Histórico

A Paróquia Santo André, foi desmembrada da Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição, fundada em 20 de junho de 1971, tem como padroeiro o Apóstolo André, santo que a Igreja celebra sua memória no dia 30 de novembro, data de seu martírio. No dia 30 de novembro de 2014, Dom Redovino Rizzardo elevou à qualidade de paróquia, nomeando o primeiro pároco, o Padre Otair Nicoletti. A equipe de Coordenação do Conselho Comunitário de Pastoral - CCP está formada pelas seguintes pessoas: Coordenação: Laudelino Vieira, Paulo Crippa; Assuntos Econômicos: José Zanetti, Valter Claudino; Secretaria: Marcus Henrique e Naiara Andrade.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

JUVENTUDE: VOCAÇÃO E COMPROMISSO À LUZ DA PALAVRA DE DEUS (V)





V
CHAMADO POR DEUS, JESUS É FIEL À SUA VOCAÇÃO

1. Jesus deixou a vocação de Deus entrar dentro de si e tomar conta de tudo
A experiência de Deus como Pai é a raiz da consciência que Jesus tinha de si mesmo, da sua missão e do anúncio que fazia do Reino. Jesus chegou a identificar-se em tudo com a vontade de Deus: “Eu faço sempre o que o Pai me manda fazer” (Jo 12,50). “O meu alimento é fazer a vontade do Pai” (Jo 4,34). Por isso, Jesus é a revelação do Pai: “Quem vê a mim vê o Pai!” (Jo 14,9).
Jesus foi fiel ao Pai e aos pobres da sua terra. Ele nasceu pobre e escolheu ficar do lado dos pobres. Nascer pobre é algo que a pessoa não escolhe. Escolher ficar do lado dos pobres é opção pessoal, resposta à vocação. Com a capacidade e a inteligência que tinha, Jesus não teria tido dificuldade para sair da pobreza. Mas nunca tentou uma saída individual, só para si. Continuou solidário com os pobres. Conheceu a pobreza pelo lado de dentro. Esvaziou-se e foi esvaziado (Fil 2,7). Experimentou a fraqueza na hora da agonia, e o abandono na hora da morte (Mc 15,34). O abandono ao qual eram condenados os pobres! Morreu soltando o grito dos pobres (Mc 15,37), certo de ser ouvido pelo Pai que escuta o clamor do pobre (Ex 2,24; 3,7). Por isso, Deus o exaltou (Fl 2,9)!
A encarnação de Jesus foi um longo processo de aprendizado e de formação. Começou com o Sim  de Maria (Lc 1,38) e terminou com o último Sim de Jesus na hora da morte. Fazer a vontade do Pai e cumprir a missão era o eixo da vida de Jesus, o seu alimento diário (Jo 4,34). "Ao entrar no mundo ele afirmou: “Eis me aqui! Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vonta­de!" (Hb 10,5.7). Ao deixar o mundo, ele faz revisão e diz: "Tudo está realizado!" (Jo 19,30). Jesus se deixou moldar pelo Pai a cada momento da sua vida. Não foi fácil. Jesus lutou para ser fiel ao Pai, à vocação. "Embora sendo Filho de Deus, aprendeu a obediência através de seus sofrimentos" (Hb 5,8). Teve que rezar muito para poder vencer (Hb 5,7; Lc 22,41-46). Mas venceu!
A comunhão entre Jesus e o Pai não era automática, mas sim fruto de uma luta que Jesus travava dentro de si para obedecer ao Pai em tudo e estar sempre unido a Ele. Jesus dizia: "Por mim mesmo nada posso fazer: eu julgo segundo o que ouço" (Jo 5,30). "O Filho por si mesmo nada pode fazer, mas só aquilo que vê o Pai fazer" (Jo 5,19)". Ele teve momentos difíceis, em que gritou: “Afasta de mim este cálice!” (Mc 14,36). Teve que pedir a ajuda dos amigos (Mt 26,38.40). Mas venceu por meio da oração (Lc 22,41-44). Como diz a carta aos Hebreus: “Durante a sua vida na terra, Cristo fez orações e súplicas a Deus, em alta voz e com lágrimas, ao Deus que podia salvá-lo da morte. E Deus o escutou, porque ele foi submisso. Embora sendo Filho de Deus, aprendeu a ser obediente através de seus sofrimentos. E, depois de perfeito, tornou-se a fonte da salvação eterna para todos aqueles que lhe obedecem”. (Hb 5,7-9)  Jesus tornou-se para nós revelação e manifestação de Deus.
2. A resposta à vocação: Jesus revela Deus no jeito de trabalhar com o povo
A obediência de Jesus não é disciplinar, mas profética, reveladora do Pai. Ela deu a ele olhos novos para perceber a presença do Reino no meio do povo. O Reino já estava aí, mas ninguém o percebia (Lc 17,20-21). Jesus o percebia e o revelava (Mt 16,1-3). Ele via o tempo maduro, o campo branco para a colheita (Jo 4,35).
A Boa Nova do Reino era como um fertilizante que fazia a semente da vida brotar e crescer. O Reino que estava escondido apareceu em Jesus e o povo se alegrou. Pelo seu jeito de ser e de ensinar, Jesus despertava no povo a força adormecida do Reino que o próprio povo não conhecia ou tinha esquecido. Jesus desobstruiu o acesso à fonte dentro das pessoas, e a água começou a jorrar de dentro (Jo 4,14). Assim, muitas pessoas, através da fé em Jesus, despertavam para uma vida nova. Mas em Nazaré, por causa da incredulidade do povo, Jesus não pôde fazer nenhum milagre! (Mc 6,5-6)
