Histórico

A Paróquia Santo André, foi desmembrada da Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição, fundada em 20 de junho de 1971, tem como padroeiro o Apóstolo André, santo que a Igreja celebra sua memória no dia 30 de novembro, data de seu martírio. No dia 30 de novembro de 2014, Dom Redovino Rizzardo elevou à qualidade de paróquia, nomeando o primeiro pároco, o Padre Otair Nicoletti. A equipe de Coordenação do Conselho Comunitário de Pastoral - CCP está formada pelas seguintes pessoas: Coordenação: Laudelino Vieira, Paulo Crippa; Assuntos Econômicos: José Zanetti, Valter Claudino; Secretaria: Marcus Henrique e Naiara Andrade.

sábado, 8 de setembro de 2012

DOCUMENTO: DIRETORIO PARA MISSAS COM CRIANÇAS

CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL

DIRETÓRIO PARA MISSAS COM CRIANÇAS
Documento da Sagrada Congregação para o Culto Divino
1º de novembro de 1973


INTRODUÇÃO

1. A Igreja deve, de modo especial, cuidar das crianças batizadas, cuja iniciação deve ainda ser completada pelos sacramentos da confirmação e da eucaristia, bem como das recém admitidas na sagrada comunhão. Hoje, as circunstâncias em que se desenvolvem as crianças, pouco favorecem ao seu progresso espiritual1. Além disso, os pais, com freqüência, deixam de cumprir as obrigações da educação cristã, contraídas no batismo de seus filhos.

2. Quanto à formação das crianças na Igreja, surge uma dificuldade especial pelo fato de as celebrações litúrgicas, principalmente as eucarísticas, não poderem exercer nelas sua força pedagógica inata2. Embora já seja lícito, na missa, fazer uso da língua materna, contudo as palavras e os sinais não estão suficientemente adaptados à capacidade das crianças.
Na realidade as crianças, na sua vida cotidiana, nem sempre compreendem tudo o que experimentam na convivência com os adultos, sem que isto lhes ocasione algum tédio. Por esse motivo, não se pode pretender que na liturgia todos e cada um de seus elementos lhes sejam compreensíveis. Poder-se-ia, entretanto, causar às crianças um dano espiritual se, repetidamente e durante anos, elas não compreendessem quase nada das celebrações; pois recentemente a psicologia moderna comprovou quão profundamente podem as crianças viver a experiência religiosa, desde sua primeira infância, graças à especial inclinação religiosa de que gozam3.

3. A Igreja, seguindo o seu Mestre, que, "abraçando... abençoava" os pequeninos (Mc 10,16), não pode abandonar as crianças nesta situação, entregues a si mesmas. Por este motivo, imediatamente após o Concílio Vaticano II, que já na Constituição sobre a Sagrada Liturgia falara sobre a necessidade de uma adaptação da liturgia para os diversos grupos4, sobretudo no primeiro Sínodo dos Bispos, realizado em Roma no ano de 1967 começou a considerar, com maior empenho, como as crianças poderiam participar mais facilmente da liturgia.
Naquela ocasião, o presidente do Conselho Executor da Constituição sobre a Sagrada Liturgia, usando de palavras bem claras, disse que não se tratava, na verdade, de "elaborar um rito inteiramente especial, mas de consertar, abreviar ou omitir alguns elementos, ou de selecionar alguns textos mais adequados"5.

4. Depois que a Instrução Geral do Missal Romano restaurado, publicada em 1969, tudo resolveu para a celebração eucarística com o povo, esta Congregação, após considerar os freqüentes pedidos provenientes de todo o orbe católico, começou a preparar um Diretório próprio para as missas com crianças como suplemento desta Instrução, com a colaboração de homens e mulheres peritos de quase todas as nações.

5. Este Diretório, bem como a Instrução Geral, reservou certas adaptações às Conferências dos Bispos ou a cada Bispo em particular6.
As próprias Conferências devem propor à Sé Apostólica, para que sejam introduzidas com o seu consentimento, conforme o artigo 40 da Constituição da Sagrada Liturgia, as adaptações que julgarem necessárias à missa para crianças segundo o seu parecer, visto que elas não podem constar de Diretório geral.

6. O Diretório visa as crianças que ainda não atingiram a idade chamada de pré-adolescência. De per si, não se refere às crianças com impedimentos físicos ou mentais, posto que para elas se requer geralmente uma adaptação mais profundas7; contudo, as normas seguintes se podem aplicar também a elas, com as devidas acomodações.

7. No primeiro capítulo do Diretório (números 8 a 15) estabelece-se como que o fundamento, onde se discorre sobre o variado encaminhamento das crianças para a liturgia eucarística; o outro capítulo trata brevemente do caso de missas com adultos (números 16 e 17) das quais as crianças também participam; finalmente o terceiro capítulo (números 20 a 54) versa mais pormenorizadamente sobre as missas para crianças, das quais somente participam uns poucos adultos.

CAPÍTULO I

EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS PARA A CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

8. Como não se pode cogitar de uma vida plenamente cristã sem a participação nas ações litúrgicas, em que, reunidos, os fiéis celebram o mistério pascal, a iniciação religiosa das crianças não pode ficar alheia a esta finalidade8.
A Igreja, ao batizar as crianças e confiante nos dons inerentes a este sacramento, deve cuidar que os batizados cresçam em comunhão com Cristo e seus irmãos, cujo sinal, e penhor é a participação da mesa eucarística, para a qual as crianças serão preparadas ou em cuja significação mais profundamente introduzidas. Esta formação litúrgica e eucarística não pode desvincular-se de sua educação geral tanto humana quanto cristã; e até seria nocivo se a formação litúrgica carecesse de tal fundamento.

9. Portanto, os que têm a seu cargo a educação das crianças, devem envidar todos os esforços para conseguirem tal empenho, a fim de que elas, embora já conscientes de um certo sentido de Deus e das coisas divinas, experimentem, segundo a idade e o progresso pessoal, os valores humanos inseridos na celebração eucarística, tais como: ação comunitária, acolhimento, capacidade de ouvir, bem como a de pedir e dar perdão, ação de graça, percepção das ações simbólicas, da convivência fraterna e da celebração festiva9.
É próprio da catequese eucarística, conforme o n° 12, atualizar tais valores humanos de tal modo que as crianças gradativamente abram o espírito, segundo sua idade, condições psicológicas e sociais, para perceber os valores cristãos e celebrar o mistério do Cristo10.

10. A família cristã desempenha papel principal na transmissão destes valores humanos e cristãos11. Por este motivo a formação cristã que se oferece aos pais ou a outras pessoas encarregadas da educação, deve ser bem aprimorada também levando-se em conta a formação litúrgica das crianças.
Pela consciência do dever livremente aceito no batismo de seus filhos, os pais são obrigados a ensinar-lhes gradativamente a orar, rezando diariamente com eles e procurando fazer com que rezem sozinhos12. Se as crianças, assim preparadas desde tenra idade, participam da missa com a família, todas as vezes que o desejarem, mais facilmente começarão a cantar e a rezar na comunidade litúrgica e até, de alguma maneira, poderão pressentir o mistério eucarístico.
Encontrando-se os pais arrefecidos na fé, se assim mesmo desejarem a instrução cristã dos filhos, pelo menos que eles sejam convidados a partilhar com as crianças dos valores humanos acima referidos e, dada a ocasião, a tomar parte tanto nas reuniões de pais como nas celebrações não-eucarísticas que se fazem com as crianças.

11. Ademais, as comunidades cristãs, a que pertence cada uma das famílias ou em que vivem as crianças, têm um dever a cumprir para com as crianças batizadas na Igreja.
A comunidade cristã, apresentando o testemunho do Evangelho, vivendo a caridade fraterna, celebrando ativamente os mistérios do Cristo, é ótima escola de instrução cristã e litúrgica para as crianças que nela vivem.
No seio da comunidade cristã, os padrinhos ou qualquer pessoa zelosa que colabora na educação cristã, movida pelo ardor apostólico, pode proporcionar às famílias um grande auxílio para catequizar devidamente as crianças.
Particularmente os jardins de infância, as escolas católicas, bem como vários outros grupos de crianças se prestam para estes mesmos fins.

