Histórico

A Paróquia Santo André, foi desmembrada da Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição, fundada em 20 de junho de 1971, tem como padroeiro o Apóstolo André, santo que a Igreja celebra sua memória no dia 30 de novembro, data de seu martírio. No dia 30 de novembro de 2014, Dom Redovino Rizzardo elevou à qualidade de paróquia, nomeando o primeiro pároco, o Padre Otair Nicoletti. A equipe de Coordenação do Conselho Comunitário de Pastoral - CCP está formada pelas seguintes pessoas: Coordenação: Laudelino Vieira, Paulo Crippa; Assuntos Econômicos: José Zanetti, Valter Claudino; Secretaria: Marcus Henrique e Naiara Andrade.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

NOTÍCIAS: FREI MATEUS ROTHMANN, 96 ANOS DE VIDA E 59 ANOS DE SACERDOTE


O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem. (Exupèry)

Frei Mateus Rothmann (nome religioso) nasceu na Alemanha, região de Frankfurt, no dia 13 de novembro de 1915, filho de Joseph Rothmann e Perpétua Dehler. Na pia batismal recebeu o nome de Ernest e teve uma irmã e seis irmãos, já falecidos. Bem cedo foi para o seminário, estudando quatro anos na Holanda. Retornando para a Alemanha, fez o noviciado e dois anos de filosofia na Ordem dos Frades Menores (OFM). Mas, em 1939 estourou a guerra e foi convocado para formar as fileiras do exército alemão. Ali, ele permaneceu seis anos, dois dos quais como prisioneiro em Chartres, na França. Neste meio tempo conseguiu fazer um ano de Teologia. Um ano antes do fim da guerra conseguiu retornar à Alemanha, graças a um médico católico que atestou que o jovem Ernest estava doente. Em sua terra, primeiro trabalhou na lavoura para ganhar seu sustento e da família. Em seguida, empregou-se na prefeitura municipal por quatro anos, acolhendo os fugitivos da guerra que retornavam à pátria e precisavam de casa. Por influência do irmão mais velho, que ao voltar dos campos de batalha se fez frade franciscano, resolveu também retomar sua caminhada franciscana. Por isso, fez novamente o noviciado em 1949 e depois mais três anos de Teologia. 
Em 19 de julho de 1953 recebia a ordenação sacerdotal. Ficou um ano na Alemanha e depois veio para o Brasil, numa viagem de navio que durou uns doze dias. Inicialmente passou oito meses em Gaspar – SC para aprender o português, mas de nada lhe serviu pois, todos lá falavam alemão. 
Em 1955, transferido para Cuiabá, onde permaneceu por dois anos. Já em 1957, o missionário Frei Mateus chegava para trabalhar na imensa paróquia de Rosário Oeste, perfazia longos percursos no lombo do cavalo, em viagens que duravam de 15 a 20 dias para atendimento religioso em fazendas e comunidades rurais. Transferido para Paranaíba (hoje MS), em 1960, porém durante dez dias por mês precisava cuidar da paróquia de Cassilãndia, distante 90 Km. No ano seguinte, assumiu a Catedral de Dourados ficando até 1964. Em março deste ano, é criada a paróquia Senhor Bom Jesus em Caarapó e Frei Mateus é nomeado seu primeiro pároco, ficando até 1966, retornando em 1969 permanecendo até 1981, quando teve que ausentar-se para tratamento de saúde, devido a um enfarte. No início da década de 80 esteve em Dourados, na Paróquia Imaculada Conceição, trabalhando de 1984 a 1988. Neste tempo Frei Mateus atendeu a Comunidade Santo André, além dos trabalhos espirituais, ajudou a formar a Coordenação do Conselho Comunitário de Pastoral, orientador espiritual da Legião de Maria entre outros trabalhos importantes na vida comunitária. 
Novamente é transferido para Caarapó, lá permaneceu até 1991. Em Caarapó, o hospital municipal da cidade do qual foi o fundador leva o nome de seu onomástico, Hospital São Mateus e de um Centro de Educação Infantil Frei Mateus (antiga creche Frei Mateus), no bairro Vila Planalto.
Após este período, por ordem do superior provincial, designou-o como vigário paroquial na atual paróquia, São José em Itaporã. No município de Itaporã tem desenvolvido seu trabalho missionário com dedicação, amor e zelo para com a comunidade, para com as pessoas, ao angariar fundos e fazer doações para a construção e reformas de capelas, salões paroquiais.
Frei Mateus, com seu jeito sereno, calmo, prestativo, caridoso, um homem de oração, é responsável pela fé de milhares de cristãos,  promovendo a paz e a dignidade humana, sendo o protagonista na construção de uma sociedade justa e solidária por onde passou. Sua vida missionária é um testemunho vivo de serviço a Deus e aos irmãos. Em 2012, completa 97 anos de vida, dia 19 de julho celebra 59 anos de sacerdócio dos quais 58 anos trabalhando na messe brasileira.

