Histórico

A Paróquia Santo André, foi desmembrada da Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição, fundada em 20 de junho de 1971, tem como padroeiro o Apóstolo André, santo que a Igreja celebra sua memória no dia 30 de novembro, data de seu martírio. No dia 30 de novembro de 2014, Dom Redovino Rizzardo elevou à qualidade de paróquia, nomeando o primeiro pároco, o Padre Otair Nicoletti. A equipe de Coordenação do Conselho Comunitário de Pastoral - CCP está formada pelas seguintes pessoas: Coordenação: Laudelino Vieira, Paulo Crippa; Assuntos Econômicos: José Zanetti, Valter Claudino; Secretaria: Marcus Henrique e Naiara Andrade.

sábado, 24 de março de 2012

MENSAGEM: O FOLHETO



Todos os domingos à tarde, depois da missa da manhã na igreja, o velho padre e seu sobrinho de 11 anos saíam pela cidade e entregavam folhetos sacros. 
Numa tarde de domingo, quando chegou à hora do padre e seu sobrinho saírem pelas ruas com os folhetos, fazia muito frio lá fora e também chovia muito. O menino se agasalhou e disse:
-Ok, tio padre, estou pronto. ' 
E o padre perguntou: 
-'Pronto para quê?': 
-'Tio, está na hora de juntarmos os nossos folhetos e sairmos. ' 
O padre respondeu: 
-'Filho, está muito frio lá fora e também está chovendo muito. ' 
O menino olhou surpreso e perguntou: 
-'Mas tio, as pessoas não vão para o inferno até mesmo em dias de chuva?'
O padre respondeu: 
-'Filho, eu não vou sair nesse frio. ' 
Triste, o menino perguntou: 
-'Tio, eu posso ir? Por favor!' 
O padre hesitou por um momento e depois disse: 
-'Filho, você pode ir. Aqui estão os folhetos. Tome cuidado, filho. ' 
-'Obrigado, tio!' 
Então ele saiu no meio daquela chuva. Este menino de onze anos caminhou pelas ruas da cidade de porta em porta entregando folhetos sacros a todos que via. 
Depois de caminhar por duas horas na chuva, ele estava todo molhado, mas faltava o último folheto. Ele parou na esquina e procurou por alguém para entregar o folheto, mas as ruas estavam totalmente desertas. Então ele se virou em direção à primeira casa que viu e caminhou pela calçada até a porta e tocou a campainha. Ele tocou a campainha, mas ninguém respondeu. Ele tocou de novo, mais uma vez, mas ninguém abriu a porta. Ele esperou, mas não houve resposta. 
Finalmente, este soldadinho de onze anos se virou para ir embora, mas algo o deteve. Mais uma vez, ele se virou para a porta, tocou a campainha e bateu na porta bem forte. Ele esperou, alguma coisa o fazia ficar ali na varanda. Ele tocou de novo e desta vez a porta se abriu bem devagar.
De pé na porta estava uma senhora idosa com um olhar muito triste. Ela perguntou gentilmente:
-'O que eu posso fazer por você, meu filho?' 
Com olhos radiantes e um sorriso que iluminou o mundo dela, este pequeno menino disse:
-'Senhora, me perdoe se eu estou perturbando, mas eu só gostaria de dizer que JESUS A AMA MUITO e eu vim aqui para lhe entregar o meu último folheto que lhe dirá tudo sobre JESUS e seu grande AMOR. ' 
Então ele entregou o seu último folheto e se virou para ir embora. Ela o chamou e disse: 
-'Obrigada, meu filho!!! E que Deus te abençoe!!!' 
Bem, na manhã do seguinte domingo na igreja, o Padre estava no altar, quando a missa começou, ele perguntou: 
- 'Alguém tem um testemunho ou algo a dizer?' 
Lentamente, na última fila da igreja, uma senhora idosa se pôs de pé. Conforme ela começou a falar, um olhar glorioso transparecia em seu rosto. 
- 'Ninguém me conhece nesta igreja. Eu nunca estive aqui. Vocês sabem antes do domingo passado eu não era cristã. Meu marido faleceu a algum tempo deixando-me totalmente sozinha neste mundo. No domingo passado, sendo um dia particularmente frio e chuvoso, eu tinha decidido no meu coração que eu chegaria ao fim da linha, eu não tinha mais esperança ou vontade de viver. 
Então eu peguei uma corda e uma cadeira e subi as escadas para o sótão da minha casa. Eu amarrei a corda numa madeira no telhado, subi na cadeira e coloquei a outra ponta da corda em volta do meu pescoço. 
De pé naquela cadeira, tão só e de coração partido, eu estava a ponto de saltar, quando, de repente, o toque da campainha me assustou. Eu pensei: 
-'Vou esperar um minuto e quem quer que seja irá embora. ' Eu esperei e esperei, mas a campainha era insistente; depois a pessoa que estava tocando também começou a bater bem forte. Eu pensei: 
-'Quem neste mundo pode ser? Ninguém toca a campainha da minha casa ou vem me visitar. '
Eu afrouxei a corda do meu pescoço e segui em direção à porta, enquanto a campainha soava cada vez mais alta. 
Quando eu abri a porta e vi quem era, eu mal pude acreditar, pois na minha varanda estava o menino mais radiante e angelical que já vi em minha vida. O seu SORRISO, ah, eu nunca poderia descrevê-lo a vocês! As palavras que saíam da sua boca fizeram com que o meu coração que estava morto há muito tempo SALTASSE PARA A VIDA quando ele exclamou com voz de querubim:
-'Senhora, eu só vim aqui para dizer QUE JESUS A AMA MUITO. ' 
Então ele me entregou este folheto que eu agora tenho em minhas mãos. Conforme aquele anjinho desaparecia no frio e na chuva, eu fechei a porta e atenciosamente li cada palavra deste folheto. 
Então eu subi para o sótão para pegar a minha corda e a cadeira. Eu não iria precisar mais delas. Vocês vêem - eu agora sou uma FILHA FELIZ DE DEUS!!! 
Já que o endereço da igreja estava no verso deste folheto, eu vim aqui pessoalmente para dizer OBRIGADO ao anjinho de Deus que no momento certo livrou a minha alma de uma eternidade no inferno. ' 
Não havia quem não tivesse lágrimas nos olhos na igreja. 
O velho Padre desceu do altar e foi em direção a primeira fila onde o seu anjinho estava sentado. Ele tomou o seu sobrinho nos braços e chorou copiosamente. 
Provavelmente nenhuma igreja teve um momento tão glorioso como este.
Bem aventurados são os olhos que vêem esta mensagem. Não deixe que ela se perca, leia-a de novo e passe-a adiante. 
Lembre-se: a mensagem de Deus pode fazer a diferença na vida de alguém próximo a você.
Por isso... 
- Me perdoe se eu estou perturbando, mas eu só gostaria de dizer que JESUS TE AMA MUITO e eu vim aqui para lhe entregar o meu último folheto. 

sexta-feira, 23 de março de 2012

NOTÍCIAS: A CATEQUESE NA COMUNIDADE

Após a abertura do ano catequético 2012 na comunidade, no último domingo de fevereiro, aproximadamente 200 catequizandos(as) estão freqüentando os encontros de catequese aos sábados de manhã, divididos em 15 turmas, nos horários das 8h e 9h30. A catequese se inicia com a oração inicial em comum, reunindo todas as turmas do mesmo horário na igreja. Ainda tem duas turmas de adultos, nas quartas-feiras à noite e aos domingos após a missa da manhã.

Dezoito catequistas têm a missão de ajudar na educação da fé das crianças, adolescentes, jovens e adultos, tendo à frente na coordenação as catequistas Rosangela e Cristiane.



quarta-feira, 21 de março de 2012

PRIORIDADES: O QUE É PASTORAL DA ACOLHIDA?