12. Embora a própria liturgia, por si mesma, já ofereça às crianças amplo ensinamento13, a catequese da missa merece um lugar de destaque dentro da instrução catequética, tanto escolar como paroquial14, conduzindo-as a uma participação ativa, consciente e genuína15. Esta catequese, "bem adaptada à idade e à capacidade das crianças, deve tender a que conheçam a significação da missa por meio dos ritos principais e pelas orações, inclusive o que diz respeito à participação da vida da Igreja''16; isto se refere, principalmente, aos textos da própria Prece Eucarística e às aclamações, por meio das quais as crianças dela participam.
Digna de especial menção é a catequese pela qual as crianças são preparadas para a primeira comunhão. Nesta preparação deverão aprender não só as verdades de fé sobre a eucaristia, mas também como poderão nela participar ativamente com o povo de Deus, plenamente inseridas no corpo de Cristo, tomando parte na mesa do Senhor e na comunidade dos irmãos, depois de serem preparadas pela penitência de acordo com a sua capacidade.

13. Celebrações de várias espécies também podem desempenhar um papel na formação litúrgica das crianças e na sua preparação para a vida litúrgica da Igreja. Por força da própria celebração, as crianças percebem, mais facilmente, certos elementos litúrgicos, como a saudação, o silêncio, o louvor comunitário, sobretudo se for cantado. Cuide-se, todavia, que estas celebrações não se revistam de uma índole demasiadamente didática.

14. A Palavra de Deus deve ocupar cada vez mais um lugar de destaque nestas celebrações, sempre adaptadas à capacidade das crianças. E ainda mais, segundo a capacidade espiritual, mais freqüentemente façam-se com elas as sagradas celebrações propriamente ditas da Palavra de Deus, principalmente no tempo do advento e da quaresma17. Estas celebrações, junto às crianças, podem favorecer em grande escala o interesse pela Palavra de Deus.

15. Toda formação litúrgico-eucarística, feitas as devidas ressalvas, deve ser sempre orientada para que a vida das crianças corresponda cada vez mais ao Evangelho.

CAPÍTULO II

MISSAS DE ADULTOS, DAS QUAIS TAMBÉM
AS CRIANÇAS PARTICIPAM

16. Em muitos lugares, principalmente aos domingos e nos dias de festa, celebram-se missas paroquiais de que não poucas crianças participam juntamente com grande número de adultos. Nestas ocasiões, o testemunho dos fiéis adultos pode ter grande efeito junto a elas. Mas também eles recebem um proveito espiritual ao perceber, em tais celebrações, o papel que as crianças desempenham na comunidade cristã. Se nestas missas participam as crianças junto com seus pais e outros parentes, fomenta-se grandemente o espírito cristão da família.
As próprias criancinhas, que não podem ou não querem participar da missa, podem ser apresentadas ao final da mesma para receber a bênção juntamente com a comunidade, depois que, por exemplo, algumas pessoas auxiliares da paróquia as tenham entretido durante a missa, em lugar separado.

17. Entretanto, nas missas deste gênero, deve-se precaver cuidadosamente para que as crianças não se sintam esquecidas em virtude da incapacidade de participar e entender aquilo que se realiza e proclama na celebração. Leve-se, pois, em consideração a sua presença, por exemplo, dirigindo-se a elas com certas monições apropriadas no começo e no final da missa, em alguma parte da homilia etc.
Mais ainda, de vez em quando, se o permitirem as circunstancias do lugar e das pessoas, pode ser conveniente celebrar com as crianças a Liturgia da Palavra com sua homilia, em lugar separado, mas não distante demais, e logo ao iniciar-se a Liturgia Eucarística, sejam reunidas aos adultos, no lugar onde estes celebraram a Liturgia da Palavra.

18. Pode ser de grande utilidade confiar às crianças alguns ofícios nestas missas, como, por exemplo, levar as oferendas, executar um ou dois cantos da missa.

19. Algumas vezes, se são muitas as crianças que participam destas missas, convirá organizá-las de forma mais adequada a elas. Neste caso a homilia será dirigida a elas, porém em forma que seja também proveitosa para os adultos. Além das adaptações previstas no ordinário da missa, podem-se também introduzir nas missas para adultos, com a participação também das crianças, algumas das que se indicarão no capítulo seguinte, se o Bispo permitir.

CAPÍTULO III

MISSAS DE CRIANÇAS, DAS QUAIS SOMENTE
ALGUNS ADULTOS PARTICIPAM

20. Além das missas em que tomam parte as crianças junto com seus pais e alguns familiares, e que nem sempre e nem em qualquer lugar podem ser realizadas, recomendam-se, sobretudo durante a semana, celebrações de missas somente para crianças, com a participação apenas de alguns adultos. Desde o início da restauração litúrgica18, viu-se a necessidade de adaptações especiais para estas missas, de que se falará logo abaixo e de forma geral
(n.º 38-54).

21. Deve-se ter sempre diante dos olhos que tais celebrações eucarísticas devem encaminhar as crianças para as missas de adultos, principalmente para a missa dominical, que reúne toda a comunidade cristã19. Portanto, afora as adaptações necessárias por causa da idade dos participantes, não se pode chegar a ritos completamente especiais que demasiadamente difiram do ordinário da missa celebrada com o povo20. A finalidade de cada um dos elementos deve corresponder ao que se determina sobre eles na Instrução Geral do Missal Romano, ainda que alguma vez, por razões pastorais, não se possa conservar sua igualdade absoluta.

OFÍCIOS E MINISTÉRIOS DA CELEBRAÇÃO

22. Os princípios da participação ativa e consciente valem, de certa maneira, "a fortiori", se as missas são celebradas com crianças. Portanto, tudo se faça para fomentar e tornar mais viva e profunda esta participação. Para este fim, confiem-se ao maior número de crianças, ofícios especiais na celebração, tais como: preparar o lugar e o altar (cf. nº. 29), assumir o ofício de cantor (cf. nº. 24), cantar no coral, tocar algum instrumento musical (cf. nº. 32), proclamar as leituras (cf. nº. 24 e 47), responder durante a homilia (cf. n.º 48), recitar as intenções da prece dos fiéis, levar as oferendas para o altar, e outras ações semelhantes segundo os costumes dos diversos povos (cf. nº. 34).
Certas adições podem favorecer, algumas vezes, a participação, como por exemplo: explicar as motivações para a ação de graças antes que o sacerdote inicie o diálogo do Prefácio. Em tudo isto leve-se em conta que as ações externas podem tornar-se infrutuosas e até chegar a ser nocivas, se não favorecerem a participação interna das crianças. Por isso o sagrado silêncio também tem sua importância nas missas para crianças (cf. nº 37). Atenda-se, com grande cuidado, que as crianças não se esqueçam de que todas estas formas de participação têm seu ponto mais alto na comunhão eucarística, na qual o corpo e o sangue de Cristo são recebidos como alimento espiritual21.

23. O sacerdote que celebra a missa com as crianças esmere-se de todo o coração para fazer uma celebração festiva, fraterna e meditativa22; pois, mais que nas missas com adultos, estas disposições dependem da forma de celebrar do sacerdote, de sua preparação pessoal e mesmo de sua forma de atuar e de falar. Sobretudo, atenda à dignidade, clareza e simplicidade dos gestos. Ao falar às crianças procurará expressar-se de tal maneira que o entendam facilmente, evitando, porém, expressões demasiadamente pueris.
As monições facultativas23 hão de conduzir as crianças a uma participação litúrgica autêntica e não se tornem explicações meramente didáticas.
Para mover os corações das crianças, ajudará muito se o sacerdote empregar suas palavras nas monições, por exemplo, do ato penitencial, antes das orações sobre as oferendas, ao Pai nosso, ao dar a paz, ou ao distribuir a comunhão.

24. Como a eucaristia é sempre uma ação de toda a comunidade eclesial, convém que participem da missa também alguns adultos, não como vigias, senão orando com as crianças e para prestar-lhes a ajuda que seja necessária.
Nada impede que um dos adultos que participam da missa com as crianças, lhes dirija a palavra após o Evangelho, com a aprovação do pároco ou do reitor da Igreja, sobretudo se ao sacerdote se torna difícil adaptar-se à mentalidade das crianças. Sigam-se, neste assunto, as normas da Sagrada Congregação para o Clero.
Também nas missas para as crianças deve-se fomentar a diversidade de ministérios, a fim de que a celebração evidencie sua índole comunitária24. Os leitores e os cantores, por exemplo, podem ser escolhidos dentre as crianças ou os adultos. Desta sorte, pela variedade de vozes, evitar-se-á também a monotonia.