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão; 
Onde houver discórdia, que eu leve a união; 
Onde houver dúvida, que eu leve a fé; 
Onde houver erro, que eu leve a verdade; 
Onde houver desespero, que eu leve a esperança; 
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria; 
Onde houver trevas, que eu leve a luz. 
Ó Mestre, Fazei que eu procure mais 
Consolar, que ser consolado; 
compreender, que ser compreendido; 
amar, que ser amado. 
Pois, é dando que se recebe, 
é perdoando que se é perdoado, 
e é morrendo que se vive para a vida eterna.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

NOTÍCIAS: VEM AI A 2ª MISSA SERTANEJA

No último domingo, dia 29 de de julho, às 19 horas acontece na Igreja Santo André, a 2ª Missa Sertaneja. A presença de Deus é visível em todos os instantes da nossa vida. Isso é notório nos nossos afazeres do sertão. A natureza e as criações são sinais do Deus criado
Missa Sertaneja é uma celebração de Ação de Graças pelas maravilhas do amor desse Pai. Por outro lado, é um resgate da cultura do sertão. Nossos pais ou avós são de origem rural. Muitos de nós fomos criados em sítios, chácaras ou fazendas. É um modo de unir a cultura especial de nosso Estado com a fé que Deus nos deu. A data escolhida é o domingo mais próximo do dia do agricultor (28 de julho) e encerrando as festas populares do mês de junho (Santo Antonio, São João e São Pedro).
No ano passado quem presidiu a celebração foi o padre Benedito (foto 1), que na época trabalhava na paróquia, com seu modo de ser, falar próprio de uma homem do interior paulista, que viveu no campo. Cada participante estão sendo convidado a também levar um prato de comida típica para que ao final da celebração todos possam se confraternizar no salão de festa.


Clique abaixo e assista ao vídeo da 1ª Missa em 2011

NOTÍCIAS: FESTA JULINA DA COMUNIDADE SANTO ANDRÉ

Acontece neste sábado, 14 de julho, a partir da 19 horas a já tradicional Festa Julina da Comunidade Santo André. Com barracas de pastel, bebidas, bolos, pescaria, quadrilha, bingo... 

Anos atrás a festa começou com objetivo de congregar as famílias das crianças que frequentam a catequese, com o passar dos anos a festa julina tornou-se a festa da comunidade.
Rua Ediberto Celestino de Oliveira, esquina com a rua Pedro Rigotti, Jardim Santo André.
Participem!

NOTÍCIAS: MISSA NOS SETORES NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS E MÃE RAINHA

Quem não evangeliza precisa urgentemente ser evangelizado...
Na terça-feira, 10 de julho, às 19 horas o padre responsável pelas Pequenas Comunidades Cristãs na Forania Oeste de Dourados, Antonio P. de Souza (Padre Toninho), da Milicia Imaculada, pároco da paróquia Sagrado Coração de Jesus, Parque Alvorada esteve na residência do casal Elizeu e Alice Sanabria, para presidir a celebração eucarística no setor Nossa Senhor das Graças. Neste mesmo horário acontecia também a Eucaristia no setor Mãe Rainha, na casa da família do senhor Oliveira e Geni, presidida pelo pároco Padre Rubens. Os bispos da América Latina afirmaram que sem uma participação ativa na celebração eucarística dominical e nas festas de preceito, não existirá um discípulo missionário maduro. As Pequenas Comunidades Cristãs (grupos de reflexão, círculos bíblicos) é uma das prioridades da diocese, paróquia e da Comunidade Santo André, portanto todos os organismos da comunidade, coordenações de pastorais, sacerdotes não podem deixar de dedicar tempo, meios e recursos para a concretização desta prioridade na paróquia. Na comunidade Santo André há em torno de 13 grupos, divididos em quatro setores: Nossa Senhora das Graças, Mãe Rainha, Sagrada Família e Rainha da Paz.
Jesus disse aos discípulos: "A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos!" Por isso, peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita". (Mt 9,38)