Inspirando-se nos escritos dos discípulos de Isaías, Jesus entendia sua missão como um serviço: “Não vim para ser servido mas para servir” (Mc 10,45). Para apresentar seu programa ao povo usou uma frase do Servo de Deus, anunciado por Isaías (Lc 4,17-18; Is 61,1-2). Como os discípulos de Isaías, Jesus não só falava sobre Deus, mas também o revelava. Comunicava algo do que ele mesmo experimentava e vivia.
O que mais chama a atenção é a bondade com que Jesus acolhia o povo (Mc 6,34; 8,2; 10,14; Mt 11,28-29). Deus se fazia presente nesta atitude de ternura acolhedora. Jesus valorizava as pessoas e as estimulava a se firmar e ter confiança em si. Elogiou o escriba quando este chegou a entender que o amor a Deus e ao próximo eram o centro da Lei de Deus, e lhe disse: “Você não está longe do reino!” (Mc 12, 34). Animou a Jairo (Mc 5,36), confirmou a mulher do fluxo de sangue (Mc 5,34), encorajou o cego Bartimeu (Mc 10,49-52) e o pai do menino epilético (Mc 9,23-24), revelou o valor da ação aparentemente nula da viúva (Mc 12,41-44).
Sua atitude livre e libertadora contaminava os discípulos e levava-os a transgredirem normas caducas. Por exemplo, quando estavam com fome, eles colhiam espigas, mesmo em dia de sábado (Mt 12,1); não lavavam as mãos antes de comer (Mc 7,5); entravam nas casas dos pecadores e comiam com eles (Mc 2,15-17); não faziam jejum como era costume entre os judeus (Mc 2,18).
Como os discípulos de Isaías, Jesus tinha um jeito próprio de ensinar. Ele não era do clero, não era da tribo de Levi. Era leigo. Não tinha estudado na escola dos doutores em Jerusalém. Só uma vez tinha estado com eles, aos doze anos, por ocasião da romaria (Lc 2,46). Jesus não absolutizava seu próprio pensamento. Ele sabia escutar o apelo do Pai nas reações das pessoas. Assim, a reação da mulher Cananéia ajudou-o a descobrir que devia abrir sua missão para os pagãos (Mt 15,21-28). Jesus não impunha suas idéias autoritariamente, mas através de parábolas provocava a participação do povo. O povo percebia a diferença e dizia: “Ele ensina como quem tem autoridade e não como os escribas e os fariseus” (Mc 1,22.27). Parece até uma ironia! Os escribas, quando ensinavam, repetiam sentenças das autoridades, mas para o povo não tinham autoridade. Jesus, que nunca citou autoridade alguma, falava com autoridade! O clero da época só tinha poder, não tinha autoridade!
3. Irradia sua vocação: reconstrói a comunidade, imagem do rosto de Deus
O ponto em que Jesus mais insiste é a reconstrução da vida comunitária. O objetivo do anúncio do Reino é refazer o tecido das relações humanas, reconstruir a comunidade, imagem do rosto de Deus (Ml 3,24; Eclo 48,10; Lc 1,17). Todo o resto, as leis, as normas, as imagens, a doutrina, o catecismo, tudo deve estar a serviço deste valor central, expressão da igualdade dos dois amores: a Deus e ao próximo. Este é o sentido do Sermão da Montanha (Mt 5,17-48). Pois, se Deus é pai, somos todos irmãos e irmãs. A Comunidade deve ser a revelação do rosto acolhedor e amoroso de Deus, transformado em Boa Nova para o povo, sobretudo para os pobres.
No tempo de Jesus havia vários movimentos que procuravam uma nova maneira de viver e conviver: essênios, fariseus e, mais tarde, os zelotes. Muitos deles formavam comunidades de discípulos e tinham seus missionários (Mt 23,15). Quando estes iam em missão, iam prevenidos. Levavam sacola e dinheiro para cuidar da sua própria comida, pois não podiam confiar na comida do povo que nem sempre era ritualmente “pura”. As normas da pureza dificultavam a acolhida, apartilha, a comunhão de mesa  e a hospitalidade, as quatro colunas ou pilares da vida comunitária.