LUGAR E TEMPO DA CELEBRAÇÃO

25. A igreja é o lugar principal para a celebração eucarística com as crianças, porém, escolha-se nela um lugar à parte, se for possível, no qual as crianças, segundo o seu número, possam atuar com liberdade, de acordo com as exigências de uma liturgia viva e adequada à sua idade.
Se a igreja não corresponde a estas exigências, será preferível celebrar a eucaristia com as crianças em outro lugar que seja digno e adapto para a celebração25.

26. Para as missas com as crianças, escolha-se o dia e a hora mais conveniente, segundo as circunstâncias em que vivem, de modo que estejam nas melhores condições para escutar a Palavra de Deus e para celebrar a eucaristia.

27. Durante a semana, as crianças podem participar com maior fruto e menor risco de aborrecimento na celebração da missa, se não se celebra todos os dias (por exemplo, nos internatos); além disso, havendo mais tempo entre uma celebração e outra, pode-se preparar melhor.
Nos demais dias, é preferível uma oração em comum, em que as crianças podem participar com mais espontaneidade, ou uma meditação comunitária, ou uma celebração da Palavra de Deus que prolongue as celebrações eucarísticas anteriores e prepare a celebrar mais profundamente as seguintes.

28. Quando é muito grande o número das crianças que celebram a eucaristia, torna-se mais difícil uma participação atenta e consciente. Por isso, podem-se estabelecer vários grupos, não estritamente segundo a idade, mas levando-se em conta seu nível de formação religiosa e sua preparação catequética.
Durante a semana, será oportuno convidar os diversos grupos, em dias distintos, para a celebração do sacrifício da missa.

PREPARAÇÃO DA CELEBRAÇÃO

29. Toda celebração eucarística com crianças, principalmente no que se refere às orações, cantos, leituras e intenção da prece dos fiéis, deve ser preparada a tempo e com diligência, em diálogo com os adultos e com as crianças que vão exercer algum ministério na celebração. Convém dar às crianças uma participação direta na preparação e ornamentação, tanto do lugar da celebração como dos objetos necessários, tais como o cálice, a patena, as galhetas etc.
Tudo isto contribui, ademais, para fomentar o sentido comunitário da celebração, sem, contudo, dispensar uma justa participação interna.

MÚSICA E CANTO

30. O canto, de grande importância em todas as celebrações, sê-lo-á mais ainda nas missas celebradas com as crianças, dado o seu peculiar gosto pela música. Portanto, deve-se fomentá-lo de toda forma26, levando-se em conta a índole de cada povo e as aptidões das crianças presentes.
Sempre que possível, as aclamações, especialmente as que pertencem à Prece Eucarística, de preferência sejam cantadas pelas crianças; caso contrário, sejam recitadas.

31. Para facilitar a participação das crianças no canto do "Glória", "Creio", "Santo" e "Cordeiro de Deus", é lícito adotar as composições musicais apropriadas com versões populares aceitas pela autoridade competente, ainda que literalmente não estejam de acordo com o texto litúrgico27.

32. Também nas missas para crianças, "os instrumentos musicais podem ser de grande utilidade"28, principalmente se tocados pelas próprias crianças. Eles contribuem para sustentar o canto ou para nutrir a meditação das crianças; ao mesmo tempo exprimem, à sua maneira, a alegria festiva e o louvor de Deus.
Sempre se deve tomar cuidado para que a música não predomine sobre o canto, ou sirva mais de distração que de edificação para as crianças; é preciso que corresponda à necessidade de cada momento em que se faz uso da música durante a missa.
Com as mesmas cautelas, com a devida seriedade e peculiar prudência, a música reproduzida por meios técnicos também pode ser adotada nas missas para crianças, conforme as normas estabelecidas pelas Conferências dos Bispos.

OS GESTOS

33. É necessário, nas missas para crianças, fomentar com diligência sua participação por meio dos gestos e das atitudes corporais, segundo a sua idade e os costumes locais. Isto é recomendado pela própria natureza da liturgia, como ação de toda a pessoa humana, e também pela psicologia infantil. Têm grande importância não só as atitudes e os gestos do sacerdote29, senão também, e mais ainda, a forma de se comportar de todo o grupo de crianças.
Se a Conferência dos Bispos adapta à índole de cada povo, segundo a norma da Instituição Geral do Missal Romano, os gestos que são feitos na Missa30, que leve em conta também a situação especial das crianças ou determine as adaptações feitas só para elas.

34. Entre os gestos, merecem menção especial as procissões e outras ações que implicam na participação do corpo.
A entrada processional do sacerdote junto com as crianças pode ser útil para fazê-las, sentir melhor o vínculo de comunhão que então se estabelece31; a participação, ao menos de algumas crianças, na procissão do Evangelho, torna mais significativa a presença de Cristo que proclama a Palavra a seu povo; a procissão das crianças com o cálice e as oferendas expressa melhor o sentido da preparação dos dons; a procissão da comunhão, bem organizada, ajudará a aumentar a piedade das crianças.

ELEMENTOS VISUAIS

35. A própria liturgia da missa contém muitos elementos visuais a que se deve dar grande importância nas celebrações para crianças. Merecem especial menção certos elementos visuais próprios dos diversos tempos do ano litúrgico, por exemplo: a adoração da cruz, o círio pascal, as velas na festa da Apresentação do Senhor, a variação de cores e ornamentações litúrgicas.
Além destes elementos visuais próprios da celebração e de seu ambiente, introduzam-se, oportunamente, outros que ajudem as crianças a contemplar as maravilhas de Deus na criação e na redenção e sustentem visualmente sua oração.
Nunca a liturgia deverá aparecer como algo árido e somente intelectual.

36. Por esta mesma razão, pode ser útil o emprego de imagens preparadas pelas próprias crianças, como, por exemplo, para ilustrar a homilia, as intenções da prece dos fiéis ou para inspirar a meditação.

O SILÊNCIO

37. Também nas missas para crianças o silêncio, como parte da celebração, há de ser guardado a seu tempo"32, para que não se atribua parte excessiva à atividade externa; pois as crianças também, a seu modo, são realmente capazes de fazer meditação. Contudo, necessitam ser guiadas convenientemente a fim de que aprendam, de acordo com os diversos momentos (por exemplo, depois da comunhão33 e depois da homilia), a concentrar-se em si mesmas, meditar brevemente, ou a louvar e rezar a Deus em seu coração34.
Além disso, deve-se procurar — precisamente com mais cuidado que nas missas com adultos — que os textos litúrgicos sejam proclamados sem precipitação, em forma clara e com as devidas pausas.

AS PARTES DA MISSA

38. Respeitando sempre a estrutura geral da missa, que "consta de certa maneira de duas partes, a saber: Liturgia da Palavra e Liturgia Eucarística, e também de alguns ritos que iniciam e concluem a celebração"35, dentro das diversas partes da celebração parecem necessárias as seguintes adaptações para que as crianças realmente, "por meio dos ritos e das orações", segundo as leis da psicologia da infância, experimentem, à sua maneira, "o mistério da fé"36.

39. A fim de que a missa para crianças não seja demasiadamente diferente da missa com adultos37, alguns ritos e textos nunca devem ser adaptados às crianças, como "as aclamações e respostas dos fiéis as saudações do sacerdote"38, o Pai nosso, a fórmula trinitária na bênção final com que o sacerdote conclui a missa. Recomenda-se que paulatinamente as crianças vão se acostumando ao Símbolo Niceno-Constantinopolitano, além do uso do Símbolo dos Apóstolos (vide nº. 49).

a) Ritos iniciais

40. Uma vez que o rito inicial da missa tem por finalidade "que os fiéis reunidos constituam uma comunidade e se disponham a ouvir atentamente a Palavra de Deus e a celebrar dignamente a eucaristia39 deve-se procurar suscitar estas disposições nas crianças, evitando-se a dispersão na multiplicidade dos ritos propostos.
Por isso, é perfeitamente permitido omitir um ou outro elemento do rito inicial, ou talvez desenvolver mais um deles. Porém sempre haja pelo menos um elemento introdutório que seja concluído pela coleta. Na escolha, cuide-se que cada elemento apareça a seu tempo e nenhum seja sempre desprezado.

b) Proclamação e explicação da Palavra de Deus

41. Como as leituras da Sagrada Escritura constituem "a parte principal da liturgia da Palavra"40, nunca pode faltar a leitura da Bíblia mesmo nas missas para crianças.