terça-feira, 10 de julho de 2012

ENTREVISTA: A DESAFEIÇÃO RELIGIOSA DE JOVENS E ADOLESCENTES

"15 milhões de pessoas que se dizem sem religião, para mim, é o dado que desperta curiosidade”, afirma o sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira.


Por Patricia Fachin e Luana Nyland - Quinta, 05 de julho de 2012


A "insatisfação do fiel com os serviços oferecidos pela sua igreja” é, na avaliação do sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, a primeira explicação para entender os dados do censo 2010, que demonstram um declínio no número de membros das igrejas católica, luterana, presbiteriana e metodista. Segundo ele, trata-se de "uma crise das religiões tradicionais”.
Diante deste dado, Oliveira menciona que há um "problema geracional”, porque na década passada havia mais católicos com idade de zero a 29 anos do que hoje. Isso significa que as "crianças e os jovens estão deixando de ser católicos”. Se isso se mantiver, assegura, "no censo de 2020 a diminuição será maior ainda, porque vão morrendo os velhos, e as novas gerações estão mais afastadas” das igrejas tradicionais. Por outro lado, este dado não atinge as igrejas pentecostais, que apresentaram um crescimento de fiéis jovens e crianças.
Na avaliação do sociólogo, outro dado interessante é o número de jovens sem religião. "Em termos de projeção, isso é algo a ser pensado. (...) 15 milhões de pessoas que se dizem sem religião, para mim, é o dado que desperta curiosidade”, diz na entrevista a seguir, concedida por telefone para a IHU On-Line. E dispara: "Quando eu comecei a estudar sociologia da religião, tinha como axioma que o brasileiro é religioso, ou seja, todas as religiões são boas, todas levam a Deus, e o que não pode é não ter religião. Hoje, o caso é diferente não. O fato de ter religião não é um indicador de que a pessoa seja boa, assim como o fato de ela não ter religião não significa que ela seja má. Houve uma mudança na cultura brasileira”.
Pedro Ribeiro de Oliveira (foto abaixo) é doutor em Sociologia pela Université Catholique de Louvain, na Bélgica. É professor do PPG em Ciências da Religião da PUC-Minas. Dentre suas obras, destacamos Fé e Política: fundamentos (Aparecida: Ideias & Letras, 2004), Reforçando a rede de uma Igreja missionária (São Paulo: Paulinas, 1997) e Religião e dominação de classe (Petrópolis: Vozes, 1985).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Os dados do censo 2010, divulgados pelo IBGE, demonstram um progressivo declínio do catolicismo no país. Como o senhor interpreta esses dados? O que isso significa?
Pedro Ribeiro de Oliveira Esses dados não estão exatamente relacionados ao proselitismo evangélico, mas sim a uma crise das religiões tradicionais. Ainda não fiz um estudo minucioso dos dados do censo, porém pude perceber que as igrejas tradicionais – católica, luterana, presbiteriana e mesmo a metodista – perderam membros em termos absolutos e não acompanharam o crescimento da população. Uma igreja que me surpreendeu nesse sentido foi a Congregação Cristã do Brasil, que era muito sólida e tinha membros praticantes. Há aí um dado no censo que obriga certa atenção, porque várias igrejas perderam membros, inclusive a Universal do Reino de Deus.
Precisamos ter presente o dado de que a perda de membros atinge várias denominações religiosas. Claro que o proselitismo tem sua importância nesse processo, mas isso ocorre principalmente por causa da insatisfação do fiel com os serviços oferecidos pela sua igreja.
No caso da Igreja Católica, minha hipótese diz respeito ao sacramento. A Igreja Católica foi se tornando, nos últimos 40 anos, mais exigente na realização dos sacramentos. Por exemplo, não se podem batizar crianças se os pais e padrinhos não fizerem um curso, não se pode casar se os noivos não tenham feito a primeira comunhão, ou um curso de noivos – acho tudo isso muito normal. Mas as pessoas deixam de frequentar a igreja por conta das exigências.
