Histórico

A Paróquia Santo André, foi desmembrada da Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição, fundada em 20 de junho de 1971, tem como padroeiro o Apóstolo André, santo que a Igreja celebra sua memória no dia 30 de novembro, data de seu martírio. No dia 30 de novembro de 2014, Dom Redovino Rizzardo elevou à qualidade de paróquia, nomeando o primeiro pároco, o Padre Otair Nicoletti. A equipe de Coordenação do Conselho Comunitário de Pastoral - CCP está formada pelas seguintes pessoas: Coordenação: Laudelino Vieira, Paulo Crippa; Assuntos Econômicos: José Zanetti, Valter Claudino; Secretaria: Marcus Henrique e Naiara Andrade.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

JUVENTUDE: VOCAÇÃO E COMPROMISSO À LUZ DA PALAVRA DE DEUS (III)



III
IMAGEM DE DEUS E DESCOBERTA DA VOCAÇÃO

Na parábola do bom samaritano, a mesma situação do homem assaltado e meio morto à beira da estrada fez um apelo a três pessoas diferentes: sacerdote, levita e samaritano. A resposta não foi a mesma. Imagine um membro do MST e um arauto de Cristo, confrontados com o mesmo fato: uma invasão de terra que resultou em duas mortes e quatro feridos. Responderão do mesmo jeito? Não responderão. Por que? Dependendo da posição social e da imagem que as pessoas se fazem de Deus, elas reagem diferentemente diante dos apelos ou da vocação que vêm dos fatos da vida.
Vamos ver como as pessoas e os grupos reagiram diante da vocação que lhes vinha da situação de fracasso do cativeiro. É para que nós, quando confrontados com os fracassos e problemas, tanto da nossa história pessoal, como da história da Brasil, da Igreja, da família, da comunidade, possa discernir a vocação certa e dar a resposta acertada.
1. O fracasso do cativeiro fazendo apelo à consciência do povo
O cativeiro destruiu o quadro das referências que tinham orientado o povo até àquele momento. Os três grandes sinais ou “sacramentos” que tinham sido a garantia visível da presença de Deus no meio deles, foram destruídos! O Templo, morada perpétua de Deus (1Rs 9,3), foi incendiado (2Rs 25,9). A Monarquia, fundada para durar sempre (2Sam 7,16), já não existia (2Rs 25,7). A Terra, cuja posse tinha sido garantida para sempre (Gen 13,15), passou a ser a propriedade dos inimigos, (2Rs 25,12; Jer 39,10; 52,16).
Perdido e sem rumo, provocado pelo fracassos, o povo procurava uma saída que lhe desse segurança e esperança. O que mais pesava era o sentimento do abandono, misturado com um complexo de culpa (Is 40,27; 49,14; Lm 1,8.14). Eles pensavam que, por causa da sua infidelidade, Deus tivesse mudado de atitude e os tivesse rejeitado para sempre (Sl 77,8-11; 79,5). Ele já não estaria escutando o grito do povo (Lam 3,8; Sl 22,2-3). Beco sem saída! Eis o lamento do porta-voz do povo:
"Eu sou o homem que conheceu a dor de perto, sob o chicote da sua ira. Ele (Deus) me conduziu e me fez andar nas trevas e não na luz. Ele volve e revolve contra mim a sua mão, o dia todo. Consumiu minha carne e minha pele, e quebrou os meus ossos. Ao meu redor, armou um cerco de veneno e amargura, e me fez morar nas trevas como os defuntos, enterrados há muito tempo. Cercou-me qual muro sem saída, e acorrentado, me prendeu. Clamar ou gritar não adianta, ele está surdo à minha súplica.  ....  Fugiu a paz do meu espírito, já não sei mais o que é ser feliz. Eu digo: "Acabaram-se minhas forças e minha esperança que vinham de Javé" (Lam 3,1-8.17-18).
A imagem de Deus que transparece nas entrelinhas deste lamento é a de um carrasco que só quer vingar e machucar. Trágica experiência! Fonte de desespero! Uma experiência de Deus assim não pode ser fonte de vocação para ninguém. Fecha qualquer saída e joga todos no desespero. Como sair desta situação? Como e onde reencontrar Deus? Eram estas as perguntas que agitavam as consciências e as conversas de muita gente. Era este o apelo, a vocação, que os provocava. Qual a resposta acertada?
2. As várias respostas ao apelo de Deus