A Pastoral da Acolhida pode ser definida de diversas formas, porém, para que ela corresponda ao que se propõe, ou seja, pastoral, ação de pessoas, tais definições devem ter, necessariamente, fundamentações bíblicas. De antemão, lembramos que, sem o espírito evangélico, a acolhida na comunidade torna-se algo formal e mecânico, isento da dimensão fraterna, como ocorre na maioria das empresas, onde o objetivo é pautado por interesses econômicos.
Pastoral é a ação do pastor, do guia, do dirigente ou do agente que desenvolve gratuitamente, um trabalho na Igreja. De origem agrária, o termo pastoral tem seus princípios relacionados ao pastoreio de ovelhas, algo comum na Palestina do tempo de Jesus e que, por isso, foi muito usado na Bíblia como figura de linguagem para comparar-se às ações das lideranças da época e à própria ação de Jesus e seus discípulos.
A Pastoral da Acolhida se faz, na Igreja, algo muito importante e necessário. Diria, até, fundamental, essencial e primordial. Seu campo de ação não pode ser ocupado por outras Pastorais, porque ela é a porta de acesso a todas as outras e, inclusive, à própria comunidade. Se não houver uma boa acolhida, todos os trabalhos, todas as ações e a comunidade em si estão fadados ao fracasso. Ninguém quer permanecer onde não é bem acolhido. Para que um trabalho dê frutos é preciso, primeiro, que seus agentes sintam-se acolhidos.
São inúmeras as passagens bíblicas que mostram a importância da acolhida. São Paulo, na Carta aos Romanos (15,7), recomenda: “acolhei-vos uns aos outros, como Cristo vos acolheu para a glória do Pai”. Jesus escolheu e acolheu os apóstolos e discípulos para que seus propósitos se concretizassem (cf. Mt 10,1-8). Acolheu, sem discriminação ou preconceito, pessoas tidas como pecadoras, como por exemplo, cobradores de impostos (Mt 9,9-13), prostitutas (Lc 7,36-50), leprosos (Lc 17, 11-19; Mc 1,40-42) e outros tipos de doentes ou de pessoas consideradas impuras (Mc 6, 55-56). O Documento de Aparecida (DA, nn. 353-357) explica a ação de Jesus, destacando a acolhida como um serviço fundamental na Igreja. Mostra que a acolhida feita por Jesus é um gesto de amor e que só quem ama acolhe aqueles que são vítimas do desamor. A acolhida provoca transformações mútuas. Ao acolhermos, somos simultaneamente, acolhidos e essa reciprocidade é transformadora, provocadora de situações que geram outros gestos de amor.
Mas, afinal, o que é a Pastoral da Acolhida? É a Pastoral que acolhe as pessoas na comunidade paroquial. Acolher significa oferecer refúgio, proteção ou conforto. É mostrar com gestos e palavras, que a comunidade paroquial é o espaço onde se pode encontrar essa segurança. Demonstrar, na prática, como sugere Zygmunt Bauman, que “a comunidade é um lugar ‘cálido’, um lugar confortável e aconchegante”. Quando se é bem acolhido na comunidade, ela passa a representar, segundo Bauman, esse “teto sob o qual nos abrigamos da chuva pesada, como uma lareira diante da qual esquentamos as mãos num dia gelado”. Toda essa imagem figurada de segurança torna-se real na comunidade quando se é bem acolhido, porque acolher é também dar abrigo, amparar, dar ou receber hospitalidade, ter ou receber alguém junto de si. Assim sendo, a Pastoral da Acolhida vai muito além de recepcionar na porta da Igreja. Ela envolve uma rede de relacionamentos que dá sustentação e perseverança nas ações desenvolvidas na comunidade. Por isso ela deve ser permanente, continua e estar em todos os níveis e dimensões pastorais da paróquia.
Recepcionar bem na porta da igreja na hora da missa é muito importante e, talvez, seja o primeiro passo, mas a Pastoral da Acolhida não pode se limitar a essa ação. Já imaginou o que aconteceria se você desse uma bonita festa, acolhendo bem os convidados quando chegassem, mas, uma vez dentro dela, começasse a maltratá-los ou ignorá-los? Eles logo abandonariam a festa e nunca mais aceitariam seu convite. A mesma coisa ocorre na comunidade. Receber bem os que chegam para a celebração é de suma importância, mas, depois disso, vem a parte mais desafiadora da Pastoral da Acolhida: fazer com que as pessoas, que simpaticamente recebemos, continuem sendo alvo da nossa atenção e simpatia. Isso nem sempre é fácil, porque a comunidade é também lugar de conflitos e contendas. Só com o amor e o respeito humano as nossas diferenças e limitações são capazes de superar as fases mais desgastantes dos relacionamentos que ocorrem no dia-a-dia da comunidade paroquial.
Visando no primeiro momento a acolhida interna nas comunidades, cabe às pessoas que fazem parte desta pastoral:
a) Convite: Ir ao encontro dos irmãos e irmãs com um convite verbal ou por escrito; se possível telefonar.
b) Acolhida fraterna na entrada: na porta da casa, da igreja, do templo, da sala de reunião...
c) Lugares adequados: Pôr as crianças, idosos, pessoas com crianças ao colo, de preferência na beirada do banco. Estar atento para a entrada de pedintes, dar-lhes atenção especial, mas com calma e firmeza, dizendo-lhes que todos são bem vindos, mas que a celebração ou reunião não pode ser tumultuada. Prover meios adequados para atender a alguém que tenha um ataque epilético ou que desmaie.
d) Instalações sanitárias: Devem estar limpas e bem indicadas.
e) Água e copos: Provê-los, para o caso de alguém precisar.
f) Local próprio para crianças: Onde for possível, prever lugar apropriado, onde possam receber atenção especial, durante as celebrações e encontros (assim os pais poderão vir com mais freqüência e participar ativamente).
g) Atenção ao local da celebração e encontro: Cuidar que as janelas sejam ventiladas adequadamente: nem frio, nem calor; de acordo com a época. Preparar bem o ambiente, de forma adequada, se possível com cartazes próprios. Prever decoração sóbria, com flores.
h) Na saída após os encontros ou celebrações: Estar na porta; despedir-se, desejando boa semana e agradecer pela presença.
i) Na própria celebração: Os comentaristas ou motivadores das celebrações devem ser bem preparados e ter em mente o sentido fraterno da celebração ou do encontro, e acolher bem a todos, no início. Fazer referência a pessoas ou grupos que vêm de outras cidades, estados ou países.
Acolher é também receber o outro como ele é, admiti-lo no espaço que já estamos e permitir que se sinta à vontade. Se hoje estamos na comunidade desenvolvendo algum tipo de atividade, é porque um dia alguém também nos acolheu. Acolher é, portanto, aceitar, deixar que o outro venha fazer parte da nossa comunidade e não ver nele um concorrente, mas, sim, um colaborador, alguém que vem para somar. É também dar credito àquele que chega, levar em consideração que, se procurou a comunidade ou essa ou aquela pastoral, é porque quer colaborar, oferecer algo de si; então, nossa missão como cristão é acolher da melhor forma possível.
A Pastoral da Acolhida é parte integrante do processo de evangelização da paróquia, porque ajuda a revelar, nos seus membros e nas ações por ela desenvolvidas, o rosto acolhedor de Jesus, cheio de misericórdia e compaixão. A acolhida como graça não espera nada em troca, simplesmente porque ama e quer que todos estejam unidos. Por isso, a Pastoral da Acolhida, antes de ser um trabalho, uma tarefa ou mais uma pastoral, é uma atitude evangélica que brota de um coração convertido pelo amor misericordioso do Pai; é uma ação que ajuda as pessoas a se sentirem mais importantes, a se verem como filhos e filhas de Deus, que são amados e queridos por outros irmãos. A pessoa, quando chega à comunidade e é bem acolhida, tem vontade de permanecer de fato. A boa acolhida é uma das qualidades mais importantes de nossas paróquias. Paróquia que atende bem terá sempre bons agentes de pastoral e, com isso, cresce sempre mais.
Em suma, a Pastoral da Acolhida consiste, em primeiro lugar, em uma equipe que se dedica a receber bem as pessoas que chegam a nossa igreja para as celebrações. Em segundo lugar, em uma equipe que está atenta ao acolhimento dado no expediente paroquial àqueles quem em busca de alguma informação ou dos serviços da paróquia. Em terceiro lugar, em uma equipe sintonizada com as demais pastorais, movimentos e associações, e que se preocupa com a recepção que é dada entre os seus membros e aos atendidos por eles. Finalmente, a Pastoral da Acolhida é aquela do tipo que deve estar permeada de todas as ações da paróquia, inclusiva as ações do pároco. Embora o trabalho mais evidente da Pastoral da Acolhida seja recepcionar, afetuosamente, os que chegam para as celebrações, o seu desafio maior está em fazer com que a paróquia, como um todo, adote uma postura acolhedora.

terça-feira, 20 de março de 2012

VÍDEO MUSICAL: MAIS PERTO COM PE. FABIO DE MELO

Onde é que você vai com tanta pressa
Com esse ar de quem tem muito o que fazer
Se eu posso lhe pedir alguma coisa eu lhe peço: senta aqui
Como um dia eu sentei naquele poço
E a amizade visitou meu coração
Fui amigo e o esposo que faltava e hoje poder ser também assim
Os seus olhos me revelam tanta sede e não sou indiferente a sua dor
Mas tem coisas que não faço, não são minhas, dependem
Somente do seu querer
O milagre se dará por duas vias
Uma é minha e a outra deixo pra você
Se você trouxer a mim a sua água eu devolvo vinho
Chega mais perto, não tenha medo
Não diga nada, silêncio é palavra que não faz segredo
Se for preciso enxugo seu rosto
Lágrimas são fragmentos de história que posso entender

Eu lhe vejo entrelaçado com tantos erros
Machucando tanta gente sem saber
Infeliz vai se tornando pouco a pouco, por favor, queira voltar
Não prometo dar-lhe um jardim de flores
Mas prometo a força pra poder plantá-lo
E asseguro no cultivo estar bem junto, se preciso, lhe consolar
Cantaremos a semente germinada, podaremos o que não puder crescer
Cada poda há de ter ensinamento eu vou lhe ajudar a compreender
Sou o verbo do princípio feito carne
Sou o Deus que resolveu ter coração
E hoje está sentado à beira deste poço
Mirando o seu rosto, na voz deste moço, lhe dando um recado
Que se for possível espero visita, não tarde em chegar
A casa é a mesma, o mesmo endereço, espero por lá
Chega mais perto.

LITURGIA: DOMINGO DE RAMOS - ANO B

Tema do Domingo de Ramos


A liturgia deste último Domingo da Quaresma convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens, deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz (que a liturgia deste domingo coloca no horizonte próximo de Jesus) apresenta-nos a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor.
A primeira leitura apresenta-nos um profeta anônimo, chamado por Deus a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projetos de Deus. Os primeiros cristãos viram neste “servo” a figura de Jesus.
A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe.
O Evangelho convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz, revela-se o amor de Deus – esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.


LEITURA I – Is 50,4-7

Leitura do Livro de Isaías

O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo,
para que eu saiba dizer uma palavra de alento
aos que andam abatidos.
Todas as manhãs Ele desperta os meus ouvidos,
para eu escutar, como escutam os discípulos.
O Senhor Deus abriu-me os ouvidos
e eu não resisti nem recuei um passo.
Apresentei as costas àqueles que me batiam
e a face aos que me arrancavam a barba;
não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam.
Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio,
e, por isso, não fiquei envergonhado;
tornei o meu rosto duro como pedra,
e sei que não ficarei desiludido.

AMBIENTE
No livro do Deutero-Isaías (Is 40-55), encontramos quatro poemas que se destacam do resto do texto (cf. Is 42,1-9; 49,1-13; 50,4-11; 52,13-53,12). Apresentam-nos uma figura enigmática de um “servo de Jahwéh”, que recebeu de Deus uma missão. Essa missão tem a ver com a Palavra de Deus e tem carácter universal; concretiza-se no sofrimento, na dor e no abandono incondicional à Palavra e aos projectos de Deus. Apesar de a missão terminar num aparente insucesso, a dor do profeta não foi em vão: ela tem um valor expiatório e redentor; do seu sofrimento resulta o perdão para o pecado do Povo. Deus aprecia o sacrifício do profeta e recompensá-lo-á, elevando-o à vista de todos, fazendo-o triunfar dos seus detractores e adversários.
Quem é este profeta? É Jeremias, o paradigma do profeta que sofre por causa da Palavra? É o próprio Deutero-Isaías, chamado a dar testemunho da Palavra no ambiente hostil do Exílio? É um profeta desconhecido? É uma figura colectiva, que representa o Povo exilado, humilhado, esmagado, mas que continua a dar testemunho de Deus, no meio das outras nações? É uma figura representativa, que une a recordação de personagens históricas (patriarcas, Moisés, David, profetas) com figuras míticas, de forma a representar o Povo de Deus na sua totalidade? Não sabemos; no entanto, a figura apresentada nesses poemas vai receber uma outra iluminação à luz de Jesus Cristo, da sua vida, do seu destino.
O texto que nos é proposto é parte do terceiro cântico do “servo de Jahwéh”.

MENSAGEM
O texto dá a palavra a um personagem anónimo, que fala do seu chamamento por Deus para a missão. Ele não se intitula “profeta”; porém, narra a sua vocação com os elementos típicos dos relatos proféticos de vocação.
Em primeiro lugar, a missão que este “profeta” recebe de Deus tem claramente a ver com o anúncio da Palavra. O profeta é o homem da Palavra, através de quem Deus fala; a proposta de redenção que Deus faz a todos aqueles que necessitam de salvação/libertação ecoa na palavra profética. O profeta é inteiramente modelado por Deus e não opõe resistência nem ao chamamento, nem à Palavra que Deus lhe confia; mas tem de estar, continuamente, numa atitude de escuta de Deus, para que possa depois apresentar – com fidelidade – essa Palavra de Deus para os homens.
Em segundo lugar, a missão profética concretiza-se no sofrimento e na dor. É um tema sobejamente conhecido da literatura profética: o anúncio das propostas de Deus provoca resistências que, para o profeta, se consubstanciam, quase sempre, em dor e perseguição. No entanto, o profeta não se demite: a paixão pela Palavra sobrepõe-se ao sofrimento.
Em terceiro lugar, vem a expressão de confiança no Senhor, que não abandona aqueles a quem chama. A certeza de que não está só, mas de que tem a força de Deus, torna o profeta mais forte do que a dor, o sofrimento, a perseguição. Por isso, o profeta “não será confundido”.

ATUALIZAÇÃO
• Não sabemos, efetivamente, quem é este “servo de Jahwéh”; no entanto, os primeiros cristãos vão utilizar este texto como grelha para interpretar o mistério de Jesus: ele é a Palavra de Deus feita carne, que oferece a sua vida para trazer a salvação/libertação aos homens… A vida de Jesus realiza plenamente esse destino de dom e de entrega da vida em favor de todos; e a sua glorificação mostra que uma vida vivida deste jeito não termina no fracasso, mas na ressurreição que gera vida nova.
• Jesus, o “servo” sofredor que faz da sua vida um dom por amor, mostra aos seus seguidores o caminho: a vida, quando é posta ao serviço da libertação dos pobres e dos oprimidos, não é perdida mesmo que pareça, em termos humanos, fracassada e sem sentido. Temos a coragem de fazer da nossa vida uma entrega radical ao projeto de Deus e à libertação dos nossos irmãos? O que é que ainda entrava a nossa aceitação de uma opção deste tipo? Temos consciência de que, ao escolher este caminho, estamos a gerar vida nova, para nós e para os nossos irmãos?
• Temos consciência de que a nossa missão profética passa por sermos Palavra viva de Deus? Nas nossas palavras, nos nossos gestos, no nosso testemunho, a proposta libertadora de Deus alcança o mundo e o coração dos homens?


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 21 (22)

Refrão: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?

Todos os que me vêem escarnecem de mim,
estendem os meus lábios e meneiam a cabeça:
«Confiou no Senhor, Ele que o livre,
Ele que o salve, se é meu amigo».

Matilhas de cães me rodearam,
cercou-me um bando de malfeitores.
Trespassaram as minhas mãos e os meus pés,
posso contar todos os meus ossos.

Repartiram entre si as minhas vestes
e deitaram sortes sobre a minha túnica.
Mas Vós, Senhor, não Vos afasteis de mim,
sois a minha força, apressai-Vos a socorrer-me.

Hei-de falar do vosso nome aos meus irmãos,
hei-de louvar-Vos no meio da assembleia.
Vós, que temeis o Senhor, louvai-O,
glorificai-O, vós todos os filhos de Jacob,
reverenciai-O, vós todos os filhos de Israel.


LEITURA II – Filip 2,6-11

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses

Cristo Jesus, que era de condição divina,
não Se valeu da sua igualdade com Deus,
mas aniquilou-Se a Si próprio.
Assumindo a condição de servo,
tornou-Se semelhante aos homens.
Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais,
obedecendo até à morte e morte de cruz.
Por isso Deus O exaltou
e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes,
para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem
no céu, na terra e nos abismos,
e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor,
para glória de Deus Pai.

AMBIENTE
A cidade de Filipos era uma cidade próspera, com uma população constituída maioritariamente por veteranos romanos do exército. Organizada à maneira de Roma, estava fora da jurisdição dos governantes das províncias locais e dependia directamente do imperador; gozava, por isso, dos mesmos privilégios das cidades de Itália. A comunidade cristã, fundada por Paulo, era uma comunidade entusiasta, generosa, comprometida, sempre atenta às necessidades de Paulo e do resto da Igreja (como no caso da colecta em favor da Igreja de Jerusalém – cf. 2 Cor 8,1-5), por quem Paulo nutria um afecto especial. Apesar destes sinais positivos, não era, no entanto, uma comunidade perfeita… O desprendimento, a humildade, a simplicidade, não eram valores demasiado apreciados entre os altivos patrícios que compunham a comunidade.
É neste enquadramento que podemos situar o texto que esta leitura nos apresenta. Paulo convida os filipenses a encarnar os valores que marcaram a trajectória existencial de Cristo; para isso, utiliza um hino pré-paulino, recitado nas celebrações litúrgicas cristãs: nesse hino, ele expõe aos cristãos de Filipos o exemplo de Cristo.

MENSAGEM
Cristo Jesus – nomeado no princípio, no meio e no fim – constitui o motivo do hino. Dado que os Filipenses são cristãos – quer dizer, dado que Cristo é o protótipo a cuja imagem estão configurados – têm a iniludível obrigação de comportar-se como Cristo. Como é o exemplo de Cristo?
O hino começa por aludir subtilmente ao contraste entre Adão (o homem que reivindicou ser como Deus e lhe desobedeceu – cf. Gn 3,5.22) e Cristo (o Homem Novo que, ao orgulho e revolta de Adão, responde com a humildade e a obediência ao Pai). A atitude de Adão trouxe fracasso e morte; a atitude de Jesus trouxe exaltação e vida.
Em traços precisos, o hino define o “despojamento” (“kenosis”) de Cristo: Ele não afirmou com arrogância e orgulho a sua condição divina, mas aceitou fazer-Se homem, assumindo com humildade a condição humana, para servir, para dar a vida, para revelar totalmente aos homens o ser e o amor do Pai. Não deixou de ser Deus; mas aceitou descer até aos homens, fazer-Se servidor dos homens, para garantir vida nova para os homens. Esse “abaixamento” assumiu mesmo foros de escândalo: Jesus aceitou uma morte infamante – a morte de cruz – para nos ensinar a suprema lição do serviço, do amor radical, da entrega total da vida.
No entanto, essa entrega completa ao plano do Pai não foi uma perda nem um fracasso: a obediência e entrega de Cristo aos projectos do Pai resultaram em ressurreição e glória. Em consequência da sua obediência, do seu amor, da sua entrega, Deus fez d’Ele o “Kyrios” (“Senhor” – nome que, no Antigo Testamento, substituía o nome impronunciável de Deus); e a humanidade inteira (“os céus, a terra e os infernos”) reconhece Jesus como “o Senhor” que reina sobre toda a terra e que preside à história.
É óbvio o apelo à humildade, ao desprendimento, ao dom da vida, que Paulo aqui faz aos Filipenses e a todos os crentes: o cristão deve ter como exemplo esse Cristo, servo sofredor e humilde, que fez da sua vida um dom a todos. Esse caminho não levará ao aniquilamento, mas à glória, à vida plena.

ATUALIZAÇÃO
• Os valores que marcaram a existência de Cristo continuam a não ser demasiado apreciados no séc. XXI. De acordo com os critérios que presidem à construção do nosso mundo, os grandes “ganhadores” não são os que põem a sua vida ao serviço dos outros, com humildade e simplicidade, mas são os que enfrentam o mundo com agressividade, com auto-suficiência e fazem por ser os melhores, mesmo que isso signifique não olhar a meios para passar à frente dos outros. Como pode um cristão (obrigado a viver inserido neste mundo e a ser competitivo) conviver com estes valores?
• Paulo tem consciência de que está a pedir aos seus cristãos algo realmente difícil; mas é algo que é fundamental, à luz do exemplo de Cristo. Também a nós é pedido, nestes últimos dias antes da Páscoa, um passo em frente neste difícil caminho da humildade, do serviço, do amor: será possível que, também aqui, sejamos as testemunhas da lógica de Deus?
• Os acontecimentos que, nesta semana, vamos celebrar garantem-nos que o caminho do dom da vida não é um caminho de “perdedores” e fracassados: o caminho do dom da vida conduz ao sepulcro vazio da manhã de Páscoa, à ressurreição. É um caminho que garante a vitória e a vida plena.


ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Filip 2,8-9
(escolher um dos 7 refrães)

1. Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo, Senhor.
2. Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
3. Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
4. Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
5. Louvor a Vós, Jesus Cristo, Rei da eterna glória.
6. Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
7. A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.

Cristo obedeceu até à morte e morte de cruz.
Por isso Deus O exaltou
e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes.


EVANGELHO – Mc 14,1 - 15,47

N Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

N Faltavam dois dias para a festa da Páscoa e dos Ázimos
e os príncipes dos sacerdotes e os escribas
procuravam maneira de se apoderarem de Jesus à traição
para Lhe darem a morte.
Mas diziam:
R «Durante a festa, não,
para que não haja algum tumulto entre o povo».
N Jesus encontrava-Se em Betânia,
em casa de Simão o Leproso,
e, estando à mesa,
veio uma mulher que trazia um vaso de alabastro
com perfume de nardo puro de alto preço.
Partiu o vaso de alabastro
e derramou-o sobre a cabeça de Jesus.
Alguns indignaram-se e diziam entre si:
R «Para que foi esse desperdício de perfume?
Podia vender-se por mais de duzentos denários
e dar o dinheiro aos pobres».
N E censuravam a mulher com aspereza.
Mas Jesus disse:
J «Deixai-a. Porque estais a importuná-la?
Ela fez uma boa acção para comigo.
Na verdade, sempre tereis os pobres convosco
e, quando quiserdes, podereis fazer-lhes bem;
Mas a Mim, nem sempre Me tereis.
Ela fez o que estava ao seu alcance:
ungiu de antemão o meu corpo para a sepultura.
Em verdade vos digo:
Onde quer que se proclamar o Evangelho, pelo mundo inteiro,
dir-se-á também em sua memória, o que ela fez».
N Então, Judas Iscariotes, um dos Doze,
foi ter com os príncipes dos sacerdotes
para lhes entregar Jesus.
Quando o ouviram, alegraram-se
e prometeram dar-lhe dinheiro.
E ele procurava uma oportunidade para entregar Jesus.

N No primeiro dia dos Ázimos,
em que se imolava o cordeiro pascal,
os discípulos perguntaram a Jesus:
R «Onde queres que façamos os preparativos
para comer a Páscoa?»
N Jesus enviou dois discípulos e disse-lhes:
J «Ide à cidade.
Virá ao vosso encontro um homem com uma bilha de água.
Segui-o e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa:
‘O Mestre pergunta: Onde está a sala,
em que hei-de comer a Páscoa com os meus discípulos?’
Ele vos mostrará uma grande sala no andar superior,
alcatifada e pronta.
Preparai-nos lá o que é preciso».
N Os discípulos partiram e foram à cidade.
Encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito
e prepararam a Páscoa.
Ao cair da tarde, chegou Jesus com os Doze.
Enquanto estavam à mesa e comiam,
Jesus disse:
J «Em verdade vos digo:
Um de vós, que está comigo à mesa, há-de entregar-Me».
N Eles começaram a entristecer-se e a dizer um após outro:
R «Serei eu?»
N Jesus respondeu-lhes:
J «É um dos Doze, que mete comigo a mão no prato.
O Filho do homem vai partir,
como está escrito a seu respeito,
mas ai daquele por quem o Filho do homem vai ser traído!
Teria sido melhor para esse homem não ter nascido».
N Enquanto comiam, Jesus tomou o pão,
recitou a bênção e partiu-o,
deu-o aos discípulos e disse:
J «Tomai: isto é o meu Corpo».
N Depois tomou um cálice, deu graças e entregou-lho.
E todos beberam dele.
Disse Jesus:
J «Este é o meu Sangue, o Sangue da nova aliança,
derramado pela multidão dos homens.
Em verdade vos digo:
Não voltarei a beber do fruto da videira,
até ao dia em que beberei do vinho novo no reino de Deus».
N Cantaram os salmos e saíram para o Monte das Oliveiras.