42. Com relação ao número das leituras para os domingos e dias de festa, devem ser observadas as normas dadas pelas Conferências Episcopais. Se as três ou as duas leituras previstas para os domingos ou dias da semana não podem, senão com dificuldade, ser compreendidas pelas crianças, convém ler somente duas ou uma delas; entretanto, nunca falte a leitura do Evangelho.

43. Se todas as leituras determinadas para o dia não forem adequadas à compreensão das crianças, é permitido escolher as leituras ou a leitura seja do Lecionário do Missal Romano, seja diretamente da Bíblia, mas levando-se em conta os diversos tempos litúrgicos. Recomenda-se, porém, às Conferências Episcopais que elaborem lecionários próprios para as missas com crianças.
Se, por causa da capacidade das crianças, parecer necessário omitir um ou outro versículo da leitura bíblica, far-se-á com cautela e de tal maneira que "não se mutile o sentido do texto ou a mente e o estilo da Escritura''41.

44. Entre os critérios de seleção dos textos bíblicos, há que se pensar mais na qualidade que na quantidade. Uma leitura breve nem sempre é por si mesma a mais adequada à capacidade das crianças do que uma leitura mais prolongada. Tudo depende da utilidade espiritual que a leitura lhes pode proporcionar.

45. Evitem-se as paráfrases da Sagrada Escritura uma vez que no próprio texto bíblico "Deus fala a seu povo... e o próprio Cristo, por sua palavra, se acha presente no meio dos fiéis"42. Recomenda-se, entretanto, o uso de versões talvez existentes para a catequese das crianças e que tenham sido aprovadas pela autoridade competente.

46. Entre uma leitura e outra devem-se cantar alguns versículos de salmos escolhidos cuidadosamente para a melhor compreensão das crianças, ou um canto ao estilo dos salmos, ou o "Aleluia" com um verso simples. Porém as crianças sempre devem tomar parte nestes cantos. Nada impede que um silêncio meditativo substitua o canto.
Se for escolhida somente uma única leitura, o canto poderá ser executado depois da homilia.

47. Grande importância merecem os diversos elementos que servem para a melhor compreensão das leituras bíblicas, a fim de que as crianças possam assimilá-las e compreendam, cada vez melhor, a dignidade da Palavra de Deus.
Entre estes elementos estão as monições que precedem as leituras43 e dispõem as crianças para ouvir atenta e frutuosamente, seja explicando o contexto, seja conduzindo ao próprio texto. Se a missa é do santo do dia, para a compreensão e ilustração das leituras da Sagrada Escritura pode-se narrar algo referente à vida do santo não só na homilia, como também nas monições antes das leituras bíblicas.
Quando o texto da leitura assim o permitir, pode ser útil distribuir entre várias crianças suas diversas partes, tal como se costuma fazer para a proclamação da paixão do Senhor na semana santa.

48. Em todas as missas com crianças deve-se dar grande importância à homilia, pela qual se explica a Palavra de Deus. A homilia destinada às crianças pode realizar-se, algumas vezes, em forma de diálogo com elas, a não ser que se prefira que escutem em silêncio.

49. Quando ao final da Liturgia da Palavra tem que se dizer o credo, pode-se empregar com as crianças o Símbolo dos Apóstolos, posto que faz parte de sua formação catequética.

c ) Orações presidenciais

50. Para que as crianças possam realmente associar-se ao celebrante nas orações presidenciais, o sacerdote pode escolher os textos mais aptos do Missal Romano, levando em conta, entretanto, o tempo litúrgico.

51. Algumas vezes não basta esta livre escolha, para que as crianças possam considerar as orações como expressão de sua própria vida e de sua experiência religiosa44, pois as orações foram feitas para os fiéis adultos. Neste caso nada impede que se adapte o texto do Missal Romano às necessidades das crianças, respeitando-se, entretanto, sua finalidade e, de certa maneira, sua substância, e evitando-se tudo o que é estranho ao gênero literário de uma oração presidencial, como, por exemplo, exortações moralizantes e formas de falar demasiado pueris.

52. Na eucaristia celebrada com as crianças, o mais importante deve ser a Oração Eucarística que é o ponto alto de toda a celebração45. Muito depende da maneira como o sacerdote recita esta Oração46 e da forma como as crianças dela participam, escutando em silêncio e por meio de aclamações.
A própria disposição de ânimo que este ponto central da celebração requer, a tranqüilidade e reverência com que tudo se executa, devem levar as crianças a manter o máximo de atenção na presença real de Cristo no altar sob as espécies de pão e vinho, no seu oferecimento, na ação de graças por ele, com ele e nele, e na oblação da Igreja que então se realiza e pela qual os fiéis se oferecem a si mesmos e sua vida inteira com Cristo ao Pai Eterno na unidade do Espírito Santo.
Por enquanto, empregar-se-ão somente as quatro Preces Eucarísticas aprovadas pela autoridade suprema para as missas com adultos e introduzidas no uso litúrgico, enquanto a Sé Apostólica não dispuser outra coisa para as missas com crianças.

d) Ritos antes da comunhão

53. Terminada a Prece Eucarística, segue-se sempre o Pai nosso, a fração do pão e o convite para a comunhão47, pois estes elementos são de grande importância na estrutura desta parte da missa.

e) A comunhão e os ritos seguintes

54. Tudo deve desenrolar-se de tal maneira que as crianças já admitidas na eucaristia, devidamente dispostas, com tranqüilidade e recolhimento se acerquem da sagrada mesa e participem plenamente do mistério eucarístico. Se for possível, entoar-se-á um canto adequado às crianças, durante a procissão da comunhão48.
A monição que precede a bênção final49 é muito importante nas missas com crianças, porque elas necessitam que, antes de despedi-las, se lhes dê, em breves palavras, uma certa repetição e aplicação do que ouviram. É sobretudo neste momento que convém fazê-las compreender o nexo entre a liturgia e a vida.
Pelo menos algumas vezes, por ocasião dos tempos litúrgicos e em certos momentos da vida das crianças, o sacerdote utilizará as formas mais ricas de bênção, porém conservando sempre a fórmula trinitária com o sinal da cruz no fim50.

55. Tudo o que contém este Diretório visa a que as crianças, celebrando a eucaristia, sem dificuldade e com alegria, possam ir unidas ao encontro do Cristo e estar com ele diante do Pai51.E assim formadas pela participação consciente e ativa no sacrifício e no banquete eucarístico, aprendam cada vez mais a anunciar o Cristo dentro e fora de sua casa, entre seus familiares e companheiros, vivendo a fé que "opera pela caridade" (Gl 5,6).

Este Diretório, preparado pela Sagrada Congregação para o Culto Divino, foi aprovado e confirmado no dia 22 de outubro de 1973 pelo Sumo Pontífice Paulo VI que ordenou sua publicação.
Da sede da Sagrada Congregação para o Culto Divino, 1º de novembro de 1973, solenidade de Todos os Santos.

Por especial mandato do Sumo Pontífice

JEAN CARDEAL VILLOT
Secretário de Estado

† A. BUGNINI
Arcebispo de Diocleciana
Secretário da S. C. para o Culto Divino

terça-feira, 4 de setembro de 2012

LITURGIA: 23° DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B (09/09/2012)

Tema do 23º Domingo do Tempo Comum 
A liturgia do 23º Domingo do Tempo Comum fala-nos de um Deus comprometido com a vida e a felicidade do homem, continuamente apostado em renovar, em transformar, em recriar o homem, de modo a fazê-lo atingir a vida plena do Homem Novo.
Na primeira leitura, um profeta da época do exílio na Babilônia garante aos exilados, afogados na dor e no desespero, que Jahwéh está prestes a vir ao encontro do seu Povo para o libertar e para o conduzir à sua terra. Nas imagens dos cegos que voltam a contemplar a luz, dos surdos que voltam a ouvir, dos coxos que saltarão como veados e dos mudos a cantar com alegria, o profeta representa essa vida nova, excessiva, abundante, transformadora, que Deus vai oferecer a Judá.
No Evangelho, Jesus, cumprindo o mandato que o Pai Lhe confiou, abre os ouvidos e solta a língua de um surdo-mudo… No gesto de Jesus, revela-se esse Deus que não Se conforma quando o homem se fecha no egoísmo e na auto-suficiência, rejeitando o amor, a partilha, a comunhão. O encontro com Cristo leva o homem a sair do seu isolamento e a estabelecer laços familiares com Deus e com todos os irmãos, sem exceção.
A segunda leitura dirige-se àqueles que acolheram a proposta de Jesus e se comprometeram a segui-l’O no caminho do amor, da partilha, da doação. Convida-os a não discriminar ou marginalizar qualquer irmão e a acolher com especial bondade os pequenos e os pobres. 