Apareceram várias respostas. Inicialmente, não eram respostas distintas, separadas umas das outras, mas sim tendências diferentes, misturadas entre si, sem muita clareza, num ambiente de busca e desencontro. Exatamente como hoje!
1. A maioria silenciosa adotou os deuses do império e se acomodou
A maioria dos exilados se acomodou e começou a freqüentar a religião do império da Babilônia. Adotaram os ídolos e o jeito de viver dos grandes. Era a maioria silenciosa! Hoje também, a maioria silenciosa busca o caminho mais cômodo do consumismo, a nova religião do império neoliberal com seus templos grandiosos.
2. Zorobabel e Josué queriam reeditar o passado, mas não conseguiram
Para eles, o fato de estar fora da própria terra era o mesmo que estar longe de Deus! A época dos Reis era o modelo a ser imitado. Queriam reconstruir o passado: o templo, a monarquia e a independência política (Esd 1,2-4; 2,1-2). Deste grupo eram Zorobabel, Josué, o profeta Ageu e outros. Eles voltaram para Palestina em 520 aC, depois que Ciro permitiu o retorno. Hoje, alguns querem de volta da cristandade.
3. Neemias e Esdras: adaptaram o modelo antigo à nova situação
É o grupo das pessoas que conseguiram bons empregos e posições vantajosas na nova pátria, como transparece nas entrelinhas de vários livros (Ne 2,1-9; Esd 7,11-26; Tb 1,12; Es 2,16; 6,10-11; Dn 3,97). Eles achavam que deviam aceitar o domínio do rei estrangeiro e colaborar com ele (Jer 27,6-8.12.17; 42,10-11). Ao mesmo tempo, queriam continuar a ser o povo eleito de Deus. Por isso, insistiam na observância da lei de Deus (Esd 7,26; Ne 8,1-6; 10,29-30) e na pureza da raça que proibia o contato com os outros povos (Esd 9,1-2). Eles atuavam a partir de uma posição de privilégio e de um certo poder frente às outras instituições da convivência humana. O projeto deles tornou-se hegemônico a partir de 445 aC com a vinda de Neemias como encarregado do rei da Pérsia para reorganizar o povo judeu ao redor de Jerusalém. Hoje, em alguns países, a relação igreja-estado às vezes tem características semelhantes: de um lado, abertura frente o poder civil para conseguir favores para a Igreja e, de outro lado, insistência no direito da Igreja de poder viver sua fé publicamente com total liberdade.
4. Discípulos e discípulas de Isaías: movimento de base que encontrou uma saída
Um outro grupo achava que a solução não era voltar ao passado nem acomodar-se no presente, nem adaptar-se às exigências do império, mas sim aprender a ler com outros olhos a nova situação em que se encontravam. Eles se perguntavam: “O que será que Deus nos quer ensinar e o que ele pede de nós, através desta situação tão trágica do cativeiro? Qual agora a nossa vocação” Eles procuravam voltar às origens do povo e reliam as histórias do passado para encontrar nelas uma luz que os ajudasse a redescobrir o chamado de Deus naquela terrível ausência. Foi no meio deste grupo dos discípulos de Isaías que brotou uma nova experiência de Deus, registrada sobretudo nos capítulos 40 a 66 de Isaías. Era um movimento de base, que não chegou a ter um reconhecimento oficial.
São quatro maneiras diferentes de responder ao mesmo desafio do momento histórico. Vamos olhar de perto a resposta que foi dada pelos discípulos e discípulas de Isaías, pois é ela que inspirou e animou a Jesus.
3. A resposta dos discípulos e discípulas de Isaías
A nova imagem de Deus
Como tantos exilados e migrantes de hoje, o único espaço de uma certa autonomia e liberdade que ainda sobrava para eles lá no cativeiro da Babilônia era o espaço familiar: o pai, a mãe, o marido, a esposa, um irmão ou irmã, o mundo pequeno da família, a “casa”. Todo o resto que antes fazia parte da vida já não existia: a organização mais ampla da tribo, a posse da terra, o templo, as peregrinações, o culto, o sacrifício, o sacerdócio, a monarquia. Nada disse tinha sobrado. Ora, foi exatamente nesse espaço reduzido e enfraquecido da família, da comunidade, da “casa”, que eles reencontraram a presença de Deus.