N Disse-lhes Jesus:
J «Todos vós Me abandonareis, como está escrito:
‘Ferirei o pastor e dispersar-se-ão as ovelhas’.
Mas depois de ressuscitar,
irei à vossa frente para a Galileia».
N Disse-Lhe Pedro:
R «Embora todos te abandonem, eu não».
N Jesus respondeu-lhe:
J «Em verdade te digo:
Hoje, esta mesma noite, antes do galo cantar duas vezes,
três vezes Me negarás».
N Mas Pedro continuava a insistir:
R «Ainda que tenha de morrer contigo, não Te negarei».
N E todos afirmaram o mesmo.
Entretanto, chegaram a uma propriedade chamada Getsémani
e Jesus disse aos seus discípulos:
J «Ficai aqui, enquanto Eu vou orar».
N Tomou consigo Pedro, Tiago e João
e começou a sentir pavor e angústia.
Disse-lhes então:
J «A minha alma está numa tristeza de morte.
Ficai aqui e vigiai».
N Adiantando-Se um pouco, caiu por terra
e orou para que, se fosse possível,
se afastasse d’Ele aquela hora.
Jesus dizia:
J «Abba, Pai, tudo Te é possível:
afasta de Mim este cálice.
Contudo, não se faça o que Eu quero,
mas o que Tu queres».
N Depois, foi ter com os discípulos, encontrando-os dormindo
e disse a Pedro:
J «Simão, estás a dormir? Não pudeste vigiar uma hora?
Vigiai e orai, para não entrardes em tentação.
O espírito está pronto, mas a carne é fraca».
N Afastou-Se de novo e orou, dizendo as mesmas palavras.
Voltou novamente e encontrou-os dormindo,
porque tinham os olhos pesados
e não sabiam que responder.
Jesus voltou pela terceira vez e disse-lhes:
J «Dormi agora e descansai...
Chegou a hora:
o Filho do homem vai ser entregue às mãos dos pecadores.
Levantai-vos. Vamos.
Já se aproxima aquele que Me vai entregar».
N Ainda Jesus estava a falar,
quando apareceu Judas, um dos Doze,
e com ele uma grande multidão, com espadas e varapaus,
enviada pelos príncipes dos sacerdotes,
pelos escribas e os anciãos.
O traidor tinha-lhes dado este sinal:
«Aquele que eu beijar, é esse mesmo.
Prendei-O e levai-O bem seguro».
Logo que chegou, aproximou-se de Jesus e beijou-O, dizendo:
R «Mestre».
N Então deitaram-Lhe as mãos e prenderam-n’O.
Um dos presentes puxou da espada
e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha.
Jesus tomou a palavra e disse-lhes:
J «Vós saístes com espadas e varapaus para Me prender,
como se fosse um salteador.
Todos os dias Eu estava no meio de vós,
a ensinar no templo,
e não Me prendestes!
Mas é para se cumprirem as Escrituras».
N Então os discípulos deixaram-n’O e fugiram todos.
Seguiu-O um jovem, envolto apenas num lençol.
Agarraram-no, mas ele, largando o lençol, fugiu nu.

N Levaram então Jesus à presença do sumo sacerdote,
onde se reuniram todos os príncipes dos sacerdotes,
os anciãos e os escribas.
Pedro, que O seguira de longe,
até ao interior do palácio do sumo sacerdote,
estava sentado com os guardas, a aquecer-se ao lume.
Entretanto, os príncipes dos sacerdotes e todo o Sinédrio
procuravam um testemunho contra Jesus
para Lhe dar a morte,
mas não o encontravam.
Muitos testemunhavam falsamente contra Ele,
mas os seus depoimentos não eram concordes.
Levantaram-se então alguns,
para proferir contra Ele este falso testemunho:
R «Ouvimo-l’O dizer:
‘Destruirei este templo feito pelos homens
e em três dias construirei outro
que não será feito pelos homens’».
N Mas nem assim o depoimento deles era concorde.
Então o sumo sacerdote levantou-se no meio de todos
e perguntou a Jesus:
R «Não respondes nada ao que eles depõem contra Ti?»
N Mas Jesus continuava calado e nada respondeu.
O sumo sacerdote voltou a interrogá-l’O:
R «És Tu o Messias, Filho do Deus Bendito?»
N Jesus respondeu:
J «Eu Sou. E vós vereis o Filho do homem
sentado à direita do Todo-poderoso
vir sobre as nuvens do céu».
N O sumo sacerdote rasgou as vestes e disse:
R «Que necessidade temos ainda de testemunhas?
Ouvistes a blasfémia. Que vos parece?»
N Todos sentenciaram que Jesus era réu de morte.
Depois, alguns começaram a cuspir-Lhe,
a tapar-Lhe o rosto com um véu
e a dar-Lhe punhadas, dizendo:
R «Adivinha».
N E os guardas davam-Lhe bofetadas.

N Pedro estava em baixo, no pátio,
quando chegou uma das criadas do sumo sacerdote.
Ao vê-lo a aquecer-se, olhou-o de frente e disse-lhe:
R «Tu também estavas com Jesus, o Nazareno».
N Mas ele negou:
R «Não sei nem entendo o que dizes».
N Depois saiu para o vestíbulo e o galo cantou.
A criada, vendo-o de novo, começou a dizer aos presentes:
R «Este é um deles».
N Mas ele negou segunda vez.
Pouco depois, os presentes diziam também a Pedro:
R «Na verdade, tu és deles, pois também és galileu».
N Mas ele começou a dizer imprecações e a jurar:
R «Não conheço esse homem de quem falais».
N E logo o galo cantou pela segunda vez.
Então Pedro lembrou-se do que Jesus lhe tinha dito:
«Antes do galo cantar duas vezes,
três vezes Me negarás».
E desatou a chorar.

N Logo de manhã,
os príncipes dos sacerdotes reuniram-se em conselho,
com os anciãos e os escribas e todo o Sinédrio.
Depois de terem manietado Jesus,
foram entregá-l’O a Pilatos.
Pilatos perguntou-Lhe:
R «Tu és o Rei dos judeus?»
N Jesus respondeu:
J «É como dizes».
N E os príncipes dos sacerdotes
faziam muitas acusações contra Ele.
Pilatos interrogou-O de novo:
R «Não respondes nada? Vê de quantas coisas Te acusam».
N Mas Jesus nada respondeu,
de modo que Pilatos estava admirado.
N Pela festa da Páscoa,
Pilatos costumava soltar-lhes um preso à sua escolha.
Havia um, chamado Barrabás, preso com os insurrectos,
que numa revolta tinham cometido um assassínio.
A multidão, subindo,
começou a pedir o que era costume conceder-lhes.
Pilatos respondeu:
R «Quereis que vos solte o Rei dos judeus?»
N Ele sabia que os príncipes dos sacerdotes
O tinham entregado por inveja.
Entretanto, os príncipes dos sacerdotes incitaram a multidão
a pedir que lhes soltasse antes Barrabás.
Pilatos, tomando de novo a palavra, perguntou-lhes:
R «Então, que hei-de fazer d’Aquele
que chamais o Rei dos judeus?»
N Eles gritaram de novo:
R «Crucifica-O!».
N Pilatos insistiu:
R «Que mal fez Ele?»
N Mas eles gritaram ainda mais:
R «Crucifica-O!».
N Então Pilatos, querendo contentar a multidão,
soltou-lhes Barrabás
e, depois de ter mandado açoitar Jesus,
entregou-O para ser crucificado.
Os soldados levaram-n’O para dentro do palácio,
que era o pretório,
e convocaram toda a coorte.
Revestiram-n’O com um mando de púrpura
e puseram-Lhe na cabeça uma coroa de espinhos
que haviam tecido.
Depois começaram a saudá-l’O:
R «Salvé, Rei dos judeus!»
N Batiam-lhe na cabeça com uma cana, cuspiam-Lhe
e, dobrando os joelhos, prostravam-se diante d’Ele.
Depois de O terem escarnecido,
tiraram-Lhe o manto de púrpura
e vestiram-Lhe as suas roupas.
Em seguida levaram-n’O dali para O crucificarem.
N Requisitaram, para Lhe levar a cruz,
um homem que passava, vindo do campo,
Simão de Cirene, pai de Alexandre e Rufo.
E levaram Jesus ao lugar do Gólgota,
quer dizer, lugar do Calvário.
Queriam dar-Lhe vinho misturado com mirra,
mas Ele não o quis beber.
Depois crucificaram-n’O.
E repartiram entre si as suas vestes,
tirando-as à sorte, para verem o que levaria cada um.
Eram nove horas da manhã quando O crucificaram.
O letreiro que indicava a causa da condenação tinha escrito:
«Rei dos Judeus».
Crucificaram com Ele dois salteadores,
um à direita e outro à esquerda.
Os que passavam insultavam-n’O
e abanavam a cabeça, dizendo:
R «Tu que destruías o templo e o reedificavas em três dias,
salva-Te a Ti mesmo e desce da cruz».
N Os príncipes dos sacerdotes e os escribas
troçavam uns com os outros, dizendo:
R «Salvou os outros e não pode salvar-se a Si mesmo!
Esse Messias, o Rei de Israel, desça agora da cruz,
para nós vermos e acreditarmos».
N Até os que estavam crucificados com ele o injuriavam.
Quando chegou o meio-dia,
as trevas envolveram toda a terra até às três horas da tarde.
E às três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte:
J «Eloí, Eloí, lamá sabachtháni?»
N que quer dizer:
«Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?»
N Alguns dos presentes, ouvindo isto, disseram:
R «Está a chamar por Elias».
N Alguém correu a embeber uma esponja em vinagre
e, pondo-a na ponta duma cana, deu-Lhe a beber e disse:
R «Deixa ver se Elias vem tirá-l’O dali».
N Então Jesus, soltando um grande brado, expirou.
N O véu do templo rasgou-se em duas partes de alto a baixo.
O centurião que estava em frente de Jesus,
ao vê-l’O expirar daquela maneira, exclamou:
R «Na verdade, este homem era Filho de Deus».
N Estavam também ali umas mulheres a observar de longe,
entre elas Maria Madalena,
Maria, mãe de Tiago e de José, e Salomé,
que acompanhavam e serviam Jesus,
quando estava na Galileia,
e muitas outras que tinham subido com ele a Jerusalém.
Ao cair da tarde
– visto ser a Preparação, isto é, a véspera do sábado –
José de Arimateia, ilustre membro do Sinédrio,
que também esperava o reino de Deus,
foi corajosamente à presença de Pilatos
e pediu-lhe o corpo de Jesus.
Pilatos ficou admirado de Ele já estar morto
e, mandando chamar o centurião,
ordenou que o corpo fosse entregue e José.
José comprou um lençol,
desceu o corpo de Jesus e envolveu-O no lençol;
depois depositou-O num sepulcro escavado na rocha
e rolou uma pedra para a entrada do sepulcro.
Entretanto, Maria Madalena e Maria, mãe de José,
observavam onde Jesus tinha sido depositado.

AMBIENTE
Marcos procura, no seu Evangelho, apresentar a figura de Jesus de acordo com duas grandes coordenadas. Uma, desenvolvida na primeira parte do Evangelho, apresenta Jesus como o Messias, enviado por Deus aos homens para lhes propor o Reino (cf. Mc 1,14-8,30); outra, tratada na segunda parte do Evangelho, apresenta Jesus como o Filho de Deus, que para cumprir a missão que o Pai lhe confiou tem de passar pela morte, mas a quem Deus ressuscitará (cf. Mc 8,31-16,8).
A leitura que hoje nos é proposta é o relato da paixão de Jesus. O relato, inegavelmente fundamentado em acontecimentos concretos, não é uma simples reportagem jornalística da condenação à morte de um inocente; mas é, sobretudo, uma catequese destinada a apresentar Jesus como o Filho de Deus que aceita cumprir o projecto do Pai, mesmo quando esse projeto passa por um destino de cruz. Marcos pretende que os crentes a quem a catequese se destina concluam, como o centurião romano que testemunha a paixão e morte de Jesus: “na verdade, este homem era Filho de Deus” (Mc 15,39). Fica assim demonstrada a tese que Marcos, desde o início do Evangelho (cf. Mc 1,1), se propôs apresentar: Jesus, o Messias, é o Filho de Deus.
Betânia, o cenáculo, o Getsemani, o palácio do sumo-sacerdote, o pretório romano, o Gólgota e o túmulo são os cenários onde se desenrola a ação e onde vai sendo demonstrada a filiação divina de Jesus.

MENSAGEM
A morte de Jesus tem de ser entendida no contexto daquilo que foi a sua vida. Desde cedo, Jesus apercebeu-Se de que o Pai O chamava a uma missão: anunciar esse mundo novo, de justiça, de paz e de amor para todos os homens. Para concretizar este projecto, Jesus passou pelos caminhos da Palestina “fazendo o bem” e anunciando a proximidade de um mundo novo, de vida, de liberdade, de paz e de amor para todos. Ensinou que Deus era amor e que não excluía ninguém, nem mesmo os pecadores; ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos não deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados por Deus; ensinou que eram os pobres e os excluídos os preferidos de Deus e aqueles que tinham um coração mais disponível para acolher o “Reino”; e avisou os “ricos” (os poderosos, os instalados) de que o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, o fechamento só podiam conduzir à morte.
O projeto libertador de Jesus entrou em choque – como era inevitável – com a atmosfera de egoísmo, de má vontade, de opressão que dominava o mundo. As autoridades políticas e religiosas sentiram-se incomodadas com a denúncia de Jesus: não estavam dispostas a renunciar a esses mecanismos que lhes asseguravam poder, influência, domínio, privilégios; não estavam dispostas a arriscar, a desinstalar-se e a aceitar a conversão proposta por Jesus. Por isso, prenderam Jesus, julgaram-n’O, condenaram-n’O e pregaram-n’O numa cruz.
A morte de Jesus é a consequência lógica do anúncio do “Reino”: resultou das tensões e resistências que a proposta do “Reino” provocou entre os que dominavam o mundo.
Podemos, também, dizer que a morte de Jesus é o culminar da sua vida; é a afirmação última, porém mais radical e mais verdadeira (porque marcada com sangue), daquilo que Jesus pregou com palavras e com gestos: o amor, o dom total, o serviço.
Na cruz, vemos aparecer o Homem Novo, o protótipo do homem que ama radicalmente e que faz da sua vida um dom para todos. Porque ama, este Homem Novo vai assumir como missão a luta contra o pecado – isto é, contra todas as causas objectivas que geram medo, injustiça, sofrimento, exploração e morte. Assim, a cruz mantém o dinamismo de um mundo novo – o dinamismo do “Reino”.
No relato da Paixão na versão de Marcos, não difere substancialmente das versões de Mateus e de Lucas; no entanto, há algumas coordenadas que Marcos sublinha especialmente. De entre elas, destacamos:

1. Ao longo de todo o processo, Jesus manifesta uma grande serenidade, uma grande dignidade e uma total conformação com aquilo que se está a passar. Não se trata de passividade ou de inconsciência, mas de aceitação serena de um caminho que Ele sabe que passa pela cruz. Marcos sugere, desta forma, que Jesus está perfeitamente conformado com o projecto do Pai e que a sua vontade é cumprir fiel e integralmente o plano de Deus, sem objecções ou resistências de qualquer espécie. Esta “dignidade” de Jesus diante do processo que as autoridades religiosas e políticas lhe movem é atestada em várias cenas:
* Mateus e Lucas põem Jesus a interpelar directamente Judas, quando este o entrega no monte das Oliveiras (cf. Mt 26,50; Lc 22,48); mas na narração de Marcos, Jesus mantém-se silencioso e cheio de dignidade diante da traição do discípulo (cf. Mc 14,45-46), sem observações ou recriminações.
* Mateus põe Jesus a desautorizar Pedro quando este fere um servo do sumo-sacerdote cortando-lhe uma orelha (cf. Mt 26,52) e, na narração de Lucas, Jesus pede aos discípulos que deixem atuar os seus sequestradores (cf. Lc 22,51); mas Marcos não apresenta, no mesmo episódio, qualquer reação de Jesus (cf. Mc 14,47). Marcos apenas acrescenta que a prisão de Jesus acontece para que se cumpram as Escrituras (cf. Mc 14,49).
 No tribunal judaico, quando interrogado pelo sumo-sacerdote acerca das acusações que lhe eram feitas, Jesus manteve um silêncio solene e digno (cf. Mc 14,61a), recusando defender-Se das acusações dos seus detratores.