Ao contrário dos outros missionários, os discípulos e as discípulas de Jesus, quando vão em missão, não podem levar nada, nem bolsa, nem sacola, nem ouro nem prata, nem cobre, nem dinheiro, nem bastão, nem cajado, nem sandálias, nem sequer duas túnicas (Mt 10,9-10; Mc 6,8; Lc 10,4). A única coisa que podem levar é a paz (Lc 10,5). O missionário vai sem nada, porque deve acreditar que vai ser recebido. Sua atitude provoca no povo o gesto evangélico da hospitalidade (Lc 9,4; 10,5-6). Eles devem ficar hospedados na primeira casa em que forem acolhidos. Não podem andar de casa em casa, mas devem conviver de maneira estável e, em troca, recebem sustento, “pois o operário merece o seu salário” (Lc 10,7). Ou seja, devem integrar-se na vida e no trabalho da comunidade local, no clã, e confiar na partilha. Não podem levar sua própria comida, mas devem comer o que o povo lhes oferece (Lc 10,8). Isto é, devem aceitar a comunhão de mesa, e não podem ter medo de perder a pureza no contato com o povo. A convivência fraterna é um valor evangélico que prevalece sobre a observância das normas rituais. Como tarefa especial devem praticar a acolhida e cuidar dos excluídos: doentes, possessos, leprosos (Lc 10,9; Mt 10,8). Isto é, devem exercer a função do Go´êl : acolher os excluídos para dentro da comunidade e refazer a vida comunitária do clã.
Caso todas estas exigências forem preenchidas, poderão gritar aos quatro ventos: “O Reino chegou!” (cf. Lc 10,1-12; 9,1-6; Mc 6,7-13; Mt 10,6-16). Pois o Reino não é uma doutrina ou uma lista de normas morais, nem um catecismo ou um direito canônico, mas sim uma nova maneira de viver e conviver, nascida da Boa Nova que Jesus nos trouxe de que Deus é Pai e todos somos irmãos e irmãs uns dos outros. Devem recriar e reforçar a comunidade local, o clã, a “casa”, para que possa ser novamente uma expressão da Aliança, do Reino, do amor de Deus como Pai que faz de todos irmãos e irmãs. 
4. Vocação como fonte de consciência e de resistência
A simpatia do povo por Jesus ia crescendo a ponto de provocar medo nos líderes (Mc 11,18. 32; 12,12; 14,2). O povo, antes tão submisso, crescia em consciência, escapava do controle da “grande disciplina” e criava dentro de si maior consciência e liberdade frente ao poder religioso que o oprimia. Graças à Boa Nova de Jesus, o povo começava a ser ele mesmo! Incomodados, os líderes se organizaram para eliminar o perigo e começaram a perseguir Jesus. Como o Servo de Isaías, Jesus, não voltou atrás, não recuou. Continuou fiel ao Pai e ao povo marginalizado até à morte e morte de cruz. Eis o auto-retrato de Jesus: 
4   O Senhor me concedeu o dom de falar como seu discípulo,
     para eu saber dizer uma palavra de conforto a quem está desanimado.
     Cada manhã, ele me desperta, para que eu o escute,
     de ouvidos abertos, como o fazem os discípulos.
5   O Senhor me abriu os ouvidos e eu não resisti, nem voltei atrás.
6   Oferecei minhas costas aos que me batiam
     e o queixo aos que me arrancavam a barba.
     Não escondi o rosto para evitar insultos e escarros.
7   O Senhor é a minha ajuda!
Por isso, estas ofensas não me desmoralizam.
     Faço cara dura como pedra, sabendo que não vou ser um fracassado.
8   Perto de mim está quem me faz justiça.
Quem tem coragem de depor conta mim?
     Vamos comparecer juntos no tribunal!
Quem tem algo contra mim? Que se apresente e faça a denúncia!
9   O Senhor é a minha ajuda! Quem tem coragem de condenar-me?
     Todos eles vão cair aos pedaços, como roupa velha comida pela traça! (Isaías 50,4-9)
Eles chegaram a matar Jesus. Diz o quarto Cântico do Servo:
8   Sem defesa e sem julgamento, foi levado embora. Não havia ninguém para defende-lo.
     Sim, ele foi arrancado do mundo dos vivos, foi ferido por causa dos crimes do seu povo.
9   Foi enterrado junto com os criminosos, recebeu sepultura entre os malfeitores,
     ele que nunca cometeu crime algum e que nunca disse uma só mentira! (Is 53,8-9)
E o cântico continua com esta prece:
10   Oh! Senhor, que o teu Servo, quebrado pelo sofrimento, possa agradar-te!
      Aceita a sua vida como sacrifício de expiação!
      Que ele possa ver os seus descendentes, ter longa vida,
      e que o Teu Projeto se realize por meio dele!” (Is 53,10)
Esta foi a maneira de Jesus viver e realizar a sua vocação. Ele deixou que a vocação entrasse dentro dele, e ela tomou conta da vida dele inteira, a ponto de o apóstolo dizer que em Jesus habita “a plenitude da divindade” (Col 2,9). Jesus é para nós o Filho de Deus que nos revela o Pai. “Da sua plenitude todos nós recebemos” (Jo 1,16). Deus ressuscitou Jesus, confirmando assim que o caminho da vocação de Jesus é o caminho do agrado do Pai.

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Perguntas para ajudar na reflexão e na assimilação do assunto:
1. Como Jesus vive em você?
2. O que você faz, para que a vida de Jesus em você possa crescer e irradiar?


               CESEP, CURSO DO VERÃO, 14 a 16 de janeiro de 2008

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