As imagens que eles usavam para expressar e transmitir a nova experiência da presença de Deus na vida refletem bem este ambiente familiar da casa. Deus é apresentada por eles como Pai (Is 63,16; 64,7), como Mãe (Is 46,3; 49,15-16; 66,12-13), como Marido (Is 54,4-5; 62,5), como parente próximo (goêl ou irmão mais velho) (Is 41,14; 43,1). Javé, o Deus que antes estava ligado ao Templo, ao culto oficial, ao sacerdócio, ao clero, à Monarquia, agora está perto deles, “em casa”; casa pequena, quebrada e, humanamente falando, sem futuro, mas Casa, e não Templo. Não usaram as imagens religiosas tradicionais, mas sim as imagens tiradas da vida familiar e comunitária de cada dia. Eles humanizaram a imagem de Deus e sacralizaram a vida, a família, a pequena comunidade, como o espaço do reencontro com Deus. “Realmente, tu és um Deus que se esconde, Deus de Israel, Deus salvador!” (Is 45,15) Ele se esconde e se abriga onde antes ninguém o procurava: em casa, no relacionamento diário familiar e comunitário, no meio do povo exilado e excluído (Is 57,15)!
Dá para entender que a elite dos chefes e dos sacerdotes não gostava muito desta maneira de interpretar e comunicar a presença de Deus. No entanto, aqui está a fonte que suscitou tantas e tantas vocações ao longo daqueles quatro séculos até à chegada do Novo Testamento, e que orientou a Jesus na sua missão junto ao povo!
A resposta à vocação: um novo jeito de trabalhar com o povo
Esta nova experiência de Deus fez com que os discípulos e discípulas de Isaías redescobrissem sua vocação e missão, não mais como um povo eleito, privilegiado, separado dos outros, mas sim como povo eleito por Deus para servir a humanidade (Is 42,1-6; 49,1-6; 50,4-9). E lá mesmo no cativeiro, eles começaram a colocar em prática esta sua vocação ou missão de serviço. A resposta à vocação se traduz numa nova maneira de trabalhar com o povo, numa nova pastoral. Eis três características desta nova pastoral:
       Acolher o povo com muita ternura
Para um povo que vive machucado e triste, na solidão do cativeiro, não bastam a imposição de preceitos e as ameaças da lei, não basta nem mesmo a denúncia profética, para que ele levante a cabeça e comece a enxergar a situação com esperança renovada. É necessário, antes de tudo, cuidar das feridas do coração, acolhendo-o com muita ternura e bondade, para que não morra nele a esperança. Os discípulos e as discípulas de Isaías têm uma conversa atenciosa, cheia de ternura e consolo, de acolhimento e encorajamento. As primeiras palavras: “Consolai! Consolai o meu povo!” (Is 40,1) ressoam pelas páginas do livro inteiro, do começo ao fim (Is 49,13; 51,12). “Eles não gritam nem apagam a vela que ainda solta um pouco de fumaça” (Is 42,2-3). Ou seja, machucados, não machucam. Oprimidos pela situação em que se encontram, não oprimem, mas tratam e acolhem o povo com muito respeito e carinho. Usam uma linguagem simples, concreta e direta, numa atitude de ternura nunca vista antes, que funcionava como bálsamo, e dispunha as pessoas para olhar a realidade com mais objetividade. Eis alguns exemplos: Is 54,7-8; 41,9-10; 41,13-14; 40,1-2; 43,1-5; 46,3-4; 49,14-16; etc. Era a maneira de os jovens discípulos e discípulas de Isaías assumirem sua vocação.
       Ensinar dialogando em pé de igualdade
Nas entrelinhas dos capítulos 40 a 66, transparece uma atitude de escuta e de diálogo. Os discípulos e discípulas de Isaías ensinam dialogando, em pé de igualdade com o povo. Eles conversam, fazem perguntas, aprendem com o povo, questionam, levam o povo a refletir sobre os fatos (cf Is 40,12-14.21.25-27; etc.). Este jeito de ensinar é próprio de quem se considera discípulo e não dono da verdade (Is 50,4-5). Antes de ser “Mater et Magistra”, a comunidade deve ser “Discípula e Aprendiz”. Um discípulo não absolutiza seu próprio pensamento, nem impõe suas idéias autoritariamente, não é clerical, mas