2. Uma das teses fundamentais do Evangelho de Marcos é que Jesus é o Filho de Deus (cf. Mc 1,1). Esta ideia também está bem presente, bem sublinhada, bem desenvolvida, no relato da Paixão:
*No jardim das Oliveiras, pouco antes de ser preso, Jesus dirige-Se a Deus (cf. Mc 14,36) e chama-Lhe “Abba” (“paizinho”, “papá”). Esta apalavra não era usada nas orações hebraicas como invocação de Deus; mas era usada na intimidade familiar e expressava a grande proximidade entre um filho e o seu pai. Para a psicologia judaica, teria sido um sinal de irreverência usar uma palavra tão familiar para se dirigir a Deus. O facto de Jesus usar esta palavra, revela a comunhão que havia entre Jesus e o Pai e revela uma relação marcada pela simplicidade, pela intimidade, pela total confiança.
* Apesar do silêncio digno de Jesus durante o interrogatório no palácio do sumo-sacerdote, há um momento em que Jesus não hesita em esclarecer as coisas e em deixar clara a sua divindade. Quando o sumo-sacerdote Lhe perguntou diretamente se Ele era “o Messias, o Filho de Deus bendito” (Mc 14,61b), Jesus respondeu, sem subterfúgios: “Eu sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo-poderoso e vir sobre as nuvens do céu” (Mc 14,62). A expressão “eu sou” (“egô eimi”) leva-nos ao nome de Deus no Antigo Testamento (“eu sou aquele que sou” - Ex 3,14)… É, na perspectiva do nosso evangelista, a afirmação inequívoca da dignidade divina de Jesus. A referência ao “sentar-se à direita do Todo-poderoso” e ao “vir sobre as nuvens” sublinha, também, a dignidade divina de Jesus, que um dia aparecerá no lugar de Deus, como juiz soberano da humanidade inteira. O sumo-sacerdote percebe perfeitamente o alcance da afirmação de Jesus (Ele está a arrogar-Se a condição de Filho de Deus e a prerrogativa divina por excelência – a de juiz universal); por isso, manifesta a sua indignação rasgando as vestes e condenando Jesus como blasfemo.
* Marcos põe um centurião romano a dizer, junto da cruz de Jesus: “na verdade, este homem era Filho de Deus” (Mc 15,39). Mais do que uma afirmação histórica, esta frase deve ser vista como uma “profissão de fé” que Marcos convida todos os crentes a fazer… Depois de tudo o que foi testemunhado ao longo do Evangelho, em geral, e no relato da paixão, em particular, a conclusão é óbvia: Jesus é mesmo o Filho de Deus que veio ao encontro dos homens para lhes apresentar uma proposta de salvação.

3. Apesar de Filho de Deus, o Jesus de Marcos é também homem e partilha da debilidade e da fragilidade da natureza humana:
* No jardim das Oliveiras, pouco antes de ser preso, o Jesus de Marcos sentiu “pavor” e “angústia” (cf. Mc 14,33), como acontece com qualquer homem diante da morte violenta (Mateus é ligeiramente mais moderado e fala da “tristeza” e da “angústia” de Jesus – cf. Mt 26,37; e Lucas evita fazer qualquer referência a estes sentimentos que, sublinhando a dimensão humana de Jesus, podiam lançar dúvidas sobre a sua divindade).
* No momento da morte, Jesus reza: “meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste” (Mc 15,34). A “oração” de Jesus é a “oração” de um homem que, como qualquer outro ser humano, experimenta a solidão, o abandono, o sentimento de impotência, a sensação de falhanço… e do fundo do seu drama, não compreende a ausência e a indiferença de Deus.
Não há dúvida: o Jesus apresentado por Marcos é, também, o homem/Jesus que Se solidariza com os homens, que os acompanha nos seus sofrimentos, que experimenta os seus dramas, fragilidades e debilidades.

4. Em todos os relatos da paixão, Jesus aparece a enfrentar sozinho (abandonado pelas multidões e pelos próprios discípulos) o seu destino de morte; mas Marcos sublinha especialmente a solidão de Jesus, nesses momentos dramáticos:
* Lucas põe um anjo a confortar Jesus, no jardim das Oliveiras (cf. Lc 22,43); Marcos não faz qualquer referência a esse momento de “consolação.
* Mateus conta que a mulher de Pilatos intercedeu por Jesus, pedindo ao marido que não se intrometesse “no caso desse justo” (cf. Mt 27,19); Marcos não refere nenhuma interferência deste tipo no processo de Jesus.
* João, além de Pedro, refere a presença de um “outro discípulo conhecido do sumo-sacerdote” no palácio de Anás (Jo 18,15); Marcos, para além de Pedro (que negou Jesus três vezes), nunca refere a presença de qualquer outro dos discípulos.
* Lucas fala na presença de mulheres, ao longo do caminho do calvário, que “batiam no peito e se lamentavam por Ele” (Lc 23,27-31); Marcos também não conhece ninguém que se lamentasse durante o caminho percorrido por Jesus em direcção ao lugar da execução (só após a morte de Jesus, Marcos observa que algumas mulheres que O seguiam e serviam quando estava na Galileia estavam ali a “contemplar de longe” – Mc 15,40-41).
Abandonado pelos discípulos, escarnecido pela multidão, condenado pelos líderes, torturado pelos soldados, Jesus percorre na solidão, no abandono, na indiferença de todos, o seu caminho de morte. O grito final de Jesus na cruz (“meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste” – Mc 15,34) pode ser o início do Salmo 22 (cf. Sal 22,2); mas é, também, expressão dramática dessa solidão que Jesus sente à sua volta.

5. Só Marcos relata o episódio do jovem não identificado que seguia Jesus envolto apenas num lençol e que fugiu nu quando os guardas o tentaram agarrar (cf. Mc 14,51-52). Para alguns comentadores do Evangelho segundo Marcos, o jovem em causa poderia ser o próprio evangelista… Trata-se, no entanto, de uma simples conjectura.
É mais provável que o episódio tenha sido introduzido por Marcos para representar plasticamente a atitude dos discípulos que, desiludidos e amedrontados diante do falhanço do projecto em que acreditaram, largaram tudo quando viram o seu líder ser preso e fugiram sem olhar para trás. 