IHU On-Line – Qual o significado de o Brasil ainda ser um país majoritariamente católico, considerando que existem os praticantes e não praticantes?
Pedro Ribeiro de Oliveira – Muitos só consideram católicos aqueles que vão à missa e comungam. Entretanto, a tradição católica brasileira nunca foi de seguir tradicionalmente o catolicismo romano. O catolicismo popular tradicional mostra muita reza e pouca missa, muito santo e pouco padre. Essa frase é perfeita. Quer dizer, a tradição católica sempre teve muita devoção aos santos; era uma religião familiar. Praticava-se o catolicismo em casa, com a família, geralmente a materna, e de vez em quando se frequentava a igreja para receber os sacramentos. Quer dizer, trata-se de um católico não praticante do sacramento, mas um católico praticante da devoção aos santos. Um velho teólogo que já morreu dizia: "O padre fala da ignorância religiosa do povo, e o povo também acha que o padre é ignorante na religião, porque não sabe fazer a devoção aos santos”.
Então, o catolicismo tem essa propriedade, é uma religião que comporta muita gente, e diferentes formas de ser católico, inclusive aquela dos não praticantes. De fato, o sacramento fundamental para o católico é o sacramento de entrada na vida, o batismo, e o sacramento de "saída”, que é a missa de sétimo dia. Fora isso, ele se vira muito bem com os santos.
IHU On-Line – Qual é a novidade os dados do censo apontam em relação à religião no Brasil?
Pedro Ribeiro de Oliveira – Uma das novidades diz respeito à idade. Eu tive a curiosidade de sociólogo e comparei os dados de 2000 e 2010. Vi que há um problema geracional. Em 2000, havia mais católicos de zero a 29 anos, do que em 2010. Ou seja, as crianças e os jovens estão deixando de ser católicos. Então, têm mais católicos em 2010 com 30 anos ou mais. Se isso se mantiver, no censo de 2020 a diminuição será maior ainda, porque vão morrendo os velhos, e as novas gerações estão mais afastadas da instituição. É interessante porque isso atinge também o protestantismo de missão, mas não atinge as igrejas pentecostais que, ao contrário, apresentam um crescimento entre os jovens e crianças. Também não atinge os espíritas, que estão crescendo. Outro dado interessante é o crescimento de jovens entre 15 e 19 anos sem religião. As novas gerações brasileiras têm uma forma religiosa muito diferente das antigas gerações. Em termos de projeção, isso é algo a ser pensado.
IHU On-Line – Outro dado do censo é de que a Igreja Universal perdeu 10% dos fiéis. Entretanto, o crescimento das igrejas evangélicas ainda é significativo. Como avalia essa questão? A Igreja Universal tem perdido fiéis para igrejas menores, que são mais flexíveis e aceitam fiéis específicos como jovens, gays?
Pedro Ribeiro de Oliveira – Tenho a impressão de que a Universal é bem aberta e não é uma igreja rígida, mas eu não a conheço suficientemente. Por outro lado, percebe-se o crescimento enorme da Assembleia de Deus, que é um pentecostalismo clássico. Ela já era a maior igreja dos evangélicos, e hoje já tem quase 50% dos evangélicos brasileiros.
O que também existe é essa difícil categoria de igrejas evangélicas não determinadas. O que será evangélica não determinada? Pode ser aquela interpretação da Fundação Getúlio Vargas, de evangélico não praticante, mas também pode ser essas igrejas novas que estão aparecendo por aí, e que eram conhecidas antigamente como igrejas eletrônicas. Não sei. Mas tudo indica a passagem de uma religião a outra: de católico a evangélico tradicional, ou pentecostal tradicional, depois a neopentecostal, depois a pentecostal não determinado e depois os sem religião. A trajetória parece demonstrar essa passagem. Ao que tudo indica, pelos dados de idade, isso vai continuar.
IHU On-Line – A que atribui essa desfiliação religiosa? A religião como instituição está deixando de ser significativa para parte dos brasileiros? Segundo o censo, de 7,28% em 2000 aumentou para 8% em 2010 o número de pessoas sem religião, cerca de 15 milhões.
Pedro Ribeiro de Oliveira – Penso que sim. A religião está deixando de ser significativa. 15 milhões de pessoas que se dizem sem religião, para mim, é o dado que desperta curiosidade. Quando comecei a estudar sociologia da religião, tinha como axioma que o brasileiro é religioso, ou seja, todas as religiões são boas, todas levam a Deus, e o que não pode é não ter religião. Hoje, o caso é diferente. O fato de ter religião não é um indicador de que a pessoa seja boa, assim como o fato de ela não ter religião não significa que ela seja má. Houve uma mudança na cultura brasileira. O que significa exatamente esses sem religião, eu não sei.
Gosto muito de um conceito pouco usado na sociologia, que é o de desafeição religiosa. Ou seja, a pessoa que desafeiçoa já não gosta mais de uma igreja. Quando uma pessoa se identifica no censo como católica, mesmo não praticante, ela está querendo dizer que a sua referência é aquela igreja, às vezes até por conta de uma relação afetiva com a mãe, por exemplo. Tenho impressão de que esse conceito seria central para entendermos os sem religião.
IHU On-Line – Outro dado demonstra que 64% dos pentecostais avançam em segmentos mais vulneráveis da população, nas periferias urbanas, e entre famílias que ganham até um salário mínimo, 28% recebem entre um e três salários, 42% têm ensino fundamental incompleto. A questão econômica também passa a determinar a crença, a religiosidade?
Pedro Ribeiro de Oliveira – Isso é difícil. Sem dúvida, quando se pensa que a religião tem a ver com dar um sentido para a vida, uma das grandes questões, especialmente entre os pobres, é se perguntar: "Será que Deus não gosta de mim?”, ou, "Por que eu sou pobre?”. Nesse sentido, o segmento pentecostal tem uma força grande em termos da difusão da crença, na nossa cultura, da existência dos demônios, ou seja, os demônios, os maus espíritos estão aí. Será que eles estão usando as religiões indígenas, religiões africanas, as religiões celtas que passaram para dentro do catolicismo?
Então, o mundo está cheio de demônios, mas está cheio de deuses também. Por isso, para muitos é bom ter uma religião que seja capaz de expulsar os demônios, porque passam a ter uma vida melhor. Esse discurso é encontrado nas igrejas pentecostais, e isso "pega” bem para pessoas que vivem em uma situação muito difícil, para quem é plausível se dizer que esse mundo é do diabo, que nesse mundo não é bom de viver. Então, precisa-se de uma igreja capaz de "afugentar” o diabo. Essa é a minha explicação para tanto sucesso.
IHU On-Line – O senhor concorda com a crítica de Antônio Flávio Pierucci de que há uma cultura econômica e capitalista entre as igrejas? Quais são as igrejas mais expressivas nesse processo?
Pedro Ribeiro de Oliveira – Não concordo muito. Pierucci era um sociólogo muito inteligente, só que a linha dele era um pouco diferente da minha. Eu não diria que têm religiões que procuram o capitalismo, mas que há religiões que combinam melhor com a cultura capitalista. E de fato, o protestantismo, como demonstra Max Weber, combina bem com o espírito capitalista. Um grande teólogo já dizia: "O catolicismo também tentou se casar com o capitalismo, mas foi um casamento de interesse; não foi de amor”. Eu gosto muito dessa expressão. O catolicismo tem essa dificuldade com o capitalismo. O catolicismo, na sua expressão mais oficial, romana, está muito mais ligado a uma sociedade do tipo medieval e que preza mais a permanência do que a mudança, a evolução e a modernização. O protestante tem uma afinidade de que é preciso mudar, é preciso transformar, é preciso ir adiante. E o católico, quanto menos mexer, melhor será. De modo que essa questão da concorrência, a questão de acumular dinheiro não combina bem com o jeito católico de ser. Combina bem com a tradição protestante, e foi muito bem retomada pelo pentecostalismo. Então, aí sim, eu concordo que há essa afinidade.
IHU On-Line – Que desafios os dados do censo apresentam para a Igreja Católica brasileira?
Pedro Ribeiro de Oliveira – Diante dos dados do censo, fiquei muito curioso, e entrei no site da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, e vi lá uma matéria dizendo que a Igreja está viva. Isso é muito interessante. A matéria informava que aumentou o número de paróquias e o número de padres. Isso é igreja viva? A paróquia é uma instituição medieval que na Idade Média era muito boa, e também foi boa para o mundo rural. Se tivesse aumentado o número de comunidades de padres, aí tudo bem, porque teria aumentado o número de padres presente ao lado do povo. Achar que aumentar o número de paróquias é aumentar a presença da igreja no mundo é um equívoco, no meu entender, de todo tamanho. E o segundo é dizer que a igreja está viva porque aumentou o número de padres. A igreja está mais clerical, porque aumentou o número de padres, mas o número de padres não representa a vitalidade para a igreja. A vitalidade da igreja sempre foi a atividade dos leigos.
Tenho impressão de que a reação oficial da Igreja Católica, pelo menos nas matérias que pude ver, é um grande equívoco em termos sociológicos, ou seja, é ainda pensar em um modelo de igreja do Concílio de Trento. A força da Igreja, de qualquer igreja, está no que os protestantes chamam de congregar, ou seja, juntar pessoas que possam participar e sentir-se igreja. Creio que a experiência mais bem sucedida na Igreja Católica foram as Comunidades Eclesiais de Base, seguida dos grupos de oração, grupos de pastorais, que hoje chamam de novas comunidades. Esses programas buscam juntar pessoas leigas que se reúnem, celebram, leem a Bíblia para, a partir disso, influenciar no mundo. Aí está a força de uma igreja, a força pentecostal. A força pentecostal das igrejas evangélicas não é o número de pastores, mas o número de obreiros, que são pessoas leigas, que têm um entusiasmo pela religião.
Trata-se da força de expandir da igreja para o mundo. Isso quer dizer: uma igreja é forte quando tem grupos de leigos que se reúnem para atuar no mundo. Hoje o que vemos é a força de atrair para dentro, ou seja, o bom católico é aquele que está na igreja. Isso aí é o definhamento da instituição. Na hora que os responsáveis pela igreja no Brasil levarem a sério esses dados geracionais, ou seja, a desafeição religiosa de jovens e adolescentes, espero que deem um recado a essa pastoral maluca que eles têm, que gasta todos os recursos para construir seminário e formar mais padres.
IHU On-Line – Como os dados do censo em relação à religião devem se manifestar na política, considerando as próximas eleições?
Pedro Ribeiro de Oliveira – Esse é um problema, tema para outra entrevista. Mas posso dizer que os partidos políticos se desfiguraram tanto, que agora a eleição passa a ser definida por filiação religiosa, ou entidade religiosa. Muitas pessoas votam num candidato porque ele é presidente do clube de futebol para o qual torcem. Misturam esporte e religião com partidos. Isso é uma pena para a religião, mas é pior ainda para a política. Não sei se os dados do censo serão importantes nas eleições, porque eles podem ser sempre utilizados de uma maneira ou de outra.
Essa identificação do voto político com um candidato religioso funciona em alguns casos, mas nem sempre. Por mais que o pastor diga que para sua congregação religiosa votar em tais candidatos, às vezes isso acontece, às vezes não, porque o critério religioso não determina o voto.

IHU - Unisinos
Instituto Humanitas Unisinos

ELEIÇÕES 2012: CARTILHA FÉ E POLÍTICA

http://www.adital.com.br/arquivos/2012/07/f%C3%A9%20e%20pol%C3%ADtica-%20eunice%20e%20betto.pdf

ARTIGOS: A ORDEM É DELETAR

O verbo deletar entrou definitivamente no vocabulário da língua portuguesa. Os dicionários o traduzem por eliminar, suprimir, excluir, apagar. As palavras como sabemos não são neutras. Nascem, entram em uso e se consolidam num território bem preciso, do ponto de vista social e cultural. Abrem-se como janelas sobre um determinado contexto histórico. São filhas do tempo e do espaço. Todo organismo vivo cria novas células e expele os tecidos necrosados. Sendo a língua um desses organismos vivos, também ela faz brotar novas palavras de seu metabolismo, enquanto outras morrem e desaparecem.
O termo deletar é filho da revolução informática das últimas décadas. Insere-se no universo de um relativismo progressivo onde as certezas cedem espaço às dúvidas, as perguntas substituem as respostas e as referências se diluem como bolhas de sabão. Não há "verdades”, e sim interpretações. De acordo com o filósofo francês François Lyotard, em seu livro A Condição Pós-Moderna, acabaram-se as metalinguagens ou metanarrativas, restando apenas os experimentos e estudos de caso. Na contramão da globalização, o olhar amplo e universal deu lugar à visão localizada, setorizada, especializada. Na medicina, o clínico geral desaparece frente à proliferação dos especialistas.
Vem à tona toda a obra do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, com sua insistência no adjetivo "líquido”. Os títulos de algumas de suas obras são ilustrativos: Modernidade Líquida, Tempos líquidos, Vida Líquida, Medo Líquido, Amor Líquido. Tudo parece derreter-se no oceano do relativismo: contratos, relações interpessoais, valores morais, amizades, instituições, regras... Um exemplo corriqueiro e muito frequente: hoje faço cinquenta novos amigos através da rede social facebook. Trocamos mensagens, fotos e até intimidades. Mas amanhã mesmo, sem maiores explicações, posso deletá-los. Com a mesma rapidez com que os contatei, eu simplesmente os ignoro. Ao invés de um laço sólido e durável, a amizade se converte em um relacionamento líquido, virtual, gasoso... Deletável!
Com o advento dos tempos modernos ou pós-modernos, o universo predominantemente rural da tradição dá lugar ao universo urbano das novidades. Neste último, nada é mais velho do que o jornal de ontem. As notícias ou são simultâneas aos fatos, ou deixam de ter interesse. Os antigos valores e contravalores, passados de geração para geração, são facilmente trocados por novas formas de pensar e de se relacionar. Entram em cena diferentes valores e contravalores, onde a pluralidade e a diversidade tomam o lugar da uniformidade. O tempo, antes marcado pelo sol e a lua, as estações do ano, o plantio e a colheita, o canto do galo ou os sinos da Igreja, agora adquire o ritmo da máquina, do apito do trem. A ciência e a tecnologia imprimiram uma velocidade sem precedentes na produção de mercadorias, inovações e mentalidades.
Torna-se relativamente normal construir e simultaneamente deletar relações de todo tipo. Instala-se progressivamente a ideia de que tudo é descartável: roupas, sapatos, aparelhos domésticos, telefones celulares, televisores, computadores... Mas também amizade, namoro, casamento, profissão, vocação, e assim por diante. Diante de tamanha abundância de coisas e oportunidades, como distinguir o que é essencial do que é secundário? A profusão e pluralidade de pontos de vista podem nivelar tudo por baixo. O experimento ganha força sobre o compromisso de longo prazo. Faz-se uma experiência provisória, se não der certo... Bem, é só deletar e partir para outra! No relacionamento amoroso, por exemplo, o "ficar” substitui o "namorar”, pois este último exige o respeito à alteridade, uma transformação profunda e recíproca, ao passo que o outro representa apenas o uso prazeroso da pessoa em questão.
O conceito de bem-estar pessoal se sobrepõe ao bem-estar social. O engajamento político e social é substituído pela busca do "estar numa boa”. Prevalece o "eu” sobre o "nós”. Os imperativos morais de uma consciência que se sente responsável diante da realidade sociopolítica ou diante da multidão dos pobres cedem o posto ao imperativo da saúde corporal acima de qualquer preço. Multiplicam-se a compra e venda de cosméticos, as academias de ginástica, o culto ao próprio corpo ou às celebridades. Com isso, trocar de partido, de religião, de amigo ou de relacionamento amoroso é quase como trocar de roupa, de sabonete, de shampoo ou de operadora do telefone celular. Busca-se ansiosamente a marca ou grife do momento, mas também elas se perdem na voracidade dos modismos. Tudo se troca, tudo tem vida curta, tudo se deleta... "Tudo que é sólido se desmancha no ar”, afirmava o Manifesto Comunista de Marx e Engels ainda em 1848.
Essa passagem da predominância da tradição ao imperativo da novidade constitui um terreno profundamente ambíguo. Tomemos por exemplo o conceito de liberdade. No mundo da tradição rural e fortemente hierarquizada, a liberdade tem limites convencionais. Desenvolve-se sob a pressão contínua da família, da religião, da moral e da sociedade no seu conjunto. No cenário industrializado e urbano, a liberdade abre novos horizontes. As vielas estreitas se convertem em amplas estradas Mas o caminho largo pode levar aos becos sem saída da violência, da droga, do álcool e da prostituição. Tanto a "liberdade vigiada”, num caso, quanto a "liberdade de fazer o que se quer”, no outro, são extremos que escondem perigos. No primeiro caso, é fácil deletarde uma vez só uma longa e sólida tradição, às vezes adquirida como uma camisa de força. No segundo, é igualmente fácil deletaros laços tênues de relações superficiais e momentâneas. Em geral, tudo o que se engole à força, cedo ou tarde se vomita; mas também é comum vomitar o que se engole com excessiva sofreguidão.
Além disso, num universo pressionado pela observação moral ou moralista de princípios rígidos e hierárquicos, há uma tendência natural ao infantilismo. O indivíduo está mais protegido, sem dúvida, mas tende a manter o cordão umbilical que rege o comportamento. Mantém-se comodamente dentro das normas, dificilmente se arriscando ao novo. Ao invés de ousar, tende a neutralizar-se. Já na atmosfera mais aberta, livre e dinâmica do mundo urbano, o indivíduo sente-se exposto a uma série de riscos e aventuras, mas isso pode levar ao desenvolvimento de uma consciência mais madura. No primeiro caso, digamos, a pessoa nasce revestida pela roupagem protetora da família, do compadrio, da religião, da tradição... Sua identidade não terá grandes sobressaltos. No segundo, a pessoa nasce nua, terá que abrir a própria picada na selva de pedra, a identidade é algo a ser construído passo a passo. Cada um tende a regular-se menos pelas conveniências sociais e mais pelos próprios princípios éticos. Por isso mesmo, apesar dos riscos, os laços tendem a ser mais autênticos.
Mas, na medida em que o universo urbano coloniza gradativamente o mundo rural, em ambos os casos o verbo deletar pode ser acionado: ou para desfazer-se das amarras de um convencionalismo estreito e castrador, ou para exibir-se a cada momento com as novidades de uma sociedade que não pára de fabricá-las. Lojas e farmácias, profusamente iluminadas, expõem uma multidão de objetos e de analgésicos que torna líquido toda forma de comprometimento moral. O desejo, motor implícito ou explícito do comportamento humano, se vê atraído, seduzido, fascinado por todo tipo de apelo e modismo, onde o marketing, a propaganda e a publicidade exercem poderosa influência. Dois estudos de Gilles Lipovetsky poderiam ser chamados aqui em testemunho: A Era do Vazio e O Império do Efêmero, respectivamente sobre o individualismo contemporâneo e a moda e seu destino nas sociedades modernas.
Produzir, comprar, usar, descartar... Eis o círculo de aço que amarra fortemente nossa vontade, nossos projetos e nossos passos. Entramos nele quase sem nos darmos conta, mas, depois de a ele atados, é difícil desvencilhar-se. Mesmo professando o credo da preservação do meio ambiente, hoje em voga, não é fácil libertar-se da ratoeira armada pelo mercado total. Se o enxotamos pela porta, ele entra pela janela ou, mais frequentemente, pela telinha da TV ou da Internet. Para facilitar as coisas, lá está a tecla do deletar.
Pe. Alfredo J. Gonçalves
Assessor das Pastorais Sociais
Fonte: Adital