sabe ensinar escutando e aprendendo dos outros. Por este seu jeito de conviver e de tratar com o povo, os discípulos não só falam sobre Deus, mas também o revelam; comunicam algo do que eles mesmos experimentam e vivem. Deus se faz presente nesta atitude de ternura e diálogo. O povo se dá conta de que o Deus dos discípulos é diferente do deus da Babilônia, diferente também da imagem clerical de Deus que eles ainda carregavam na memória, desde os tempos da monarquia, de antes da destruição do Templo, e que o projeto de Neemias e Esdras parecia querer impor outra vez. Assim, aos poucos, os olhos se abrem. O povo começa a perceber algo do novo que estava acontecendo. “Não estão vendo?”(Is 43,19)
       Fazer reunião semanal para rezar, meditar e se ajudar
É no período do cativeiro ou logo depois que se começa a insistir novamente na observância do sábado (Is 56,2.4; 58,13-14; 66,23; cf. Gn 2,2-3). Era para que o povo exilado tivesse ao menos um dia por semana para se encontrar, partilhar sua fé, louvar a Deus e, assim, refazer as forças e animar-se mutuamente. É nestas reuniões semanais que eles refrescam a memória (Is 43,26; 46,9), contam as histórias de Noé (Is 54,9-10), de Abraão e Sara (Is 51,1-2), da Criação (Is 45,18-19; 51,12-13), lembram o Êxodo (Is 43,16-17), apontam os fatos da política e perguntam: “Quem é que faz tudo isto?" (Is 41,2). Fazem reunião de noite, fora de casa, e perguntam: “Levantem os olhos para o céu e observem: Quem criou tudo isso?” (Is 40,26). A resposta é sempre a mesma: "É Javé, o Deus do povo, o nosso Deus!".
Assim, aos poucos, a natureza deixa de ser o santuário dos falsos deuses; a história já não é mais decidida pelos opressores do povo; o mundo da política já não é mais o domínio de Nabucodonosor. Por trás de tudo começam a reaparecer os traços do rosto de Javé, o Deus do povo. A natureza, a história e a política deixam de ser estranhos e hostis ao povo e tornam-se aliados dos pobres na sua caminhada como Servo de Deus e “Luz das Nações” (Is 42,6; 49,6). Diante desta presença avassaladora de Deus no mundo, na vida, na história, na política, no próprio povo, os discípulos convocam o povo: "Cegos, olhem! Surdos, ouçam!" (Is 42,18). "Não estão vendo?" (Is 43,19).
Agora, já não é a perseguição que enfraquece a fé, mas sim a fé renovada e esclarecida que enfraquece o poder dos poderosos. A face de Deus reaparece na vida. O povo, animado por esta Boa Notícia, desperta (Is 51,9.17; 52,1), se põe de pé (Is 60,1), começa a cantar (Is 42,10; 49,13; 54,1; 61,10; 63,7) e a resistir (Is 48,20).
Hoje vivemos uma situação semelhante. Grande parte da humanidade vive num terrível cativeiro, desacreditou da fé que recebeu dos pais e adotou a religião do império que é o consumismo. Surgem muitos grupos para reagir em contrário e reafirmar a fé. Mas nem todos pensam e agem na mesma direção. Quais as direções em que as pessoas e os grupos procuram responder ao apelo que lhes vem desta situação? Com qual das tendências você se identifica mais e em qual delas você procura viver e assumir sua vocação?

____________________________________________________________
Perguntas para ajudar na reflexão e na assimilação do assunto:

1. O que mais chamou sua atenção nesta reflexão sobre a imagem de Deus e a descoberta da vocação? Por que?
2. Qual das quatro respostas predomina hoje na Igreja? Por que?
3. Com qual das quatro respostas você mais se identifica?
   * com a maioria silenciosa que se acomoda e adota os costumes do império?
   * com os que querem voltar ao passado? (Zorobabel e Josué)
   * com os que procuram unir os favores e privilégios do império com as exigências da missão do povo de Deus? (Esdras e Neemias)
   * com os que querem descobrir os apelos de Deus na realidade de hoje à luz do que Deus fez no passado? (Discípulos e discípulas de Isaías)


           CESEP, CURSO DO VERÃO, 14 a 16 de janeiro de 2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário