar as doenças e de expulsar os maus espíritos (Mc 3,15; 6,7). Ou seja, os discípulos e as discípulas deviam assumir o mesmo combate em defesa da vida.
Assim, através da sua ação e pregação, Jesus combatia: a fome (Mc 6,35-44), a doença (Mc 1,32-34), a tristeza (Lc 7,13), a ignorância (Mc 1,22; 6,2), o abandono (Mt 9,36), a solidão (Mt 11,28; Mc 1,40-41), a letra que mata (Mc 2,23-28; 3,4), a discriminação (Mc 9,38-40; Jo 4,9-10), as leis opressoras (Mt 23,13-15; Mc 7,8-13), a injustiça (Mt 5,20; Lc 22,25-26), o medo (Mc 6,50; Mt 28,10), males da natureza (Mt 8,26), o sofrimento (Mt 8,17), o pecado (Mc 2,5), a morte (Mc 5,41-42; Lc 7,11-17), o demônio (Mc 1,25.34; Lc 4,13),...
Havia divisões injustas, legitimadas pela religião oficial, que marginalizavam muita gente. Jesus, com palavras e gestos bem concretos, ignorou estas divisões e as denunciou com força:
* próximo e não-próximo (Lc 10,29-37);
* judeu e estrangeiro (Mt 15,21-28);
* santo e pecador  (Lc 19,1-10; Mc 2,15-17);
* puro e impuro (Mt 23,23-24; Mc 7, 8-23; Mc 7,19);
* obras santas e profanas (Mt 6,1-18);
* tempo sagrado e profano (sábado) (Mc 2,27; Jo 7,23);
* lugar sagrado e profano (templo) (Jo 4,21-24; 2,19; Mc 13,2);
* rico e pobre (Lc 16,13; Lc 9,58)
Combatendo estes males e denunciando estas divisões injustas, Jesus convida as pessoas a se definirem frente aos novos valores do amor e da justiça. Alguns o aceitam, outros o rejeitam. Por isso, ele cria novas divisões (Mt 10,34-36) e se torna “sinal de contradição” (Lc 2,34). E aos que querem segui-lo, adverte que se preparem. Irão sofrer a mesma contradição (Mt 10,25).
6. Seguir Jesus na contramão, obediente a Deus e aos pobres até à morte de Cruz
A Boa Nova fez surgir uma nova divisão. Não a divisão causada por crenças e ritos, mas sim a divisão que tinha a ver com a prática da justiça e da verdade. A opção de Jesus é clara, seu apelo também: não é possível ser amigo de Jesus e continuar apoiando um sistema que marginaliza tanta gente. E aos que querem seguí-lo ele manda escolher: "Ou Deus, ou o dinheiro! Servir aos dois não dá!" (Mt 6,24) "Vai, vende tudo que tens, dá aos pobres. Depois, vem e segue-me" (Mt 19,21). Numa sociedade assim, Seguir Jesus significa assumir com ele a mesma luta em defesa da vida, "estar com ele nas tentações" (Lc 22, 28), inclusive na perseguição (Jo 15,20; Mt 10,24-25), carregar a cruz e segui-lo até na morte (Jo 11,16).  
Entre os males combatidos por Jesus estavam as falsas lideranças. Jesus percebeu a mentalidade opressora das autoridades da época e a denunciou. Não teve medo de denunciar a hipocrisia de muitos líderes religiosos da época: sacerdotes, escribas e fariseus (Mt 23,1-36; Lc 11,37-52; 12,1; Mc 11,15-18). Condenou a pretensão dos ricos (Lc 6,24; 12,13-21; Mt 6,24; Mc 10,25). Não acreditava muito na sua conversão (Lc 16,29-31), embora admitisse que fosse possível pelo poder de Deus (Mt 19,26). Diante das ameaças do poder político, tanto dos judeus como dos romanos, Jesus não se intimidava. Mantinha uma atitude de grande liberdade (Lc 13,32;23,9; Jo 19,11;18,23).
Por meio destes gestos de denúncia, Jesus fazia estremecer as pilastras da religião oficial, incomodava os que estavam bem instalados, e atraía sobre si o ódio dos líderes religiosos e civis da época. Mas Jesus não voltou atrás. Continuou fiel à sua vocação que ele mesmo definiu como "anunciar a Boa Notícia aos pobres; proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; libertar os oprimidos" (Lc 4,18). Era a maneira de encarnar o amor de Deus para o povo da sua terra. Quem anuncia o amor numa sociedade organizada a partir dos critérios do egoísmo e dos interesses de grupos morre crucificado. Foi o que aconteceu. Bastaram só três anos e ele foi acusado, preso, condenado e morto na cruz. Mas Deus o ressuscitou, confirmando assim que o caminho da vocação de Jesus é o caminho do agrado do Pai.
Esta mensagem, os primeiros cristãos souberam expressá-la na letra de um cântico que foi retomada por Paulo numa das suas cartas. Pena que só temos a letra e não a melodia, pois quando a letra casa bem com a melodia, a filha que nasce é a animação da comunidade e o crescimento das pessoas na sua vocação. Transcrevo aqui a letra como palavra final destas reflexões sobre: “Juventude: Vocação e Compromisso à luz da Palavra de Deus”:
  
Tenham em vocês os mesmos sentimentos
que havia em Jesus Cristo!
Ele tinha a condição divina,
mas não se apegou à sua igualdade com Deus.
Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo,
assumiu a condição de empregado
e tornou-se ser humano, igual a nós.
E vivendo como simples homem,
humilhou-se a si mesmo,
tornou-se obediente até à morte,
e morte de cruz
Por isso, Deus o exaltou,
e lhe deu o Nome
que está acima de todo nome;
para que, ao nome de Jesus,
se dobre todo o joelho
no céu, na terra e debaixo da terra;
e toda língua confesse
que Jesus Cristo é o Senhor,
para a glória de Deus Pai.  (Flp 2,5-11) 
  
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Perguntas para ajudar na reflexão e na assimilação do assunto: 
1. O que mais chamou a sua atenção nas atitudes que Jesus tomava para chamar as pessoas? Por que?
2. Faça a você a seguinte pergunta: Quem é Jesus para mim? Quem sou eu para Jesus?

               CESEP, CURSO DO VERÃO, 14 a 16 de janeiro de 2008