LEITURA I – Is 35,4-7a 
Leitura do Livro de Isaías 
Dizei aos corações perturbados:
«Tende coragem, não temais.
Aí está o vosso Deus;
vem para fazer justiça e dar a recompensa;
Ele próprio vem salvar-nos».
Então se abrirão os olhos dos cegos
e se desimpedirão os ouvidos dos surdos.
Então o coxo saltará como um veado
e a língua do mudo cantará de alegria.
As águas brotarão no deserto
e as torrentes na aridez da planície;
a terra seca transformar-se-á em lago
e a terra árida em nascentes de água. 

AMBIENTE 
Os capítulos 34-35 do Livro de Isaías constituem aquilo que habitualmente se chama “pequeno apocalipse de Isaías” (para distinguir do “grande apocalipse de Isaías”, que aparece nos capítulos 24-27). Descrevem os últimos combates travados por Jahwéh contra as nações (particularmente contra Edom) e a vitória definitiva do Povo de Deus sobre os inimigos. Estes dois capítulos parecem poder ser relacionados com os capítulos 40-55 do Livro de Isaías (cujo autor é esse Deutero-Isaías que atuou na Babilônia entre os exilados, na fase final do Exílio). Porque razão estes dois capítulos se apresentam separados do seu “ambiente natural” (Is 40-55)? Provavelmente, foram atraídos pelas peças escatológicas soltas de Is 28-33, e especialmente pelo capítulo 33.
O autor destes textos escreve na fase final do exílio do Povo de Deus na Babilônia (à volta do ano 550 a.C.). A intenção do profeta é consolar os exilados, desanimados, frustrados e mergulhados no desespero, porque a libertação tarda e parece que Deus os abandonou (uma temática que será desenvolvida e aprofundada nos capítulos 40-55 do Livro de Isaías). Depois de apresentar o julgamento de Deus (cf. Is 34,1-4) e o castigo de Edom (cf. Is 34,5-15), o autor descreve, por contraste, a alegria do Povo de Deus porque a libertação chegou e a transformação extraordinária do deserto sírio, pelo qual vão passar os israelitas libertados, que retornam do Exílio. 

MENSAGEM 
O Povo de Deus, exilado na Babilônia, está paralisado pelo desespero. Mostra-se abatido e incapaz de sair, por si só, da sua triste situação. Não tem perspectivas de futuro e não vê qualquer razão para ter esperança.
O profeta dirige-se então aos exilados e anuncia-lhes a iminência da libertação. O tom geral é de alegria – uma alegria que envolverá a natureza e as pessoas, porque o Senhor Se apresta para salvar Judá do cativeiro e para abrir uma estrada no deserto, a fim de que o seu Povo possa retornar em triunfo a Jerusalém.
Apesar das aparências, Deus não esqueceu o seu Povo. Judá deve recobrar ânimo e preparar-se para acolher o Senhor. O próprio Jahwéh irá realizar a libertação; Ele fará justiça e recompensará o seu Povo por todos os sofrimentos suportados no tempo do cativeiro (vers. 4).
O resultado da iniciativa salvadora e libertadora de Deus traduzir-se-á no despertar do Povo, paralisado e desanimado, para uma vida nova. O encontro com o Deus libertador e salvador transformará o Povo, dar-lhe-á de novo a liberdade, a alegria, a coragem para enfrentar o caminho, a vida em abundância. Nas imagens dos cegos que voltam a contemplar a luz, dos surdos que voltam a ouvir, dos coxos que saltarão como veados e dos mudos a cantar com alegria (vers. 5-6), o profeta representa essa vida nova, excessiva, abundante, transformadora, que Deus vai oferecer a Judá.
Por outro lado, o dom de Deus manifestar-se-á na própria natureza. O deserto desolado e estéril, que os exilados terão de atravessar na caminhada de regresso à sua terra, transformar-se-á numa terra fértil, com água em abundância e onde o Povo não terá dificuldade em saciar a sua fome e a sua sede. A abundância de água no deserto, de que o profeta fala, é outra imagem para mostrar a vontade de Deus em cumular o seu Povo de vida plena e abundante.
A marcha do Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade será um novo êxodo, onde se repetirão as maravilhas operadas pelo Deus libertador, quando do primeiro êxodo; no entanto, este segundo êxodo será ainda mais grandioso, quanto à manifestação e à ação de Deus. Será uma peregrinação festiva, uma procissão solene, feita na alegria e na festa.
Qual o papel do Povo em tudo isto? Judá deve recobrar ânimo e acolher, com fé, com coragem, com confiança, os dons de Deus. 

ATUALIZAÇÃO 
• Para os otimistas, o nosso tempo é um tempo de grandes realizações, de grandes descobertas, em que se abre todo um mundo de possibilidades ao homem; para os pessimistas, o nosso tempo é um tempo de sobreaquecimento do planeta, de subida do nível do mar, de destruição da camada do ozono, de eliminação das florestas, de risco de holocausto nuclear… Para uns e para outros, é um tempo de desafios, de interpelações, de procura, de risco… Como é que nós nos relacionamos com este mundo? Vemo-lo com os olhos da esperança, ou com os óculos negros do desespero? 
• Os crentes não podem esquecer que “Deus está aí”: a sua intervenção faz com que o deserto se revista de vida e que na planície árida do desespero brote a flor da esperança. Aos cegos, que caminham pela vida às apalpadelas e que têm dificuldade em descobrir o rumo e o sentido para a sua existência, Deus irá oferecer a luz que lhes indica o caminho seguro para a realização e para a felicidade; aos surdos, fechados no seu egoísmo e na sua auto-suficiência, Deus irá desimpedir os ouvidos para que escutem os gritos de sofrimento dos pobres e para que se comprometam na transformação do mundo; aos coxos, que não conseguem caminhar livremente e estão presos por cadeias de opressão, de injustiça, de pecado, Deus vai oferecer a liberdade; aos mudos, cuja língua está paralisada pelo medo, pelo comodismo, pela preguiça, pela passividade, Deus vai convocá-los e enviá-los como mensageiros da justiça, do amor e da paz. É com a certeza da presença salvadora e amorosa de Deus e com a convicção de que Ele não nos deixará abandonados nas mãos das forças da morte que somos convidados a caminhar pela vida e a enfrentar a história. 
• O profeta é o homem que rema contra a maré… Quando todos cruzam os braços e se afundam no desespero, o profeta é capaz de olhar para o futuro com os olhos de Deus e ver, para lá do horizonte do sol poente, um amanhã novo. Ele vai então gritar aos quatro ventos a esperança, fazer com que o desespero se transforme em alegria e que o imobilismo se transforme em luta empenhada por um mundo melhor. É este testemunho de esperança que procuramos dar? 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 145 (146) 
Refrão 1: Ó minha alma, louva o Senhor. 
Refrão 2: Aleluia. 

O Senhor faz justiça aos oprimidos,
dá pão aos que têm fome
e a liberdade aos cativos. 

O Senhor ilumina os olhos dos cegos,
o Senhor levanta os abatidos,
o Senhor ama os justos. 

O Senhor protege os peregrinos,
ampara o órfão e a viúva
e entrava o caminho aos pecadores. 

O Senhor reina eternamente;
o teu Deus, ó Sião,
é rei por todas as gerações. 

LEITURA II – Tiago 2,1-5 
Leitura da Epístola de São Tiago 
Meus irmãos:
A fé em Nosso Senhor Jesus Cristo
não deve admitir acepção de pessoas.
Pode acontecer que na vossa assembleia
entre um homem bem vestido e com anéis de ouro
e entre também um pobre e mal vestido;
talvez olheis para o homem bem vestido e lhe digais:
«Tu, senta-te aqui em bom lugar»,
e ao pobre: «Tu, fica aí de pé»,
ou então: «Senta-te aí, abaixo do estrado dos meus pés».
Não estareis a estabelecer distinções entre vós
e a tornar-vos juízes com maus critérios?
Escutai, meus caríssimos irmãos:
Não escolheu Deus os pobres deste mundo
para serem ricos na fé
e herdeiros do reino que Ele prometeu àqueles que O amam? 