ATUALIZAÇÃO
• Celebrar a paixão e a morte de Jesus é abismar-se na contemplação de um Deus a quem o amor tornou frágil… Por amor, Ele veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites e fragilidades, experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu a mordedura das tentações, experimentou a angústia e o pavor diante da morte; e, estendido no chão, esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado, incompreendido, continuou a amar. Desse amor resultou vida plena, que Ele quis repartir connosco “até ao fim dos tempos”: esta é a mais espantosa história de amor que é possível contar; ela é a boa notícia que enche de alegria o coração dos crentes.
• Contemplar a cruz onde se manifesta o amor e a entrega de Jesus significa assumir a mesma atitude que Ele assumiu e solidarizar-Se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que sofrem violência, os que são explorados, os que são excluídos, os que são privados de direitos e de dignidade… Olhar a cruz de Jesus significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de estruturas, valores, práticas, ideologias; significa evitar que os homens continuem a crucificar outros homens; significa aprender com Jesus a entregar a vida por amor… Viver deste jeito pode conduzir à morte; mas o cristão sabe que amar como Jesus é viver a partir de uma dinâmica que a morte não pode vencer: o amor gera vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos da ressurreição.
• Um dos elementos mais destacados no relato marciano da paixão é a forma como Jesus Se comporta ao longo de todo o processo que conduz à sua morte… Ele nunca Se descontrola, nunca recua, nunca resiste, mas mantém-Se sempre sereno e digno, enfrentando o seu destino de cruz. Tal não significa que Jesus seja um herói inconsciente a quem o sofrimento e a morte não assustam, ou que Ele Se coloque na pele de um fraco que desistiu de lutar e que aceita passivamente aquilo que os outros Lhe impõem… A atitude de Jesus é a atitude de quem sabe que o Pai Lhe confiou uma missão e está decidido a cumprir essa missão, custe o que custar. Temos a mesma disponibilidade de Jesus para escutar os desafios de Deus e a mesma determinação de Jesus em concretizar esses desafios no mundo?
• A “angústia” e o “pavor” de Jesus diante da morte, o seu lamento pela solidão e pelo abandono, tornam-n’O muito “humano”, muito próximo das nossas debilidades e fragilidades. Dessa forma, é mais fácil identificarmo-nos com Ele, confiar n’Ele, segui-l’O no seu caminho do amor e da entrega. A humanidade de Jesus mostra-nos, também, que o caminho da obediência ao Pai não é um caminho impossível, reservado a super-heróis ou a deuses, mas é um caminho de homens frágeis, chamados por Deus a percorrerem, com esforço, o caminho que conduz à vida definitiva.
• A solidão de Jesus diante do sofrimento e da morte anuncia já a solidão do discípulo que percorre o caminho da cruz. Quando o discípulo procura cumprir o projeto de Deus, recusa os valores do mundo, enfrenta as forças da opressão e da morte, recebe a indiferença e o desprezo do mundo e tem de percorrer o seu caminho na mais dramática solidão. O discípulo tem de saber, no entanto, que o caminho da cruz, apesar de difícil, doloroso e solitário, não é um caminho de fracasso e de morte, mas é um caminho de libertação e de vida plena.
• A figura do jovem que, no jardim das Oliveiras, deixou o lençol que o cobria nas mãos dos soldados e fugiu pode ser figura do discípulo que, amedrontado e desiludido, abandonou Jesus. Já alguma vez víramos as costas a Jesus e ao seu projecto, seduzidos por outras propostas? O que é que nos impede, por vezes, de nos mantermos fiéis ao projeto de Jesus?


ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DOMINGO DE RAMOS
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo de Ramos, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. BILHETE DE EVANGELHO.
Quantas vezes a multidão estava perto de Jesus! Para O escutar, para beneficiar dos seus gestos, para cruzar o seu olhar, para aprender a rezar… A mesma multidão estende os mantos ou os ramos à passagem de Jesus e grita: “Hossana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o Reino que vem! Hossana no mais alto dos céus!” Sabiam o que diziam, todos estes pobres que esperavam o Messias? Estavam prontos a reconhecer ainda como Rei aquele que teria como trono uma cruz e como coroa uma coroa de espinhos? O seu grito era uma aclamação, alguns dias mais tarde o seu grito será uma condenação: “Crucifica-O!” Chegou o tempo do silêncio que permite acolher o mistério, o mistério do Amor.

3. À ECUTA DA PALAVRA.
O grito na cruz… A multidão é versátil. Basta um orientador hábil para manipulá-la em qualquer sentido, o melhor e o pior. Houve o melhor, para Jesus, aquando da sua entrada em Jerusalém. Houve o pior, quando a multidão gritou: “Crucifica-O!” Pregado na cruz, Jesus gritará com uma voz forte: “Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?” É o início de um salmo, que termina com um cântico de esperança e de louvor. Então, diz-se, Jesus crucificado rezou todo este salmo. O seu grito não foi um grito de desespero. Foi o grito que os evangelistas retiveram e os assistentes (os Judeus, porque os soldados romanos não conheciam os salmos) compreenderam que Jesus chamava o profeta Elias em seu socorro. Eles não fizeram expressamente a ligação com o salmo. Em Jesus, é o Filho eterno do Pai que se fez homem, “em tudo semelhante aos seus irmãos, excepto o pecado”. Ele veio habitar o todo do humano. Era preciso que Jesus fosse até ao fim do caminho real dos homens: até à morte física, mas primeiro até à noite interior, onde não existe mais nada. Onde o silêncio de Deus parece ser a única resposta. Senão, os desesperos dos homens teriam escapado à presença de Deus. Eis porque, hoje, eu posso ir até Jesus com as minhas mais profundas obscuridades: Ele é capaz de vir com a sua presença, para que seja a vida, e não a morte, a vencer definitivamente!

4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…
Que esta semana seja “santa”… fixar alguns momentos precisos. É prudente, na vida trepidante que levamos, reservar na nossa agenda alguns encontros precisos que desejamos ter com o Senhor: em cada dia, viver com Ele um momento de oração, de meditação, de adoração; fixar as celebrações nas quais poderemos participar; prever a serviços a prestar, as visitas, etc. Que a semana seja “santa” nos momentos quotidianos de encontro com Jesus Cristo!


UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
scj.lu@netcabo.pt – www.ecclesia.pt/dehonianos

VÍDEO: TESTEMUNHO DE VIDA



Tony Meléndez

Tony nasceu na Nicarágua, mas vive na cidade de Branson, no Estado do Missouri, Estados Unidos, com sua esposa e dois filhos adotivos.
Devido ao fato de sua mãe ter recebido do médico que a atendia no início da gravidez orientação para tomar Thalidomida, o bebê nasceu sem os dois braços.
Quando ainda pequeno, Tony via seu pai, já morando nos Estados Unidos, tocar violão e sentia vontade de poder tocar também. Mas, sem os braços... Até que num certo dia seu pai, para matar a vontade do filho, colocou o violão no chão e mandou Tony lavar os pés.
No início eram apenas sons desarticulados, como aqueles que as crianças fazem com um instrumento musical. No entanto, devido ao seu interesse contínuo, começou a desenvolver maior destreza com os dedos – que já exercitava para escrever ou desenhar – e aos poucos conseguiu encontrar o caminho das notas musicais, tentando reproduzir sons de músicas conhecidas.
Nunca deixou que sua condição física o desanimasse e, com o incentivo de sua mãe durante o dia, de seu pai e irmãos à noite, com muito esforço e com a prática, aprendeu a usar o violão com maestria.
Foi também na escola ginasial que se envolveu profundamente na Igreja Católica. "Ia quando era pequeno porque os meus pais me levavam. Afastei-me quando me tornei um bocadinho mais velho. Quando estava no ginásio o meu irmão não parava de insistir para que eu fosse. Então voltei a ir e fiz muitos amigos. Iniciou-se uma transformação na sua vida.
Católicos que eram, os Meléndez iam à missa aos domingos e Tony começou a tocar algumas músicas para acompanhar cantos religiosos.
E foi depois de vários anos de muita persistência e de tentativas solitárias, que Tony começou a experimentar sua voz.
Durante algum tempo considerou a hipótese de se tornar padre mas não podia porque os padres necessitavam de ter um dedo polegar e um indicador. Isso desapontou-o mas perseverou nas atividades da igreja, usando os seus talentos de guitarrista e compositor nas missas e em eventos relacionados com a igreja. Os pedidos para o ouvir aumentaram tanto que chegou ao ponto dele dirigir e tocar em grupos corais até cerca de cinco missas por domingo.
Numa dessas ocasiões em que tocava e cantava na igreja de seu bairro, já em 1987, Tony foi observado por alguém que trabalhava na organização de programas para a visita do Papa João Paulo II a Los Angeles. E foi selecionado para cantar ao Papa no encontro com jovens, acompanhado pelo seu Conjunto musical, uma tocante canção intitulada “Never Be the Same” (Nunca Ser o Mesmo).
O que aconteceu na oportunidade, naquele dia 15 de setembro de 1987, comoveu o mundo todo, pois, terminada a apresentação perfeita, vivamente aplaudida por jovens ali presentes aos milhares, o Papa não se conteve. Desceu de sua poltrona elevada, foi até Tony e beijou-o no rosto, muito comovido. E voltando para seu posto, dirigiu palavras encorajadoras a Tony. Daquele momento em diante Tony não tem descansado, pois tem viajado com sua “banda” pelos Estados Unidos e em mais de 30 países, ao redor do mundo, levando consigo sua música e seu testemunho de vida e de fé.