AMBIENTE 
Continuamos hoje a leitura dessa Carta de Tiago, enviada “às doze tribos que vivem na Diáspora” (Tg 1,1). A expressão indica que os destinatários da missiva são, em primeiro lugar, cristãos de origem judaica, dispersos no mundo greco-romano, sobretudo nas regiões próximas da Palestina – como a Síria, o Egito ou a Ásia Menor; mas a carta serve também para todos os crentes, de todas as épocas, de todas as raças e de todas as latitudes. O objetivo fundamental do autor é exortar os crentes para que não percam os valores cristãos autênticos herdados do judaísmo através dos ensinamentos de Cristo.
O nosso texto pertence à segunda parte da carta (cf. Tg 2,1-26). Aí, o autor trata dois temas fundamentais: a fé concretiza-se no amor ao próximo, sem qualquer tipo de discriminação ou de acepção de pessoas (cf. Tg 2,1-13); a fé expressa-se, não através de ritos formais ou de palavras ocas, mas através de ações concretas em favor do homem (cf. Tg 2,14-26). No geral, este capítulo convida os crentes a assumir uma fé operativa, que se traduz num compromisso social e comunitário. 

MENSAGEM 
Jesus não fez qualquer acepção de pessoas, mas a todos acolheu e a todos amou igualmente (mesmo os pobres, os “últimos”, os marginalizados, os pecadores, os doentes). Quem aderiu a Jesus Cristo e procura, com coerência, segui-l’O, tem de assumir os mesmos valores; por isso, não pode marginalizar ninguém ou aceitar qualquer sistema que crie discriminação (vers. 1).
Depois da afirmação geral, o autor da carta apresenta exemplos concretos: a comunidade cristã não pode acolher e tratar de forma diferente o rico e o pobre, aquele que se apresenta bem vestido e aquele que se apresenta mal vestido, aquele que é conhecido e famoso e aquele que é humilde e passa despercebido (vers. 2-3). Na comunidade cristã, todos são iguais e dignos de consideração e de respeito, ainda que desempenhem funções diferentes e serviços diversos. Para os seguidores de Jesus, a acepção de pessoas por razões ligadas à riqueza, ao poder, à fama, à posição social, é um esquema perverso, absolutamente incompatível com a fé em Cristo (vers. 4).
O nosso texto termina com uma pergunta retórica que parece afirmar a preferência de Deus pelos “pobres deste mundo”, escolhidos “pare serem ricos na fé e herdeiros do reino que Ele prometeu àqueles que O amam” (vers. 5). Os “pobres deste mundo” são, mais do que uma categoria sociológica, uma categoria religiosa… A expressão designa, na linguagem bíblica, os humildes, os débeis, os pacíficos, aqueles que se apresentam diante de Deus numa atitude de simplicidade, despidos de qualquer atitude de orgulho, de auto-suficiência, de preconceitos; são aqueles que, com humildade e disponibilidade, aceitam os dons de Deus e acolhem as suas propostas com alegria e gratidão.
Porque é que Deus os prefere? Em primeiro lugar, porque são os que mais necessitam de ser libertados e salvos; em segundo lugar, porque são os mais disponíveis para acolher o dom do reino. Não é que o reino de Deus seja uma opção de classe e que os ricos e poderosos não possam, à partida, ter acesso ao reino; mas os ricos, os poderosos, os instalados, com o coração cheio de orgulho e de auto-suficiência, não estão disponíveis para acolher a novidade revolucionária e libertadora do reino… São os “pobres”, na sua simplicidade, humildade e despojamento, na sua ânsia de libertação, que estão preparados para acolher o dom de Deus que se torna presente em Jesus e nos seu projeto. 

ATUALIZAÇÃO 
• O cristão é, antes de mais, alguém que aderiu a Jesus Cristo, que assumiu os valores que Ele veio propor e que procura concretizar, dia a dia, essa proposta de vida que Ele veio fazer. Ora, Jesus Cristo nunca discriminou nem nunca marginalizou ninguém; sentou-se à mesa com os desclassificados, acolheu os doentes, estendeu a mão aos leprosos, chamou um publicano para fazer parte do seu grupo, teve gestos de bondade e de misericórdia para com os pecadores, disse que os pobres eram os filhos queridos de Deus, amou aqueles que a sociedade religiosa do tempo considerava amaldiçoados e condenados… A comunidade cristã é hoje, no meio do mundo, o rosto de Cristo para os homens; por isso, não faz sentido qualquer acepção de pessoas na comunidade cristã. Naturalmente, isto é uma evidência que ninguém contesta… Mas, na prática, todos são acolhidos na nossa comunidade cristã com respeito e amor? Tratamos com a mesma delicadeza e com o mesmo respeito quem é rico e quem é pobre, quem tem uma posição social relevante e quem a não tem, quem tem um título universitário e quem é analfabeto, quem tem um comportamento religiosamente correto e quem tem um estilo de vida que não se coaduna com as nossas perspectivas, quem se dá bem com o padre e quem tem uma atitude crítica diante de certas opções dos responsáveis da comunidade? Não esqueçamos: a comunidade cristã é chamada a testemunhar o amor, a bondade, a misericórdia, a tolerância de Cristo para com todos os irmãos, sem exceção. 
• O problema da discriminação e da marginalização das pessoas põe-se também – e talvez com maior acuidade – nos contatos que estabelecemos fora da comunidade cristã. Encontramos todos os dias no nosso círculo de relações, no nosso universo profissional, no nosso prédio, talvez até na nossa família, pessoas com quem não nos identificamos, de quem não gostamos, a quem não entendemos… É difícil, então, acolhê-las, aceitá-las, entender as suas características e as suas falhas, tratá-las com bondade, com compreensão, com tolerância, com amor. No entanto, nós, os seguidores de Jesus, somos testemunhas dos valores do Evangelho vinte e quatro horas por dia, em qualquer espaço e em qualquer ambiente… A fraternidade, o amor, a misericórdia, a tolerância que Cristo nos propõe têm de informar cada passo da nossa existência e derramar-se sobre aqueles que encontramos em cada instante, mesmo se são de outra raça, se têm outra cultura, se frequentam ambientes diversos, se não concordam com as nossas ideias, se têm uma forma diferente de encarar a vida. 
• O nosso texto revela-nos que Deus prefere os pobres, os humildes, os simples. Isto não quer dizer, contudo, que Deus tenha uma opção de classe e que privilegie uns em detrimento de outros… Deus oferece o seu amor, a sua graça e a sua vida a todos; contudo, uns acolhem os seus dons e outros não… O que é decisivo, na perspectiva de Deus, é a disponibilidade para acolher a sua proposta e os seus dons. O nosso texto convida-nos a despir-nos do orgulho, da auto-suficiência, dos preconceitos, para acolher com humildade e simplicidade os dons de Deus. 

ALELUIA – cf. Mt 4,23 
Aleluia. Aleluia. 
Jesus pregava o Evangelho do reino
e curava todas as enfermidades entre o povo. 

EVANGELHO – Mc 7,31-37 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos 
Naquele tempo,
Jesus deixou de novo a região de Tiro
e, passando por Sidónia, veio para o mar da Galileia,
atravessando o território da Decápole.
Trouxeram-Lhe então um surdo que mal podia falar
e suplicaram-Lhe que impusesse as mãos sobre ele.
Jesus, afastando-Se com ele da multidão,
meteu-lhe os dedos nos ouvidos
e com saliva tocou-lhe a língua.
Depois, erguendo os olhos ao Céu,
suspirou e disse-lhe:
«Effathá», que quer dizer «Abre-te».
Imediatamente se abriram os ouvidos do homem,
soltou-se-lhe a prisão da língua
e começou a falar corretamente.
Jesus recomendou que não contassem nada a ninguém.
Mas, quanto mais lho recomendava,
tanto mais intensamente eles o apregoavam.
Cheios de assombro, diziam:
«Tudo o que faz é admirável:
faz que os surdos oiçam e que os mudos falem». 

AMBIENTE 
Na fase final da “etapa da Galileia”, multiplicam-se as reações negativas contra Jesus e contra o seu projeto, apesar do rasto de vida nova que Ele vai deixando pelas aldeias e cidades por onde passa. As últimas discussões com os fariseus e com doutores da Lei a propósito de questões legais e da “tradição dos antigos” (cf. Mc 7,1-23) são uma espécie de gota de água que faz Jesus abandonar o território judeu e refugiar-Se em território pagão.
É nesse contexto que Marcos fala de uma viagem pela Fenícia, que leva Jesus a passar pelos territórios de Tiro e de Sídon – cidades da faixa costeira oriental do mar Mediterrâneo, no atual Líbano (cf. Mc 7,24). No regresso dessa incursão pela Fenícia, Jesus teria dado uma longa volta pelo território pagão da Decápole (cf. Mc 7,31). A Decápole (“dez cidades”) era o nome dado ao território situado na Palestina oriental, estendendo-se desde Damasco, ao norte, até Filadélfia, ao sul. O nome servia para designar uma liga de dez cidades, que se formou depois da conquista da Palestina pelos romanos, no ano 63 a.C.. As “dez cidades” que formavam esta liga eram helenísticas e não estavam sujeitas às leis judaicas. As cidades que integravam a Decápole (bem como os territórios circundantes a cada uma dessas cidades) estavam sob a administração do legado romano da Síria. Eram território pagão, considerado pelos judeus completamente à margem dos caminhos da salvação.
É nesse ambiente geográfico e humano que o episódio da cura do surdo-mudo nos vai situar. O gesto de Jesus de curar o surdo-mudo deve ser visto como mais um passo no anúncio desse projeto que Jesus vai propondo por toda a Galileia: o projeto do Reino de Deus. 

MENSAGEM 
Num lugar não identificado da região da Decápole, Jesus encontrou-Se com um surdo-mudo. As pessoas que trouxeram o surdo-mudo suplicaram a Jesus “que impusesse as mãos sobre Ele” (vers. 32). Na sequência Marcos descreve, com grande abundância de pormenores (alguns bem estranhos), como Jesus curou o doente e lhe deu a possibilidade de comunicar.
Contudo, depois de ler a narração deste episódio, ficamos com a sensação de que Marcos quer muito mais do que contar uma simples cura de um surdo-mudo… A descrição de Marcos, enriquecida com um número significativo de elementos simbólicos, é uma catequese sobre a missão de Jesus e sobre o papel que Ele desenvolve no sentido de fazer nascer um Homem Novo.

Vejamos, de forma esquemática, os elementos principais dessa catequese que Marcos apresenta: 
1. No centro da cena está Jesus e o surdo-mudo (literalmente, “um surdo que tinha também um problema na fala”). Se a linguagem é um meio privilegiado de comunicar, de estabelecer relação, o surdo-mudo é um homem que tem dificuldade em estabelecer laços, em partilhar, em dialogar, em comunicar. Por outro lado, num universo religioso que considera as enfermidades físicas como consequência do pecado, o surdo-mudo é, de forma notória, um “impuro”, um pecador e um maldito. Finalmente, o surdo-mudo vive no território pagão da Decápole: é provavelmente um desses pagãos que a teologia judaica considerava à margem da salvação.
Na catequese de Marcos, este surdo-mudo representa todos aqueles que vivem fechados no seu mundo, na sua pobre auto-suficiência, de ouvidos fechados às propostas de Deus e de coração fechado à relação com os outros homens. Representa também aqueles que a teologia oficial considerava pecadores e malditos, incapazes de estabelecer uma relação verdadeira com Deus, de escutar a Palavra de Deus e de viver de forma coerente com os desafios de Deus. Representa ainda esses “pagãos” que os judeus desprezavam e que consideravam completamente alheados dos caminhos da salvação. 
2. O encontro com Jesus transforma radicalmente a vida desse surdo-mudo. Jesus abre-lhe os ouvidos e solta-lhe a língua (vers. 35), tornando-o capaz de comunicar, de escutar, de falar, de partilhar, de entrar em comunhão. Na história deste surdo-mudo, Marcos representa a missão de Jesus, que veio para abrir os ouvidos e os corações dos homens, quer à Palavra e às propostas de Deus, quer à relação e ao diálogo com os outros homens. O episódio lembra-nos imediatamente o anúncio de Isaías na primeira leitura: “Tende coragem, não temais. Aí está o vosso Deus; vem para fazer justiça e dar a recompensa; Ele próprio vem salvar-vos. Então se abrirão os olhos dos cegos e se desimpedirão os ouvidos dos surdos; então o coxo saltará como um veado e a língua do mudo cantará de alegria” (Is 35,4-6). Jesus é efetivamente o Deus que veio ao encontro dos homens, a fim de os libertar das cadeias do egoísmo, do comodismo, da auto-suficiência, dos preconceitos religiosos que impedem a relação, o diálogo, a comunhão com Deus e com os irmãos. 
3. Aparentemente, não é o surdo-mudo que tem a iniciativa de se encontrar com Jesus (“trouxeram-Lhe um surdo que mal podia falar”; “suplicaram-Lhe que lhe impusesse as mãos sobre ele” – vers. 32). O surdo-mudo, instalado e acomodado a essa vida sem relação, não sente grande necessidade de abrir as janelas do seu coração para o encontro e para a comunhão com Deus e com os irmãos. É preciso que alguém o traga, que o apresente a Jesus, que o empurre para essa vida nova de amor e de comunhão. É esse o papel da comunidade cristã… Os que já descobriram Jesus, que se deixaram transformar pela sua Palavra, que aceitaram segui-l’O, devem dar testemunho dessa experiência e desafiar outros irmãos para o encontro libertador com Jesus. 
4. A sós com o surdo-mudo, Jesus realiza gestos significativos: mete-lhe os dedos nos ouvidos, faz saliva e toca-lhe com ela a língua (vers. 33). Tocar com o dedo significava transmitir poder; a saliva transmitia, pensava-se, a própria força ou energia vital (equivale ao sopro de Deus que transformou o barro inerte do primeiro homem num ser dotado de vida divina – cf. Gn 2,7). Assim, Jesus transmitiu ao surdo-mudo a sua própria energia vital, dotando-o da capacidade de ser um Homem Novo, aberto à comunhão com Deus e à relação com os outros homens. 
5. O gesto de Jesus de levantar os olhos ao céu (vers. 34) deve ser entendido como um gesto de invocação de Deus. Para Jesus, os grandes momentos de decisão e de testemunho são sempre antecedidos de um diálogo com o Pai. Dessa forma, torna-se evidente a ligação estreita entre Jesus e o Pai, entre a ação que Jesus cumpre no meio dos homens e os projetos do Pai. Os gestos de Jesus no sentido de dar vida ao homem, de o libertar do seu fechamento e da sua auto-suficiência, de o abrir à relação, são gestos que têm o aval do Pai e que se inserem no projeto salvador do Pai. 
6. De acordo com Marcos, Jesus teria pronunciado a palavra “effathá” (“abre-te”), quando abriu os ouvidos e desatou a língua do surdo-mudo. Não se trata de uma fórmula mágica, com especiais virtudes curativas… É um convite ao homem fechado no seu mundo pessoal a abrir o coração à vida nova da relação com Deus e com os irmãos. É um convite ao surdo-mudo a sair do seu fechamento, do seu comodismo, do seu egoísmo, da sua instalação, para fazer da sua vida uma história de comunhão com Deus e de partilha com os irmãos. O processo de transformação do surdo-mudo em Homem Novo não é um processo em que só Jesus age e onde o homem assume uma atitude de passividade; mas é um processo que exige o compromisso ativo e livre do homem. Jesus faz as propostas, lança desafios, oferece o seu Espírito que transforma e renova o coração do homem; mas o homem tem de acolher a proposta, optar por Jesus e abrir o coração aos desafios de Deus. 
7. No final do relato da cura do surdo-mudo, as testemunhas do acontecimento dizem a propósito de Jesus: “tudo o que Ele faz é admirável” (vers. 37). A expressão parece ser um eco de Gn 1,31 (“Deus, vendo a sua obra, considerou-a muito boa”). Ao enlaçar este relato com o relato da criação do homem, Marcos está a dar-nos a chave de leitura para entender a obra de Jesus: a ação de Jesus no sentido de abrir o coração dos homens à comunhão com Deus e ao amor dos irmãos é uma nova criação. Dessa ação nasce um Homem Novo, uma nova humanidade. Esse Homem Novo é a “admirável” criação de Deus, o homem na plenitude das suas potencialidades, criado para a vida eterna e verdadeira. 

ATUALIZAÇÃO 
• O Evangelho deste domingo garante-nos, uma vez mais, que o Deus em quem acreditamos é um Deus comprometido connosco, continuamente apostado em renovar o homem, em transformá-lo, em recriá-lo, em fazê-lo chegar à vida plena do Homem Novo. Este Deus que abre os ouvidos dos surdos e solta a língua dos mudos é um Deus cheio de amor, que não abandona os homens à sua sorte nem os deixa adormecer em esquemas de comodismo e de instalação; mas, a cada instante, vem ao seu encontro, desafia-os a ir mais além, convida-os a atingir a plenitude das suas possibilidades e das suas potencialidades. Não esqueçamos esta realidade: na nossa viagem pela vida, não caminhamos sozinhos, arrastando sem objetivo a nossa pequenez, a nossa miséria, a nossa debilidade; mas ao longo de todo o nosso percurso pela história, o nosso Deus vai ao nosso lado, apontando-nos, com amor, os caminhos que nos conduzem à felicidade e à vida verdadeira. 
• O surdo-mudo, incapaz de escutar a Palavra de Deus, representa esses homens que vivem fechados aos projetos e aos desafios de Deus, ocupados em construir a sua vida de acordo com esquemas de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, que não precisam de Deus nem das suas propostas. O homem do nosso tempo já nem gasta tempo a negar Deus; limita-se a ignorá-l’O, surdo aos seus desafios e às suas indicações. O que é que as propostas de Deus significam para mim? Dou ouvidos aos apelos e desafios de Deus, ou aos valores e propostas que o mundo me apresenta? Quando tenho que fazer opções, o que é que conta: as propostas de Deus ou as propostas do mundo? 
• O surdo-mudo representa também aqueles que não se preocupam em comunicar, em partilhar a vida, em dialogar, em deixar-se interpelar pelos outros… Define a atitude de quem não precisa dos irmãos para nada, de quem vive instalado nas suas certezas e nos seus preconceitos, convencido de que é dono absoluto da verdade. Define a atitude daquele que não tem tempo nem disponibilidade para o irmão; define a atitude de quem não é tolerante, de quem não consegue compreender os erros e as falhas dos outros e não sabe perdoar. Uma vida de “surdez” é uma vida vazia, estéril, triste, egoísta, fechada, sem amor. Não é nesse caminho que encontramos a nossa realização e a nossa felicidade… 
• O surdo-mudo representa ainda aqueles que se fecham no egoísmo e no comodismo, indiferentes aos apelos do mundo e dos irmãos. Somos surdos quando escutamos os gritos dos injustiçados e lavamos as nossas mãos; somos surdos quando toleramos estruturas que geram injustiça, miséria, sofrimento e morte; somos surdos quando pactuamos com valores que tornam o homem mais escravo e mais dependente; somos surdos quando encolhemos os ombros, indiferentes, face à guerra, à fome, à injustiça, à doença, ao analfabetismo; somos surdos quando temos vergonha de testemunhar os valores em que acreditamos; somos surdos quando nos demitimos das nossas responsabilidades e deixamos que sejam os outros a comprometer-se e a arriscar; somos surdos quando calamos a nossa revolta por medo, cobardia ou calculismo; somos surdos quando nos resignamos a vegetar no nosso sofá cómodo, sem nos empenharmos na construção de um mundo novo… Uma vida comodamente instalada nesta “surdez” descomprometida é uma vida que vale a pena ser vivida? 
• A missão de Cristo consistiu precisamente em abrir os olhos aos cegos e desatar a língua dos mudos… Ele veio abrir-nos à relação com Deus, ao amor dos irmãos, ao compromisso com o mundo. Quem adere a Cristo e quer segui-l’O no caminho do amor a Deus e da entrega aos irmãos, não pode resignar-se a viver fechado a Deus e ao mundo. O encontro com Cristo tira-nos da mediocridade e desperta-nos para o compromisso, para o empenho, para o testemunho. Leva-nos a sair do nosso isolamento e a estabelecer laços familiares com Deus e com todos os nossos irmãos, sem exceção. 
• O surdo-mudo da nossa história foi trazido e apresentado a Jesus por outras pessoas. O pormenor lembra-nos o nosso papel no sentido de fazer a ponte entre os irmãos que vivem prisioneiros da “surdez” e a proposta libertadora de Jesus Cristo. Não podemos ficar de braços cruzados quando algum dos nossos irmãos se instala em esquemas de fechamento, de egoísmo, de auto-suficiência; mas, com o nosso testemunho de vida, temos de lhe apresentar essa proposta libertadora que Cristo quer oferecer a todos os homens. 
• Antes de curar o surdo-mudo, Jesus “ergueu os olhos ao céu”. O gesto de Jesus recorda-nos que é preciso manter sempre, no meio da ação, a referência a Deus. É necessário dialogarmos continuamente com Deus para descobrir os seus projetos, para perceber as suas propostas, para ser fiel aos seus planos; é preciso tomar continuamente consciência de que é Deus que age no mundo através dos nossos gestos; é preciso que toda a nossa ação encontre em Deus a sua razão última: se isso não acontecer, rapidamente a nossa ação perde todo o sentido. 

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 23º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”) 

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 23º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus. 

2. BILHETE DE EVANGELHO.
Marcos é um verdadeiro encenador. Ele faz a decoração em pleno território de Decápole, habitado pelos pagãos. Coloca em primeiro plano da cena duas personagens: Jesus e o surdo-mudo, enquanto a multidão fica em segundo plano. O ator principal, Jesus, só pronuncia uma palavra: “Effata!” (Abre-te) e faz três gestos: mete o dedo nos ouvidos do doente, toca-lhe a língua com a sua própria saliva e levanta os olhos para o céu. A segunda personagem deixa-se levar, pois põe-se a falar corretamente. Jesus vira-se para a multidão, pedindo-lhe para não dizer nada do que se tinha passado. A cena termina com um coro unânime: “Tudo o que faz é admirável: faz que os surdos oiçam e que os mudos falem”. E nós, onde nos vamos situar? Nós somos este surdo-mudo doente, recusando por vezes escutar a Palavra de Deus e não ousando anunciá-la. Então, Jesus dirige-Se a nós, faz-nos sinal, pede-nos para nos abrirmos nós mesmos, como tinha pedido ao paralítico para se levantar. Cada Eucaristia é uma passagem de Cristo ressuscitado: deixemo-nos tocar por Ele para nos abrirmos… 

3. À ESCUTA DA PALAVRA.
“Effata!” “Abre-te!” Esta palavra tão simples é na realidade muito perigosa. Como diz o dicionário, abrir é fazer com que o que está fechado não o fique mais. Óbvio, mas cheio de consequências! Os Judeus de Jerusalém tinham consciência de serem o Povo eleito por Deus, posto aparte pelos outros povos. Nem pensar misturar-se aos outros povos, aos pagãos, aos estrangeiros! E eis que Jesus faz o contrário. Sai das fronteiras de Israel, vai junto dos pagãos, fazendo mesmo milagres em seu favor. É o mundo ao contrário! Ele não teme mesmo ter contato físico com este surdo-mudo, impuro aos olhos dos Judeus fiéis. Antes de abrir os ouvidos do infeliz, é Jesus que Se abre aos estrangeiros, tornando-Se um impuro aos olhos dos Judeus. Evidentemente, é muito arriscado, ainda hoje, abrir a sua porta, mas primeiro o seu coração aos estrangeiros. Porque é preciso olhá-los ultrapassando os preconceitos, aceitando outras maneiras de pensar e de viver. Aquele que segue Jesus não pode esquivar-se à interrogação: E eu, onde estou quanto à minha abertura de coração? Jesus quer sempre vir até mim, tocar os meus ouvidos para que eu ouça melhor o grito dos meus irmãos em angústia, tocar os meus olhos para que procure encontrar o olhar de Deus sobre os outros. A um visitante que lhe perguntava para que servia um concílio, João XXIII respondeu: “ o concílio é a janela aberta. Ou ainda, é tirar a poeira e varrer a casa, e pôr flores e abrir a porta dizendo a todos: Vinde e vede, aqui é a casa do bom Deus!” Na manhã de Páscoa, já houve uma abertura, quando a pedra que fechava o túmulo de Jesus foi retirada. E antes ainda, tinha havido já uma abertura, quando o soldado romano tinha aberto o lado de Jesus com um golpe de lança. Estas duas aberturas nunca foram fechadas. Participando em cada Eucaristia, vimos beber a água e o sangue que brotam para que o grito de Jesus seja eficaz também em nós: “Effata!” “Abre-te!” 

4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…
Um tempo de meditação… Para nos impregnarmos daquilo que o Senhor deseja para nós, tomemos o tempo para rezar e meditar estas simples palavras de Cristo: “Abre-te”. O Salmo 145 pode ajudar-nos. Por este tempo de meditação, ou com a ajuda de um acompanhador espiritual, procuremos descobrir o que impede ainda em nós a verdadeira libertação oferecida pelo Senhor. 


UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES 
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909